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Buracos em ruas e avenidas causam acidentes em Fortaleza
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Buracos em ruas e avenidas causam acidentes em Fortaleza

O problema é recorrente em vários bairros de Fortaleza. Com as chuvas, mesmo vias que passaram por recapeamento recente estão esburacadas
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Bueiro aberto durante semanas na rua Marcos Macedo, na Aldeota (Foto: Mauri Melo)
Foto: Mauri Melo Bueiro aberto durante semanas na rua Marcos Macedo, na Aldeota

Ano após ano, quando chove em Fortaleza, algumas vias da Capital ficam cheias de buracos. Mesmo as ruas e avenidas que acabaram de passar por recapeamento ou reforma não escapam do problema, recorrente em diversos bairros - seja na Aldeota, no Otávio Bonfim, no Itaperi ou na Maraponga.

Emanuel Oliveira, 28, mantém a cautela e reduz a marcha para percorrer o entroncamento das vias Marcos Macedo e Vicente Leite, na Aldeota. Durante semanas, um bueiro estourado atrapalhou o trânsito local. O conserto foi feito, mas ainda faltava a massa asfáltica quando a reportagem esteve no local. "Não é a primeira vez que esse bueiro dá problema, passo sempre por aqui. E isso pode causar até o acidente", comenta.

Os buracos da avenida Bernardo Manuel, no bairro Aeroporto, logo após a descida do viaduto com a avenida Senador Carlos Jereissati, em direção ao Itaperi, estavam "escondidos". A água da chuva cobria as crateras na margem direita da pista. "Há cerca de quatro semanas, a Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) veio e consertou tudo, mas já está assim. Parece sonrisal", diz o borracheiro Francisco Farias Neto, 45, fazendo referência ao medicamento que se desmancha em contato com a água.

Há quem se beneficie. Dono de uma borracharia em frente aos buracos, Neto aumentou os lucros com a venda e troca de pneus para motoristas e motociclistas desavisados. Porém, na semana passada, quase houve um acidente com consequências mais graves. "Teve um motoqueiro que caiu e quase foi atropelado por um caminhão que passava depois dele. É um absurdo um negócio desse. A gente vende mais, mas não vale a pena porque é um risco para a população", diz, apontando para o lixo espalhado na água em boa parte da pista.

Logo à frente, na avenida Silas Munguba com Bernardo Manoel, a situação é similar. Um buraco na pista cresce um pouco a cada semana porque, ali, o trânsito é pesado, com ônibus e caminhões. "Teve carro que passou aqui ligeiro e a roda caiu", lembra o flanelinha Mateus Sales, 25.

A rua José Camelo, no bairro Vila Betânia, foi consertada há cerca de três meses, segundo os moradores. Com as chuvas de agora, a via precisará ser recapeada novamente. Ali, segundo as pessoas que moram no bairro, acidentes se tornaram frequentes. Em uma das colisões, um ônibus bateu na traseira de uma moto e era possível ver as marcas da batida na pista. "Precisam resolver isso urgente, porque não demora para acontecer algo pior", prevê Marcelo Soares, 44. Microempresário dono de um lava a jato, ele fez questão de, com um pedaço de madeira, medir a profundidade de um dos buracos e a água marcou cerca de dois palmos de altura.

A rua 1º de Janeiro começa no Itaperi, vai até a Maraponga e faz parte de um binário - junto às ruas General Antônio Bandeira e avenida Godofredo Maciel. Inaugurada há menos de cinco meses, no dia 19 de dezembro de 2018, a rota deveria fazer fluir o trânsito, mas tem parte do percurso cheia de depressões no asfalto. A população improvisa tapando os buracos com areia.

"Entregadores são os que sofrem mais", diz Edvan da Silva, 46, que tem como renda entregar garrafões de água. Há uma semana, ele se acidentou por conta da cratera e furou o pneu, em frente a um supermercado na avenida. Moradores da rua Dinamarca, na Maraponga, reúnem histórias de colisões entre carros e quedas de moto pela condição da via.

Na avenida Duque de Caxias, esquina com a rua Frei Humberto, no Otávio Bonfim, um bueiro entupido estava sendo aberto, no fim da manhã da última segunda, 8, por funcionários de uma empresa terceirizada. Dentro dele, avistava-se garrafas pet, latas de cerveja, sacos plásticos e até um tronco de árvore. Ao lado do bueiro, uma série de buracos tomavam a pista. E atrapalhavam o funcionamento do comércio. "A gente chama a Prefeitura e a Cagece. Elas consertam e, com pouco tempo, abre de novo", comenta uma pequena empresária, que preferiu não se identificar.

LUCAS MARTINS, 21, diretor de marketing
LUCAS MARTINS, 21, diretor de marketing

O motorista

Apesar de já ter feito um reparo no pneu há menos de uma semana, Lucas retornou à borracharia porque furou o pneu do carro novamente. Apesar de ter um carro com suspensão 4x4, ele reclama dos buracos na Cidade que ficam escondidos com a chuva.

Fortaleza, CE, Brasil, 11-04-2019: Procura por conserto de veículos aumenta após chuvas em Fortaleza. (Foto: Mateus Dantas / O POVO)
Fortaleza, CE, Brasil, 11-04-2019: Procura por conserto de veículos aumenta após chuvas em Fortaleza. (Foto: Mateus Dantas / O POVO)

Donos de borracharias e oficinas comemoram aumento de demanda graças a buracos

Existe um antigo dito que apregoa "enquanto alguns choram outros vendem lenços". Em Fortaleza, vemos situação semelhante na relação entre motoristas, que sofrem com os buracos nas vias, e empreendedores, que veem a demanda aumentar consideravelmente com o início da quadra chuvosa.

Pneus, suspensão, freios e motores de veículos são os que mais se desgastam. O aumento de demanda nas borracharias visitadas pelo O POVO chegam a 60%. No caso de oficinas, o período é visto como o mais lucrativo do ano.

A queixa de motoristas é uníssona: as vias estão cheias de buracos que são camuflados pela água das chuvas. Com isso, é comum que condutores tenham algum dano no carro.

Proprietário da Borracharia O Carlinhos, no bairro Joaquim Távora, Carlos Augusto da Silva disse que, com as chuvas, a procura aumentou bastante. "Os motoristas caem em buracos, cortam o pneu e todos os dias chego a pegar pelo menos seis pneus furados ou rasgados para vulcanizar".

O método de vulcanização é uma opção dos motoristas que rasgam pneus e não podem realizar a troca. A alternativa, mais econômica - chega a custar menos da metade de um pneu novo -, só deve ser utilizada a depender da situação após rasgo ou furo.

No momento em que a reportagem estava na borracharia, Carlos consertava um pneu de aro 21 de uma caminhonete Land Rover. Ele comentava que até um veículo como esse enfrenta problemas nas rodovias cearenses. O trabalho não sairia por menos de R$ 150.

"Chega serviço de todos os tipos de pneus para vulcanizar. A procura aumentou desde que começaram as chuvas. Aumentou uns 60% a demanda de pneus cortados nesse inverno", contou.

O borracheiro ainda relatou que, em alguns dias, a demanda por consertos é tão grande que não há tempo para resolver os problemas de todos os motoristas. "Falta espaço para tantos carros".

Dias de chuvas torrenciais na Capital representaram sinônimo de muitos transtornos para motoristas. Alguns, impacientes, resolvem enfrentar ruas cheias de água e acabaram por ter grandes prejuízos. Gerente da Willians Serviços Automotivos, no bairro Fátima, Cirliane Falcão mencionou que o tipo de problema relacionado à água no motor, o cálcio hidráulico, aumentou cerca de 80% desde o início do ano.

"O serviço que a gente mais recebeu nestes dias de chuva foi de injeção eletrônica, bobina, velas e motor com cálcio hidráulico. Num carro pequeno, uma reforma de motor sai por, no mínimo, R$ 5 mil. O prejuízo é grande", revelou.

Os gastos causados pelo cálcio hidráulico, que é quando o motor do carro aspira água e vai direto para a câmara de combustão, entortando as bielas, podem variar com o caso. Pablo Bezerra é chefe de oficina da Beto's Car e afirmou ter recebido um Hyundai Veloster, em que o dono passou por um túnel alagado. O orçamento foi fixado em R$ 9 mil "porque algumas peças consegui seminovas", o que fez o valor do serviço cair 50%, calculou.

"Não passe (por ruas alagadas). Se o motorista enxergar que a poça está próximo da altura do pneu, não arrisque porque pode haver grande prejuízo se o motor aspirar água", acrescentou.

O conselho é seguido à risca pelo corretor de imóveis Valdeci da Rocha, 47. Enquanto renovava os pneus de seu carro, ele disse que resolveu trocar uma moto por um carro por temer se acidentar por causa de buracos nas ruas.

Contava ainda que já viu acidentes com mortes por causa de quedas de motociclistas, que caíram após passar por buracos, e acreditava ter feito boa escolha com a troca. "É bem mais sério cair em um buraco com a moto. No carro não tive problemas ainda, porque estou dirigindo com cautela redobrada".

Essa cautela também pode ser prejudicial. Gerente da Oficina O Damião, Damião Júnior pegou demandas por problemas de freio, pois os motoristas param bruscamente ou repetidas vezes por causa dos buracos nas vias.

Serviços mais pedidos

MOTOR

Cálcio hidráulico: em carros populares tem orçamento mínimo

de R$ 5 mil

Em caso de caminhonetes, os valores podem variar entre R$ 10 mil e alcançar os R$ 20 mil.

Carter: quando vaza o óleo do motor e o motorista vai reparar, o conserto em média R$ 300.

Se o problema não for resolvido rapidamente, o motor pode "bater" e o conserto, num carro popular, não fica por menos de R$ 5 mil.

SUSPENSÃO

Revisão básica

de R$ 300 a R$ 400

Amortecedores: em carros populares, essa demanda pode variar de R$ 1 mil a

R$ 1,5 mil.

Alinhamento: em carros pequenos fica em média R$ 45, enquanto em caminhonetes

por R$ 90.

Balanceamento: em veículos menores fica por R$ 10 em média. Nos veículos de maior porte é possível encontrar por R$ 17.

Descarga: ao passar por buracos, o motorista pode enfrentar problemas com o equipamento.

O reparo custa em média R$ 200.

RODAS

Reparo custa pelo menos R$ 100.

ACESSÓRIOS

Lanternas: as lâmpadas de farol também podem ser danificadas neste período de chuva.

É comum que elas queimem. Lanterna nova custa entre

R$ 5 e R$ 30.

OUTRAS DEMANDAS QUE CRESCERAM

Freios, artigos eletrônicos de carros, injeção eletrônica, caixa de câmbio e deformação de pneus.

Fonte: Pesquisa realizada pelo O POVO, em 11/4/2019, nas oficinas Relutron, no bairro Vila União, Willians Serviços Automotivos, no bairro Fátima, na Beto's Car,

e na Oficina O Damião, no bairro Farias Brito.

 

Médias de preço

VULCANIZAÇÃO

DE PNEUS

Depende do

tamanho do aro

Aros 13, 14 e 15: R$ 50

Aros 16, 17: R$ 80

Aro 19: R$ 100

Aro 21: R$ 150

REMENDOS*

Motocicletas R$ 15

Carros

Por pavio simples

R$ 15

Por pavio quente R$ 30

*Também é possível encontrar

Carros R$ 40 a R$ 60

Caminhonetes R$ 100 a R$ 150

AROS

De magnésio - solda R$ 60

De ferro - desamassamento

R$ 15

PITO

Troca R$ 15

Fonte: Pesquisa realizada pelo O POVO em borracharias de Fortaleza em 11/4/2019.

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