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Parte de removidos por risco de rompimento de barragem está em santuário
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Parte de removidos por risco de rompimento de barragem está em santuário

Moradores da área de risco relatam saída de casa às pressas. Secretário estima que 30% das famílias se recusam a deixar local que pode ser afetado por rompimento de barragem
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Parte das famílias que moram ao longo do rio Jaburu, no município de Ubajara (Serra da Ibiapaba), e que receberam ordem de evacuação de suas casas na noite de sábado, 16, estão abrigadas no Santuário Mãe Rainha. O complexo é mantido pela Diocese de Tianguá e acolhe 42 pessoas das comunidades ribeirinhas. Conforme nota emitida pelo Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, a remoção tem caráter preventivo, por causa de risco de rompimento da barragem do Granjeiro, que é particular. A meta é a retirada de pouco mais de 500 famílias. Mas, a gestão municipal estima que 30% dessa população se recusava a deixar suas residências até o meio da manhã de ontem.

Morador da localidade da Cachoeira do Boi Morto, Ednilson Pereira, 25, é um dos que optaram por buscar abrigo no santuário, chegando ao local na noite de sábado com a esposa gestante. "Espero que dê tudo certo. Vamos pedir força a Deus e que voltemos logo pra nossa casa em paz", projetou.

Antonio Gomes, 41, também está instalado no local. Ele chegou ao santuário no fim da noite de sábado, trazendo consigo a esposa e os filhos. "Eu tomei a decisão em cima da hora, por caso de segurança. Fiquei muito preocupado em dar tranquilidade pra minha família. E aqui a gente tá sendo bem acompanhado", conta.

Jairo Barreto, secretário da Assistência Social de Ubajara, explica que a Diocese de Tianguá cedeu o espaço religioso para abrigar as pessoas que foram retiradas de suas casas e não tinham outro local pra ficar. O santuário fica na estrada que liga Ubajara a São Benedito, no bairro São Sebastião. "Tivemos ajuda de prefeituras de Ibiapina e Tianguá, que ajudaram com ambulâncias e carros de som, explicando a importância de sair desses locais".

De acordo com Jairo, a capacidade máxima de alojamento no santuário é de 150 pessoas. Ele diz que muitas famílias preferiram se abrigar na residência de familiares em outras regiões do município. "A gente estima que 30% (dos afetados) ainda não tenham deixado suas casas", aponta a preocupação.

Ainda se encontra muita resistência por parte dos moradores e, por isso, o secretário conta que os trabalhos de conscientização têm se intensificado nestes locais. O prefeito de Ubajara, Renê Vasconcelos, reforçou, na manhã de domingo, 17, o apelo para que as famílias deixem a área de risco.

Jairo afirma que a gestão municipal tem disponibilizado material de higiene pessoal para os abrigados no santuário, além de alimentação e assistência de saúde, com atendimento de enfermeiros e técnicos de enfermagem. "E, mesmo sem a gente pedir, muitas doações vêm chegando".

Barragem do Granjeiro
Barragem do Granjeiro

Barragem de Ubajara foi construída em período sem regulamentação

Ex-secretário dos Recursos Hídricos do Estado e consultor na área, Hypérides Macêdo considera que o sangradouro que está sendo aberto na barragem do Granjeiro é a melhor opção para evitar danos maiores, ao diminuir o volume do açude e, consequentemente, a pressão na estrutura. A água do açude escoará para o rio Jaburu, em região de onde estão sendo retiradas famílias ribeirinhas enquanto dura a intervenção. "O açude deve ter sido feito pelo dono da propriedade, mal feito. As pessoas não fazem manutenção, há muitos anos ninguém faz vistoria nas barragens", diz. Ele explica que até a década de 1960 todos os açudes eram construídos em cooperação com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Houve um intervalo, porém, sem regulamentação.

O Dnocs deixou o programa no governo de Jânio Quadros e, até a criação da Lei de Segurança de Barragem do Brasil, em 2000, quando foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA), não havia regulamentação para a construção de açudes.

A barragem do Granjeiro foi construída exatamente nesse intervalo: tem cerca de 40 anos, conforme Avelino Forte, dono da empresa Agrosserra, que tem propriedade sobre o açude. Nessa época, não era necessária licença para construir barragens.

A lei em vigor que regulamenta essa questão é a Política Nacional de Segurança de Barragens, de 2010. O documento define como necessário, entre outros aspectos, indicação da área do entorno das instalações e seus respectivos acessos, a serem resguardados de quaisquer usos ou ocupações permanentes, exceto aqueles indispensáveis à manutenção e à operação da barragem; Plano de Ação de Emergência (PAE), quando exigido; relatórios das inspeções de segurança; e revisões periódicas de segurança.

Para Hypérides, a melhor solução é esvaziar o reservatório, que tem capacidade de 2,3 milhões m³ de água, e construir uma nova, de acordo com a legislação e regras atuais. A barragem é utilizada pela Agrosserra para destilaria de álcool automotivo e gera sustento a cerca de 500 famílias que vivem nas margens e utilizam do recurso hídrico para agricultura, conforme Avelino Forte.

Prevenção contra tragédia

A evacuação dos distritos ao redor do rio Jaburu por orientação da Agência Nacional de Águas, informa o Corpo de Bombeiros, em nota, "é de caráter preventivo e se justifica pela etapa atual das obras de abertura de um novo sangradouro para o açude Granjeiro, localizado entre Ubajara e Ibiapina".

 

Doações a famílias

Em Fortaleza, é possível doar alimentos, itens de higiene, agasalhos e edredons aos desalojados através da Fetamce, na rua Padre Barbosa de Jesus, 820 - Fátima. Em Ubajara, a responsável é Nadja Carneiro: (85) 99936 0231.

 

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