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Um novo método para estudar fragilidades de construções históricas
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Um novo método para estudar fragilidades de construções históricas

| Ultrassom | Técnica desenvolvida no Ceará é precursora no País na análise dos materiais de patrimônios tombados por meio de ondas ultrassônicas, e deverá se tornar norma da ABNT
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Um método desenvolvido por pesquisadores cearenses é pioneiro no Brasil em relação à análise de vulnerabilidades em construções históricas através de ultrassom. Desenvolvido pelo Laboratório de Reabilitação e Durabilidade das Construções (Lareb) da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Russas, a técnica utiliza um aparelho, chamado transdutor, que emite ondas ultrassônicas sobre painéis de alvenaria. O método inédito deverá se tornar norma oficial da Associação Brasileira de Normas Técnicas.

[SAIBAMAIS]

"Para nós, é muito fabuloso porque no Brasil nós não temos uma norma específica para avaliação de patrimônio. E isso já vem, ao meu ver, muito tarde. Nosso patrimônio está se deteriorando e a gente não via muitos esforços de grupos de pesquisas interessados nisso", avalia Ezequiel Mesquita, coordenador do Lareb e precursor do estudo.


A importância do método encontra-se na sua capacidade de caracterizar os materiais de construções, sobretudo das que não podem sofrer intervenções na estrutura física, o que pode garantir melhores planejamento e execução de restaurações. "Isso quer dizer que agora eu posso saber, por exemplo, como está dentro da alvenaria com o reboco, sem precisar retirar material. E eu consigo também estimar algumas informações mecânicas, modo de elasticidade, etc.", introduz Ezequiel.


O pesquisador teve a ideia de realizar a pesquisa no Brasil, ainda em seu doutorado na Universidade do Porto, em Portugal. Lá, ele desenvolvia estudo na área de caracterização de patrimônio histórico, principalmente de igrejas do século XII ao XVI, feitas com alvenaria de pedra. Com isso, surgiu a proposta de executar no Ceará o que se fazia na Europa. "Procurei o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para que a gente pudesse replicar esse trabalho. No Brasil, não temos informações ainda consolidadas sobre as propriedades dos materiais que eram utilizados antigamente", aprofunda o professor.


"Isso tem uma repercussão muito importante porque se eu faço uma licitação para reformar (uma construção), a empresa, às vezes, não tem informações de quais materiais pode usar. E muitas vezes a empresa parte do princípio de que materiais modernos são melhores. E aí ela pode chegar a colocar concreto em estruturas de alvenaria que não suportariam. Com cinco anos, teríamos algum cenário de danos nesses prédios, provocados por uma intervenção que, no fundo, queria a segurança", exemplifica.


O método foi publicado em artigo científico e a boa repercussão dos resultados levou Ezequiel a coordenar a Comissão de Estudos de Aplicações Especiais com Ultrassom, na ABNT, que trabalha na elaboração do procedimento como norma oficial. "Acredito que em julho de 2019, a norma já deve ser aberta para consulta pública, e leve mais seis meses para ficar disponibilizada", prospecta.

 

História 

 

"Esse trabalho tem impacto social nas comunidades, porque elas passam a conhecer e a valorizar mais (o patrimônio). A gente só preserva aquilo que a gente conhece", destaca Ezequiel Mesquita

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