A oposição venezuelana tem tentado invocar uma intervenção internacional no país. Sem pedir explicitamente por ação militar, o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó apelou para a comunidade estrangeira em busca de apoio para derrubar o presidente Nicolás Maduro. Apesar da comoção sobre o bloqueio de suprimentos, a estratégia não funcionou. Nenhum país ousou cruzar a fronteira sem autorização oficial do governo chavista.
À frente das conversas diplomáticas, o vice-presidente Hamilton Mourão já afirmou que, além de não intervir, o Brasil também não deverá servir de base para militares americanos caso eles decidam realizar operações na Venezuela. Neste caso, o mais provável seria que as tropas americanas fossem estacionadas na Colômbia, aliado histórico dos Estados Unidos na região e membro da OTAN desde maio de 2018.
Bem diferente do histórico pacifista do Brasil, em que o exército é usado para missões de paz, a Venezuela tem tradição militar. Mourão sabe disso. As forças venezuelanas são treinadas e contam com abastecimento bélico da Rússia.
"O ingresso de forças armadas estrangeiras em território brasileiro depende de aprovação do Congresso Nacional e não há intenção de apoio do governo Jair Bolsonaro para tal possibilidade", disse o vice-presidente, no Twitter.
A intervenção em outro país também teria de passar pelo Congresso brasileiro com maioria simples, sem quorum especial, segundo constitucionalista Paulo Henrique Blair. Ainda assim, seria um desafio aprová-la. O custo é alto em cifras e em vidas. Há ainda a desestabilidade que a militarização causaria, afugentando capital e investidores.
Além disso, nenhum líder da região quer arriscar transformar a América Latina numa zona de conflito como o Iraque, Síria e Líbia. Acima de tudo, a questão na Venezuela é um problema interno. Maduro deixou claro que o fechamento de fronteiras com o Brasil não representava corte de relações bilaterais. Com a Colômbia, no entanto, o desgaste foi maior.
O princípio da 'Responsabilidade de Proteger', usado em outras resoluções favoráveis a intervenções, também não se aplica neste caso. "Na Venezuela, não se aplica a Convenção de Genebra. Só se aplica em conflitos armados e na Venezuela felizmente não há", explicou José Miguel Vivanco, diretor da organização não governamental para direitos humanos Human Rights Watch.
O fato de o Grupo de Lima (formado por 14 países americanos, inclusive o Brasil) preferir o que chamam de "transição democrática" não significa que a situação irá melhorar no país vizinho. As pressões econômicas e diplomáticas continuarão e tendem a piorar o quadro para a população venezuelana. Quando os cofres do governo ficam esvaziados, o desabastecimento e bem-estar social despencam ainda mais. A tendência é aumento no número de imigrantes em todas as fronteiras.
O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, disse que a situação na fronteira da Venezuela com o Brasil está mais tranquila. "Felizmente os ânimos se acalmaram lá, para todos nós. Óbvio que todos nós queremos a paz, ninguém quer confusão", afirmou à Agência Brasil.