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Sobre cocos e outras coisas
CIDADES

Sobre cocos e outras coisas

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De instante em instante, Antônio Marcos Vieira da Costa, 47, o Marquinhos, é interrompido por um cumprimento. Sorriem, perguntam de um assunto anterior, combinam um prosa futura, deixam bolsa, chave, carteira, bicicleta e partem em direção ao mar. A cena se repete pelo menos uma dúzia de vezes em menos de 60 minutos. Do lado de cá, Marcos sempre aperta os olhos muito verdes, enruga as bochechas rosadas, oferece um sorriso bonachão e chama cada um pelo nome. Vizinho do espigão da Rui Barbosa, mais que venda de coco, Marquinhos é ponto de referência, é encontro.

 

"Já são 16 anos aqui, tenho gente que está comigo desde o começo. Corro com eles, já fui pra cinco maratonas. Posso dizer que não tenho clientes, são amigos, alguns são uma grande família", conta o vendedor - um dos 50 espalhados na orla da Beira-Mar, e, provavelmente, o mais conhecido. Antes do coco, Marquinhos tentou uma infinidade de coisas: fez curso de eletricista, de mecânica, de pizzaiolo, de doces e salgados, de telefonia, de contabilidade... Em 2002, desempregado, percorreu a Cidade em busca de algo que pudesse pôr em prática algo que percebeu sobre si. "Vi que o meu negócio é lidar com o público".

O coco veio de uma ideia: e se, em vez de carrinhos de grade com o isopor, ele pudesse fazer um da carcaça de uma geladeira que conserva melhor a temperatura do gelo? Além da conversa, em que ele sabia ser bom, o coco ainda o reunia com uma antiga paixão. Nascido e criado no Serviluz, Marquinho era menino praieiro, de "tomar banho de mar, jogar bola na beira da praia, surfar de tábua, de comer o que o mar dava" e de ser muito grato.

No primeiro dia, depois de 5 km de casa até a Beira-Mar, o pneu do carrinho furou, o céu desabou numa chuva inesperada. Coco mesmo ele vendeu só dois. Foi aprendendo sobre o horário - chegar mais cedo era garantir pegar quem vinha correr com o nascer do dia -; sobre observar os melhores pontos; sobre a água gelada mais que o gelo que poderia deixar o coco tinindo; e sobre perseverar. Depois de nove anos e sete meses, a obra do calçadão impedia de rodar com carrinho. Foi a desculpa que precisava para pleitear se fixar.

Hoje, é um complexo de serviços num pedacinho de orla: os mais de 300 cocos que vende, para ele, são o de menos. "A gente oferece o guardador de chaves, de bolsa nesse baú, no cabideiro; tem o bicicletário, que foi ideia minha e se juntaram pra fazer; tem a bomba d'água pra quem quer tirar o sal; tem a sombra dos coqueiros que também foram trazendo as mudas; e tem ombro amigo", enumera orgulhoso o homem que emprega outras três pessoas, sustenta a família de três filhos, e hoje consegue tirar um fim de semana de folga por mês.

Aficionado pela praia, Marquinhos rebate quando a esposa lhe pede que arranje outro emprego. "Pergunto se ela quer me arrancar do meu habitat. 

Não tem trabalho que poderia me dar mais alegria. O meu escritório é muito bom, olha o tamanho? É bem espaçoso. A pintura das paredes mudam todo o tempo, tá vendo? Olha o tamanho do meu aquário! Têm dias que vêm golfinhos brincar pra mim. Você quer vida melhor do que essa?", questiona certo da resposta.

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