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A ciência na luta contra o câncer
Ciência e Saúde

A ciência na luta contra o câncer

As terapias celulares e imunoterapias têm ajudado o sistema imunológico a destruir células cancerígenas. Vírus modificados geneticamente podem ser decisivos nesse processo
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Tipo Notícia

Usar o próprio sistema imune do paciente com câncer, já treinado para combater organismos que o ataque, para matar células de tumores cancerígenos. Utilizar vírus inativados, como HIV, herpes e, possivelmente, até o zika, para modificar geneticamente glóbulos brancos de defesa e transferir para eles potenciais de multiplicação e destruição contra as células malignas do câncer. Terapia celular, imunoterapia e biologia molecular — tudo isso já é realidade, apesar de ainda custar caro, e representa novas possibilidades para o tratamento de uma das doenças que mais matam no mundo.


“Basicamente, você ensina o sistema imunológico de um indivíduo a lutar especificamente contra um determinado câncer”, resume o hematologista do Hospital Albert Einsten (SP), Nelson Hamerschlak, sobre uma inovação recentemente aprovada nos Estados Unidos: o método chamado CAR-T. Uma forma totalmente individual de tratar o câncer — especificamente a leucemia linfoide aguda (LLA).

[SAIBAMAIS]

Conforme o especialista, o que se comprovou foi que é possível infectar um glóbulo branco conhecido como linfócito T (uma das células de defesa) com um vírus inativado. Esse vírus, modificado geneticamente, faz com que o linfócito produza uma proteína que reconhecerá as células tumorais e as atacará. Isso preservando as células saudáveis.


Sabe-se, por exemplo, que o HIV tem a capacidade de entrar em uma célula, modificar seu genoma e matá-la. Essa lógica, que acaba deixando o indivíduo infectado com depressão de imunidade, é usada neste método de forma benéfica. “Ele infecta você e repassa para dentro dos seus linfócitos a estrutura de genoma dele. E aquilo fica se replicando no organismo. Na terapia celular, você modifica geneticamente o vírus para ele produzir este anticorpo que ataca a célula doente”, detalha o médico.


No caso da LLA, esse anticorpo é um biomarcador, ou seja: uma característica genética do próprio tumor. Ela é incorporada ao vírus e posteriormente ao linfócito T, que poderá, então, reconhecê-la e destruí-la. “A doença precisa ter um alvo. Na LLA, é o CD-19, no mieloma múltiplo (um tipo de câncer dos ossos) é o CD-38”, cita Nelson Hamerschlak.


O método CAR- T se diferencia por sua individualização e potencial de multiplicação no indivíduo, o que aumenta as chances de cura. Mas a terapia celular inclui outros métodos, como a imunoterapia que utiliza o medicamento Blincyto (marca registrada), derivado da molécula blinatomumabe, e já utilizado em pacientes no Ceará. A molécula se liga à célula tumoral e imune do paciente, como uma ponte, fazendo com que o tumor seja destruído pelo sistema imune do próprio paciente.


O Ciência&Saúde de hoje mostra a eficácia de algumas terapias celulares, que têm no mapeamento genético o caminho para atacar os tumores cancerígenos de forma direta, sem prejudicar outras células do corpo. Uma inovação que abre possibilidades até para a utilização do vírus zika contra tumores cerebrais, através de um método chamado terapia oncolítica. Alguns alertas, porém, são feitos pelos especialistas: não há comprovação de eficácia para todos os tipos de câncer, as pesquisas são feitas de forma específica e a indústria farmacêutica ainda está começando a se interessar por tais modelos terapêuticos. O certo é que este é o futuro.

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