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Moradores relatam descaso com limpeza de rios da Capital
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Moradores relatam descaso com limpeza de rios da Capital

| Dia Mundial da Água | Rios Maranguapinho, Ceará e Cocó, principais de Fortaleza, têm margens poluídas em diversos pontos
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RIO Maranguapinho é destino de despejo de poluentes em Fortaleza (Foto:  Evilázio Bezerra)
Foto: Evilázio Bezerra RIO Maranguapinho é destino de despejo de poluentes em Fortaleza

Os principais rios que banham Fortaleza têm problemas de poluição. As margens dos rios Cocó, Maranguapinho e Ceará têm, em alguns pontos, lixo acumulado. Moradores das proximidades denunciam descaso público e contam dos principais problemas de viver ao lado da água poluída: mau cheiro, mosquitos, doenças. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) não tem calendário fixo de ações em toda a extensão dos afluentes.

No Parque do Cocó, onde são realizados passeios de barco, as margens do rio de mesmo nome estão limpas. Porém, a situação muda no trecho que corta o bairro Lagamar. Falta saneamento e que a água suja chega a entrar nas casas em períodos de cheia. A aposentada Ocilda Martins, 69, vive em uma casa às margens do rio Cocó há 40 anos e reclama que falta limpeza. "Se for dizer que o Rio Cocó é bem cuidado eu tô mentindo. Aqui é mal cuidado, não aparece ninguém aqui".

Embalagens plásticas, entulhos de construção e até um sofá podem ser vistos no rio Maranguapinho, na altura do bairro Bom Jardim. O asfalto que separa a rua e o vão que desce para o rio não tem proteção para evitar acidentes. Em um ponto, um bueiro despeja esgoto nas águas já turvas e o odor é perceptível de longe. A dona de casa Margarida Santos, 70, conta que vive na região há 25 anos, mas não vê limpeza. "Sujeira vejo demais, mas limpeza, nunca. Eu que pago para limpar. A Prefeitura só se lembra daqui em tempo de eleição", denuncia. O aposentado José Marcos Cosme, 43, lamenta pelos filhos: "A gente não deixa eles brincarem (próximo ao rio) por causa da sujeira, tem que evitar para não ficarem doentes".

O cenário é diferente às margens do rio Ceará, próximo à ponte. Mesmo às 13 horas, com sol a pino, pescadores jogam suas redes para tirar peixes e siris. O aposentado José Paulino, 73, sai quase todos os dias de casa, no Conjunto Ceará, enfrenta meia hora de ônibus, só para pescar ali. E nem por questão de sobrevivência; às vezes doa os peixes que tira. Gosta dali pela natureza. "Aqui é bom, dá muito alimento, muita gente vive disso, daqui tira o sustento". O pescador Marden Laurentino, 55, tem ressalvas. Critica quem joga lixo e denuncia despejo de esgoto irregular. "Só o que vejo é imundície ali embaixo, saco, lata de cerveja. Só não está muito poluído porque a maré tá enchendo e o lixo vai pro mar".

Coordenador de Biodiversidade da Sema, Leonardo Borralho, aponta que o órgão faz limpezas semanais na área do Parque do Cocó. O restante da extensão do rio, ele considera que a responsabilidade é municipal. Sobre o Maranguapinho, reconhece o problema da poluição e afirma que a pasta estuda ações conjuntas envolvendo entidades federais, estaduais, municipais, sociedade civil e empresas.

 

Prefeitura

Procurada, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) disse que a limpeza de rios e riachos cabe à Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), que não respondeu até o fechamento da página.

APA

Os três rios são considerados Área de Proteção Ambiental (APA), ou seja, áreas naturais destinadas à proteção e conservação dos atributos bióticos (fauna e flora).

 

Condição dos rios interfere na qualidade de vida da Cidade

De acordo com monitoramento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica em 2018, os rios Cocó e Ceará têm situação regular e o Maranguapinho aparece como ruim, dada a grande presença de agentes poluentes. Maria de Fátima Muniz Soares, coordenadora do projeto Mangue Vivo, conta que "o rio Cocó, por exemplo, nasce um rio limpo e no decorrer de sua viagem recebe poluição". "Quando passa pelo Jangurussu, recebe toda a descarga de chorume que vem do lixão fechado e os esgotos domésticos", explica. A poluição por lixo doméstico afeta também o rio Ceará e o Maranguapinho.

Fátima destaca que, mesmo poluídos, os rios são base da sobrevivência. "A comunidade ribeirinha de Sabiaguaba e os índios Tapeba dependem do rio para pesca", afirma. Ela explica ainda que a preservação e conservação dos rios urbanos pode amenizar o clima, diminuir casos de enchentes e contribuir na reprodução de animais, além de beneficiar o lazer e o potencial turístico desses locais.

Leonardo Borralho, geógrafo e Técnico da Coordenadoria de Biodiversidade da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), cita ainda o desmatamento das margens fluviais e a construção em áreas de preservação como ações prejudiciais aos rios. "Apesar de ainda persistir erroneamente no imaginário popular a crença de que pode-se 'rebolar no mato ou no rio', que este leva tudo, precisamos empoderar a sociedade da extrema importância dos rios".

Atualmente, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) está finalizando processo de contratação para o Programa de Monitoramento dos Recursos Hídricos. Os principais mananciais a serem monitorados são: Lagoa da Parangaba, Rio Maranguapinho, Riacho Maceió e Riacho Pajeú. A previsão de início é abril.

A Seuma conta ainda com o Plano Municipal de Saneamento Básico, que prevê universalização dos serviços de saneamento, em especial de esgotamento sanitário, cujo índice de cobertura é de 62% na Capital. (Marcela Tosi/ Especial para O POVO)

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