Logo O POVO+
Corrente de cuidado para prevenir o suicídio
Ciência e Saúde

Corrente de cuidado para prevenir o suicídio

Desgaste físico e mental de familiares e amigos que convivem com pessoas que têm ideação precisa ser acompanhado
Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

A morte como alternativa aos problemas já foi cogitada por pelo menos metade dos que ali estavam. Contudo, o semblante de medo, incerteza e vigília era comum a todos. Um a um, pacientes entravam nos consultórios do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) para atendimento no Programa de Apoio à Vida (Pravida). Enquanto isso, nos corredores, acompanhantes nem sequer trocavam olhares. Mas estavam ali pela mesma razão: ter na família alguém com ideação suicida.

[SAIBAMAIS]

Entre eles, um casal que se consultava pela primeira vez. Quatro dias antes, a mulher tentou dar fim à própria vida, após um ano do diagnóstico de depressão. O marido conseguiu impedir, porque chegou minutos mais cedo em casa. “É uma situação absurdamente assustadora, porque você tenta se mostrar muito forte, mas fica de mãos atadas. Num instante você acha que está fazendo tudo pela pessoa. No outro, a pessoa chega a esse ato”, desabafou.


Assim como a pessoa que tem ideação suicida, aqueles que têm a vida transformada pela necessidade de cuidar também precisam de acompanhamento. “A família precisa ser bem cuidada, porque existe um viés genético. A própria família que perde uma pessoa pode ser gatilho para outras pessoas (da família) se suicidarem”, explica o coordenador do Pravida, Fábio Gomes de Matos.


Conforme a coordenadora do Laboratório de Relações Interpessoais (Labri), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Susana Kramer, o cuidador é um dos canais — às vezes o único — para que o paciente restabeleça laços sociais. No entanto, ela alerta que os dois podem criar relação codependente. “O esgotamento que ele vive em relação ao nível de vigilância, atenção e culpa precisa ser cuidado. Essas pessoas também precisam retomar os próprios afetos e a capacidade de ver a vida de forma pulsante e vívida”, afirma.


O projeto gerenciado pela psicóloga surgiu da sala de espera do Pravida. Notando as demandas dos acompanhantes, os profissionais passaram a oferecer assistência aos cuidadores. Segundo ela, a intenção é que as relações sejam ressignificadas e a assistência no entorno do paciente ganhe outros elementos. “A relação exclusiva pode tornar um refém do outro. A entrada de uma terceira pessoa é indicativo de saúde”, comenta.


Segundo ela, é preciso promover mudanças na forma como o cuidador enxerga seu familiar ou amigo. “Às vezes, o cuidador fica tão vinculado ao comportamento de vigilância, que ele se esquece de enxergar aquele paciente como alguém que resguarda sonhos, desejos e vontades”. Para ela, é importante que a rede conduza a pessoa com ideação à redescoberta da vida e não se deixe tomar pela depressão e introversão.


Neste domingo,10, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, psicólogos e psicanalistas ouvidos pelo O POVO destacam os sinais para identificar comportamento suicida, indicam como ajudar e reforçam a importância do cuidado com a saúde mental. Profissionais apontam ainda limitações da rede pública para tratar os pacientes.

O que você achou desse conteúdo?