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O perigo de lesões e overtraining com o crossfit
Ciência e Saúde

O perigo de lesões e overtraining com o crossfit

Autoconhecimento e consciência corporal são passos importantes para entender o que o corpo está sentindo e seguir com o exercício somente até onde for benéfico
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Compreender os limites do próprio corpo e caminhar por eles com segurança. Essa é a tônica dos conselhos dos especialistas quando o questionamento é como evitar lesões. No entanto, assim como outros esportes de alta intensidade, o crossfit estimula que o praticante busque superar os limites. Demarcados por tempo, os circuitos promovem verdadeiras competições — consigo e entre os alunos, tanto que há campeonatos de crossfit. Levantar mais peso do que o corpo suporta, desrespeitar a sequência de progressões de carga e movimento, esquecer o descanso e não dar atenção aos sinais do corpo são os principais causadores de lesão e overtraining.


Conforme o fisioterapeuta esportivo, Fleury Júnior, as lesões acontecem quando não há acompanhamento adequado do profissional de educação física e quando o praticante, em busca de evolução rápida, não escuta o feedback que o corpo dá. “Ele tem que aprender a dosar isso. Ele até suporta aquela carga, mas ainda não está preparado para executar o movimento com precisão”, explica. Fleury aponta que, com o trabalho integrado de vários grupos musculares, o crossfit pode evidenciar deficiências em determinadas partes do corpo. “Às vezes, o aluno não tem consciência corporal para ativar todos esses grupos da maneira ideal”, diz.

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A coach de crossfit Beatriz Mesquita detalha que a atividade propõe circuito, mas permite adequações, então a intensidade do exercício é relativa. “A maioria dos alunos que se machucam é porque quer ultrapassar as etapas de aprendizado e fortalecimento. A gente incentiva o aluno a ir até o limite, mas o limite de cárdio, pra ele se sentir cansado, não é o limite que extrapole o que a musculatura suporta”.


Entender os próprios limites é, para a advogada Camila Guimarães, 28, um exercício de autoconhecimento e consciência corporal. “Teve momentos que pra eu saber que meu limite era aquele, tive que forçar um pouco mais. Mas assim que percebia, voltava e diminuía o peso. Outro ponto é escutar a dor. Há aquelas dores normais, do exercício, e a dor que foi porque você tentou um peso além. É preciso entender, pra saber o limite e retroceder”, ensina.


Do que tem observado, em seus atendimentos, o médico Ivan Pacheco, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), as lesões mais comuns são em tendões e cartilagem de articulações, nas patelas de joelhos, ombros e na lombar. Quase todas causadas por excesso de peso. Em seu consultório, o fisioterapeuta Fleury relata receber principalmente contraturas de grupos musculares que não estavam adaptados e que muitas vezes são ocasionadas por falta do devido descanso.


Sem estudos científicos consolidados que comparem práticas e lesões por elas causadas, o crossfit acabou ganhando fama de atividade lesiva. Mas, para especialistas o vilão não é o crossfit e, sim, o desrespeito aos próprios limites. “O que vejo no dia a dia é o que acontece com outros exercícios: as pessoas exageram e querem se transformar em super-homens em dois meses. Não li estudos comparando diferentes tipos de exercícios, porque depende das individualidades. O grande segredo é que a pessoa tem de entender que todo ser humano tem limite e os limites são diferentes de pessoa pra pessoa”, aponta Pacheco. Já Fleury pontua que numericamente as lesões de corredores e triatletas não estão tão distantes das dos praticantes de crossfit. (Domitila Andrade)

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