Logo O POVO+
"Vai ser inverno fraco. É preciso ter muito cuidado. Não pode perder chuva", diz profeta
CIDADES

"Vai ser inverno fraco. É preciso ter muito cuidado. Não pode perder chuva", diz profeta

| Para 2019 | No Encontro dos Profetas da Chuva dos Inhamuns, previsão é de quadra com chuvas inconstantes
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL

[FOTO1]

Pela experiência de quem lê o sol, as estrelas, os ventos, os animais e as árvores, a natureza diz que vai cair chuva na quadra de 2019. Mas vai ser pouca. O Ceará vai ter um "inverno" variando "de regular para baixo". A previsão é de homens que carregam em si mesmos os instrumentos de medição: os próprios sentidos, a própria história. Guardam dentro de si o sertão. São os Profetas da Chuva. Eles traduzem que, assim como este ano, as precipitações serão irregulares. Chove aqui, mas não chove acolá. Dias de aguaceiro e dias de céu claro.

 

O saber popular dos observadores da natureza foram reunidos no III Encontro dos Profetas da Chuva dos Inhamuns, realizado ontem, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Tauá. O evento é realizado em parceria com o Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns (Cecitec) da Universidade Estadual do Ceará (Uece). O título dos profetas vem do ensinar. É para eles que muitos sertanejos recorrem para saber quando é tempo de começar a plantar.

 

Antônio Alves de Lima, conhecido como Totonho da Barra Nova, acompanha a olho miúdo o caminho das formigas. Caminho largo é bom sinal. Mas, como observado por ele este ano, os caminhos foram estreitos, indicando "inverno lavrado", quando alterna chuva e sol. O olhar do profeta também se direciona ao céu, principalmente em setembro, quando ele divide os dias correspondendo aos meses do ano.

 

"Nas minhas experiências no mês de setembro, somente abril e maio é garantido que tem bastante chuva. De janeiro a março chove, mas é pouco. Não vai ser seco, mas vai ser inverninho pouco". As chuvas da segunda quinzena de janeiro, segundo Totonho, darão conta dos cultivos plantados em  dezembro.

 

O aparecimento da Estrela Dalva também guia a previsão. "Vai ser inverno fraco. É preciso ter muito cuidado. Não pode perder chuva", diz Valderez de Lima, 68, de Tauá, alertando sobre o momento de plantio. Segundo ele, janeiro vai ter chuva.

 

Às 5 horas do dia 13, dia de Santa Luzia, José Roberto Oliveira Alves, 48, começa a analisar o céu. De lá até 25, cada dia representa um mês do ano seguinte. Para os dois primeiros meses ele já tinha o veredicto: "Janeiro chove, mas em fevereiro vai ter muito sol".

 

Francisco Arcelino do Rego, chamado de Titico Baia, 66, de Quixeramobim, viu em meio às observações durante madrugada que em janeiro vai chover. "Se pintar chuva, tenho certeza que pra frente vai dar tudo certo. Vou dizer: obrigado, Senhor". Quem contou o segredo da chuva ao seu Titico foi um pássaro. "Não era tempo de ir lá nem de cantar àquela hora", conta, sobre quando o bicho apareceu. Segundo ele, março será de muito sol, depois "vem o abril chovendo parecido com fevereiro". Em maio e junho, segundo ele, vai chover para encher açudes pequenos. "A natureza tá faltando quem olhe e preste atenção", resume.

 

O momento também contou com a presença de Sebastião Siqueira, 96. Natural de Pedra Branca, ele é um dos profetas mais antigos da região. "A maioria disse que o inverno vai ter presença de chuvas que pode ter até uma boa produção de grãos, mas que não é inverno grande", explica João Paulo Rego, diretor-geral do IFCE campus Boa Viagem e um do organizadores do evento.

 

"Eles trouxeram que apesar de não ser um inverno longo, teremos meses chuvosos. A expectativa é que dia 8 nós tenhamos uma chuva interessante na região", diz. Ele ressalta que a esperança é de que as chuvas caiam nas cabeceiras de grandes rios para gerar recarga. "Não vai ser um inverno dos melhores, mas há possibilidade de recarga principalmente de pequenos e médios açudes".

 

Em tauá

 

Programação

Na quinta-feira, a programação contou com oficinas populares: raizeiros (tipo de medicina popular), elaboração de cordéis e profecias da chuva. À noite, sanfoneiros, violeiros e a Orquestra Armorial do Cariri se apresentaram no Anfiteatro do Parque da Cidade.

O que você achou desse conteúdo?