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Vice-prefeito de Milagres diz que ofereceu o carro pensando em ajudar vítimas de tragédia
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Vice-prefeito de Milagres diz que ofereceu o carro pensando em ajudar vítimas de tragédia

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Tipo Notícia

Além de vice-prefeito em Milagres, Abraão Sampaio é médico. Ele garante que, diante do cenário de guerra em frente aos bancos naquela madrugada de 7 de dezembro de 2018, era impossível saber se as vítimas estavam vivas no local. Disse que não sabia quem eram as cinco pessoas colocadas pelos PMs na carroceria de sua picape. Nem sabia se estavam vivas. "Hoje eu sei que eram os reféns".

O POVO - A denúncia acusa o senhor de fraude processual.

Abraão Sampaio - Na minha cabeça, o que fiz lá foi ajudar, socorrer. Na hora não imaginei nada no sentido de alterar a cena do crime.

OP - Quando o senhor chegou ao local, os corpos estavam lado a lado na calçada do banco, como se tivessem sido trazidos de outro ponto da cena?

Abraão - Exatamente. Estava um enfileirado atrás do outro, certinho ao lado do outro, encostado na parede do banco. Depois fiquei sabendo que eram os reféns.

OP - O senhor vai sustentar que não houve fraude processual porque a cena já estava alterada?

Abraão - Minha defesa não vai por aí. Suponho que já estava alterada, mas não tenho como provar. O que vou falar é o que estou falando pra você, com a maior inocência do mundo. Estava escutando os estampidos, entrei em contato com o tenente Georges. Ele me falou que era algo acontecendo no corredor bancário, que eu ficasse dentro de casa, só que eu estava muito assustado. Minha esposa, meus filhos, meus pais. Estava na casa do meu pai (a um quarteirão dos bancos). Quando pararam os estampidos, entrei em contato novamente com o tenente e ele me informou que já estava nas imediações dos bancos e que estava tudo sob controle, aparentemente. Na mesma hora, para saber se havia acontecido alguma coisa com algum milagrense, e ali perto tem a lotérica do meu irmão, saí de casa. Eu ia até a pé, mas fui no meu carro.

OP - Quando chegou ao local, o que viu?

Abraão - Avistei o tenente Georges. Vi muita polícia, uma farda diferente, reconheci que não eram de Milagres. Vi que tinha dois reféns encostados lá no Banco do Brasil. Já estavam libertos, estavam com a Polícia.

OP - Eram os parentes da Francisca Edneide (refém morta na ocorrência)?

Abraão - O pai e o irmão da mulher que morreu. Que são de Brejo Santo. Fui até eles, conversei com eles. Foi quando comecei a ver várias vítimas pelo chão. Alguém que era o comandante perguntou quem eu era, o tenente Georges disse que eu era vice-prefeito e médico. Na mesma hora pediram para eu encostar o carro para socorrer o pessoal, levar para o hospital. E eu fiz, só isso. Na mesma hora, já colocamos... colocamos não, eles colocaram as vítimas em cima do meu carro. Hoje eu sei que eram os reféns.

OP - Já estavam mortos?

Abraão - Não tinha como saber. No meu carro foram cinco vítimas, que eram justamente as que estavam enfileiradas.

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