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Pesquisa busca minimizar efeitos negativos do tratamento de malária
Ciência e Saúde

Pesquisa busca minimizar efeitos negativos do tratamento de malária

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A malária é uma doença que afeta 300 milhões de pessoas e mata um milhão a cada ano (taxa comparável apenas com a aids). Cerca de 3,2 bilhões de pessoas correm risco de serem infectadas pela doença, que está presente em 110 países. É fortemente associada à pobreza, em que as taxas de mortalidade estão mais elevadas nos países com pessoas vivendo abaixo do limite da pobreza (menos de 1,25 dólares por pessoa e por dia). No Brasil, mais de 95% dos casos são na região amazônica.


É acerca desse tema, de forte impacto na sociedade, que desenvolvemos no IFCE campus de Quixadá pesquisas que visam minimizar os efeitos causados pelo tratamento prolongado e doloroso da malária. Assim, trabalhamos com polímeros naturais para formar carreadores de fármacos antimaláricos com o objetivo de prolongar a liberação desses fármacos.


As falhas no tratamento da malária possuem vários fatores, como: a complexidade dos tratamentos implementados, que consistem geralmente em dois ou mais medicamentos, e o baixo índice terapêutico dos antimaláricos. A toxicidade induzida pelo uso da maioria dos fármacos utilizados no tratamento e na profilaxia da malária é outro problema a ser minimizado, para garantir a observância do paciente e assegurar o controle adequado da doença.


Os antimaláricos frequentemente causam efeitos gastrointestinais adversos sem gravidade clínica, mas que irritam o paciente, tais como náuseas e vômitos ou o prurido, comprometendo a adesão do paciente e a eficácia do tratamento adotado. Efeitos mais graves podem ser observados quando o tratamento ocorre em dose única. O principal problema dos fármacos antimaláricos em pacientes é sua concentração terapêutica, que é muito próxima a sua concentração tóxica.


Os polímeros, as moléculas usadas na pesquisa que desenvolvemos, são moléculas com massas molares elevadas. Eles são naturais - extraídos de fontes naturais e são degradados naturalmente. Entres esses polímeros estão a quitosana, o alginato e a goma do chichá. A quitosana é um polímero natural extraído a partir de exoesqueletos de crustáceo, o alginato é um polímero extraído principalmente de algas marrons e a goma do chichá é obtida a partir do exsudato da planta do chichá. O objetivo da pesquisa é juntar esses polímeros e formar um veículo (partícula) que possa levar o fármaco antimalárico até um local específico para sua liberação.


A vantagem para esse tipo de liberação é que o paciente precisa tomar menos doses do que o tratamento convencional, pois a partícula formada pelos polímeros fica liberando o fármaco gradativamente durante um período de tempo. Portanto pacientes que precisam ingerir uma ou duas unidades de dose por dia tem menos chances de esquecer do que quando tomam a medicação três ou quatro vezes ao dia.


Ademais, administra-se numa quantidade menor de fármaco para produzir o mesmo efeito terapêutico que numa forma farmacêutica convencional de maior dose. Outa vantagem é que a concentração do fármaco liberada no organismo fica na faixa terapêutica, uma faixa que o fármaco faz efeito no ser humano. As partículas que servem como veículo para liberação do fármaco podem ser micropartículas, nanopartículas ou membranas. A partir dessas pesquisas foi publicado em 2016 o artigo Chitosan/Sterculia striata polysaccharides nanocomplex as a potentialchloroquine drug release device na revista International Journal of Biological Macromolecules.

 
POR GUILHERME AUGUSTO MAGALHÃES JÚNIOR, professor doutor do Instituto Federal do Ceará Campus de Quixadá

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