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Comunidade Antônio Justa reclama por melhorias sociais
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Comunidade Antônio Justa reclama por melhorias sociais

|MARACANAÚ| Local já foi reservado para isolamento compulsório de portadores de hanseníase
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Audiência pública realizada na tarde de ontem na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) debateu a situação do Centro de Convivência Antônio Justa, em Maracanaú (Região Metropolitana de Fortaleza). Hoje unidade acolhedora, de cunho socioassistencial, ainda abriga em suas dependências sete ex-pacientes, remanescentes de uma época em que o tratamento para hanseníase era o isolamento do convívio social.

 

Mas, os cerca de 160 hectares do terreno do centro comportam mais de 2 mil famílias ? em sua maioria, ex-internos e seus familiares. Moram, porém, sem documentos que garantam a posse do imóvel e ainda precisam conviver com problemas de transporte, falta de saneamento básico e serviços públicos.

 

Os moradores da comunidade tinham três focos na audiência, "entre a infinidade de problemas que a gente poderia trazer", conforme diz Jaqueline Aquino, coordenadora do coletivo Antônio Justa Presente. A partir da preservação da memória, da garantia à saúde dos internos remanescentes e da legalização da terra, as demais demandas podem vir a ser resolvidas, ela afirma.

 

O resultado do crescimento desordenado, intensificado nos anos 1990, é bem conhecido pela dona de casa Ana Paula Rabelo Salviano, 29. Morando na comunidade desde os três anos, quando o pai, portador de hanseníase, teve o tratamento transferido para lá, ela reclama das consequências de divergências sobre a responsabilidade pelas terras. "A Prefeitura diz que é do Estado, o Estado diz que é da Prefeitura e a comunidade acaba desprezada".

 

Os moradores reclamam que o Estado passou a se responsabilizar apenas pelo centro, deixando em um limbo jurídico o restante do terreno originalmente parte da colônia. Na audiência, foi proposto o agendamento de reunião com a Secretaria das Cidades para tratar da regularização fundiária.

 

Outro encaminhamento da audiência pública foi o pedido de tombamento do prédio, demanda referente à preservação da memória. Inaugurado em 1942 e tratado como leprosaria, era parte de uma política de saúde que lidava com a hanseníase apenas para que o contágio fosse evitado. Apesar da política ter sido abolida oficialmente pelo Ministério da Saúde em 1976, até 1986 a Colônia Antônio Justa recebeu internos.

 

Também ontem, a Assembleia Legislativa recebeu a exposição Memórias da Pele, do coletivo Aluminoso. As 35 fotos registram a resistência da comunidade e resgatam os impactos que o internamento compulsório trouxe a inúmeras pessoas. Histórias como a de Luiza Alves Noronha, a Lulu, falecida na semana passada, aos 85 anos. Moradora do centro, havia sido mandada para lá aos 16 anos.

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