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Como ajudar quem está em um relacionamento abusivo?
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Como ajudar quem está em um relacionamento abusivo?

Rede de apoio
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As consequências de passar por um relacionamento abusivo são inúmeras. Segundo especialistas, uma das patologias mais graves que pode ser desencadeada é a depressão profunda. "São pessoas de todos os níveis socioeconômicos. Ficam deprimidos por não verem uma forma de sair daquela relação", explica Úrsula Malveira Góes, psicóloga do Núcleo de Enfrentamento da Violência Contra a Mulher (Nudem) da Defensoria Pública do Estado do Ceará.

Carol Maia, psicóloga e psicoterapeuta de mulheres, alerta que, para além de todos os sentimentos gerados a partir do "ataque frequente a tudo que é nutritivo na vida", a vítima acumula vergonha, culpa, isolamento. "É como se você fosse murchando a vitalidade daquela pessoa". Os processos depressivos podem ocorrer porque o indivíduo perde a noção de valor de si mesmo.

"Podem ser desenvolvidas fobias, dependendo do tipo de abuso. Ansiedade, porque vai estar em estado de alerta frequente para não cometer erros e não gerar as situações de punição. Vários desdobramentos em termos de saúde psíquica. A pessoa se distancia de quem ela é na essência. Passa a atuar no mundo e existir conforme o que é esperado pelo abusado. Há uma desidentificação", especifica.

Para sair dessa situação, em primeiro lugar, é preciso reconhecer que se está em uma relação abusiva, elenca a psicóloga. Durante o processo, é importante que a vítima possa contar com uma rede de apoio "inclusive para acionar órgãos de proteção se for esse o caso". "A maior dificuldade para sair é a falta de apoio, de receber aquele suporte que te possibilita fazer a transição de forma segura. Existem ameaças físicas, psicológicas, financeiras. O acompanhamento psicológico pode ajudar muito a pessoa a se resgatar".

Kah Dantas, autora do livro "Boca de Cachorro Louco", em que relata as experiências no relacionamento abusivo pelo qual passou, dimensiona a importância de ter com quem contar nesse processo. "O primeiro de tudo é que as pessoas têm de ter paciência. Você não pode largar uma pessoa que passa por um problema assim. Eu tinha muita vergonha de compartilhar e tinha uma amiga que sabia. Ela foi essencial nesse processo, precisava de alguém que segurasse a minha mão. Muitas pessoas acham que você tá ali porque quer. Às vezes, o relacionamento termina e recomeça 60 vezes e a gente precisa de ajuda em todas essas vezes, da família, de amigos".

Conforme Úrsula, a violência doméstica, por ser também uma questão cultural devido ao machismo, pode ser minimizada pela educação de direitos. "A lei veio para trazer equilíbrio para uma diferença. Ela precisa reconhecer o que é seu direito. Também é preciso falar sobre isso. A pessoa saber que aquilo não acontece só com ela. As pessoas têm vergonha de dizer que foram agredidas, que convivem com um agressor. Falar sobre isso é empoderar a mulher de direitos que ela tem. As mulheres precisam saber que têm uma rede de apoio".

Kah considera que compartilhar a própria "história, dramas e violências" é uma oportunidade de tornar outras mulheres mais fortes. "Eu tinha um milhão de razões para não publicar o livro. As pessoas iam julgar minha vida, minhas decisões, as coisas pelo que passei. Uma das melhores coisas é receber de volta as histórias das mulheres. A gente se torna mais forte com as histórias umas das outras. É um espelho. Eu também posso fazer isso, ser feliz de novo. As mulheres precisam saber que o fim de um relacionamento abusivo não é um fim da vida, é um recomeço. A gente encara, sobrevive e torna a viver".

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