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Mente ativa e boa memória
Ciência e Saúde

Mente ativa e boa memória

Aprender algo novo na terceira idade e fortalecer as funções executoras por meio de smartphones e notebooks conectados à internet auxiliam na manutenção de funções cognitivas e motoras
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O ser humano começa a envelhecer a partir do momento em que nasce, e as perdas neurais são inerentes ao envelhecimento. Há, porém, alguns fatores, como uso continuado de drogas lícitas e ilícitas, traumas e estresse, que podem desencadear processos de severas perdas cognitivas, que é a capacidade que temos de processar as informações que recebemos. “Outro fator é quando não há estímulo externo em trocas sociais e o idoso leva uma vida passiva, sem novos aprendizados. Isso pode levar à atrofia de áreas do cérebro”, detalha a terapeuta ocupacional Lucíola Bonfim.


Conforme a terapeuta, hipocampo (centro de memórias recentes), amígdala cerebral (centro das emoções) e córtex pré-frontal (também ligado à formação de memórias) podem ser afetados e o idoso passa por uma perda progressiva de memória e cognição. Desenvolvendo pesquisas sobre memória há 30 anos, ela diz perceber uma guinada de mudanças com o uso de smartphones.


“Há 20 anos, o que se ouvia eram os familiares ou os próprios idosos dizendo ‘o senhor não consegue’, ‘o senhor não tem mais idade pra aprender’... E não é mais assim. Hoje, sabemos que ele aprende, sim, mas ao seu tempo, porque o envelhecimento faz com que a velocidade de processamento das informações seja menor. Mas se manter conectado é poder estimular para que essas perdas de velocidade retardem”, explica Lucíola.

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Isso acontece porque, ao estar em contato com outras pessoas, ou mesmo se atualizando em sites de pesquisa, ativamos as funções executoras cerebrais e desencadeamos sinapses em zonas de de cognição, memória, foco e atenção: “No momento em que você está digitando, tocando uma tela, mexendo no computador, querendo explorar o mundo, você ativa essas zonas. Além disso, é excelente para a coordenação motora, para o pegar, o tocar. Se, aliado a isso, ele fizer exercícios físicos, será ainda mais positivo”.


Além de “fortalecer os caminhos” dos processos cognitivos, para a neuropsicóloga Amanda Barroso Lima, a tecnologia pode ser aliada de uma estratégia compensatória. “Se o idoso não consegue lembrar o horário do remédio, ele coloca um alarme; se ele tem uma série de afazeres durante o dia, ele pode anotar numa lista com horários e alarmes, por exemplo”, indica.


Para o pedagogo especialista em gerontologia e professor de informática da Universidade Sem Fronteiras (Unisf), Ricardo Temóteo, aprender algo novo e interagir nas redes sociais é uma “ginástica cerebral com exercícios de atenção”: “Depois que ele se vê capaz de aprender, vem a sede de querer se atualizar”.


Mais autonomia

Usuária de smartphones e de notebook há quase cinco anos, a dona de casa Nilza da Silva Lima, 68, coloca na conta da interatividade com a tecnologia a mente ativa e a boa memória. “Os meus médicos me dizem que, pra minha idade, minha memória está muito bem. Sei de cor os oito remédios que tomo, as ordens e a dosagem de cada um. Eles ficam surpresos, porque tem gente que chega no consultório com tudo anotado. Eu digo a eles que é porque eu gosto de ler, assisto filme no YouTube, vejo os sites de notícia”, lista.

 

Seis anos mais nova que o marido, dona Nilza afirma que a memória dela é muito melhor que a dele e brinca: “Eu sei que é porque eu uso Facebook. Digo sempre a ele: ‘venha para o Face’ (risos). Mas ele não tem muita paciência”. Ela enumera outros ganhos para além da boa memória: “Melhorou a ortografia, deu mais autonomia, e ajuda a pensar sozinha”. “Hoje, por exemplo, sei muito bem em quem voto e por quê. E sei opinar sobre qualquer assunto, porque eu já tenho lido alguma coisa, sempre nos sites confiáveis que minha neta me explicou como acesso, pra não entrar vírus no computador e não ficar lendo notícia falsa”, diz.


Há seis anos fazendo os mais diversos cursos na Unisf, o professor de matemática universitário aposentado Antônio Magalhães conta que ainda teve certa resistência ao começar a mexer em smartphones. “Meus primeiros contatos com computador foram ainda na década de 1970, mas com os celulares só me rendi porque vi a necessidade de me atualizar”, justifica. Passada a resistência, Antônio vê os benefícios da interação. “Hoje vejo que faz com que a memória não fique estagnada, você vai se dinamizando. Nosso cérebro é como uma máquina que vai desligando por falta de uso. A informação que chega rápido pelos celulares liga a máquina de novo”, compara. (Domitila Andrade)

 

SAIBA MAIS

 

Pesquisa do Instituto Locomotiva aponta que, nos últimos oito anos, o Brasil ganhou mais de 4 milhões de internautas da terceira idade. Em 2008, eram 364 mil. Em 2016, o País tinha 5,2 milhões de idosos conectados, que movimentam R$ 330 bilhões por ano, o equivalente a 38% do total da renda da população dessa faixa etária. A pesquisa mostra que, para 92% dos idosos internautas, o microcomputador é o principal equipamento de acesso à rede. E 44% preferem o smartphone, enquanto 17% utilizam o tablet e 4%, a TV.

Estudo da Universidade de Brasília (UnB) procurou investigar, em 2009, o que mais atraía os idosos na internet, e revelou: aumento das relações sociais por meio das salas de bate-papo; busca de novas amizades; trocas de receitas e outros conteúdos; namoro; momentos de descontração; e melhoria da autoestima.

Desenvolvida com alunos de informática para a terceira idade da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Católica (PUC-SP), pesquisa mostra que a tecnologia tem impacto positivo na rotina de idosos e aposentados. Ao aprender a navegar na internet, grande parte dos homens e mulheres com mais de 65 anos se comunica mais com filhos e netos, faz novos amigos e se sente estimulado intelectualmente. Mais de 80% dos entrevistados afirmaram que o computador trouxe mudanças positivas em sua vida e 87% disseram que adquiriram novas habilidade.

 

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