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Jericoacoara: A vila das sereias
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Jericoacoara: A vila das sereias

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[FOTO1]A sereia de Jeri já virou lenda. Quem pisa na vila fica logo sabendo que todo fim de tarde, enquanto uma multidão se arrasta até o topo da Duna do Pôr do Sol, uma criatura metade mulher e metade peixe aparece na piscina do terceiro andar de um hotel no coração da vila. Enquanto distribui beijos e posa para fotos dos que têm duas pernas, acompanha com a cauda o ritmo da música eletrônica e da percussão ao vivo que agitam a cobertura. Pouco a pouco, depois que o sol desaparece, uma fila se forma na entrada da casa.

[SAIBAMAIS]São as famosas filas do Café Jeri, com dezenas, centenas de pessoas. "Sempre recebo muitas mensagens. Perguntam como faço pra abrir os olhos, sorrir e mandar beijos dentro d'água", explica Tabatta Lua, a sereia, baiana de Vitória da Conquista, que há quatro anos elegeu Jeri como a praia dos seus encantos. Veio depois de uma temporada na ilha de Fernando de Noronha, onde descobriu o sereismo e se deixou seduzir pela vida à beira-mar. "Eu vi que Jeri tava muito em alta. E deu certo, vem mulher de todo o Brasil só pra se transformar em sereia", conta ela, que cobra R$ 200 para realizar o sonho de meninas e mulheres que vistam caudas de tamanho até o 48.

[VIDEO1]Os três ou quatro clientes que Tabatta atende todas as semanas chegam até  ela pelo Instagram @sereiasdejeri, que a esta altura conta com mais de 6.500 seguidores. A expectativa é que a procura aumente ainda mais na temporada de dezembro e janeiro, quando a população flutuante de 6 mil pessoas que habitam Jeri deve ganhar um incremento por conta daquele que vem sendo vendido como "o maior réveillon do Brasil", mega evento que tem confirmadas as participações de Ivete Sangalo, Anitta e Alok.

"Serão 5 dias de muito rock! Estruturas paradisíacas serão o cenário da maior virada deste ano no Brasil", é a apresentação do site que comercializa ingressos para o Réveillon Jericoacoara John John Rocks, cujos preços do quarto lote ultrapassam os R$ 3 mil. Ricardo Gusso Wagner, secretário de Turismo, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Jijoca de Jericoacoara, estima que 4,5 mil pessoas devem participar do evento, que vem aparecendo em portais de notícias desde o início do ano, quando foi oficialmente anunciado.

"Vão fazer essa festa em um lugar que não tem estrutura. Vai acabar luz, água, comida. A vila vai virar uma lixeira", lamenta Tabatta, ecoando a reiterada preocupação de boa parte dos moradores do local. "A gente não quer Jeri feia, suja. Sei que é bom pro turismo, pros empresários, porque vai vir muita gente, vai movimentar muito dinheiro, mas esse dinheiro deveria ser usado também para a preservação e para a limpeza da praia", completa. A sereia de Jeri resgata a eficiência do poder público presenciada em Noronha - "eles têm um sistema que todo dia limpa e descontamina a areia" - e critica a situação de seu novo lar - "a areia tá suja, dá muito problema de micose, as pessoas ficam deitadas, pegando sol, e enchem a bunda de bicho geográfico". Não é o que se quer para Jeri.

Sem medo de blecaute 

O secretário de Turismo e Meio Ambiente de Jijoca de Jericoacoara, Ricardo Gusso, prefere se referir ao réveillon de Jeri como o "melhor" do Brasil". "Antes utilizavam o 'maior', o que dava uma impressão de algo muito grande, além das expectativas", justifica. A celebração, que é realizada desde 2014, chega a um novo patamar este ano. Atrações de peso nacional e cinco dias de festa.

Ricardo ameniza as preocupações dos moradores em relação à capacidade da vila e aos danos ao meio ambiente. Segundo ele, a festa é "totalmente sustentável", visto que os promotores do evento "trazem bolsões de água para os banheiros e esgotamento sanitário". Esse material será vedado e destinado à estação de tratamento de Jijoca. Além disso, dezenas de pessoas serão contratadas para recolher e separar material descartado, com seu posterior encaminhamento para uma usina de triagem que será erguida nas proximidades da festa.

Bons ventos 

Não são só as festas de fim de ano que estão movimentando a vila de Jeri. Grandes eventos esportivos, de porte local, nacional e internacional - estão se desenrolando nas praias da região nos últimos anos. Entre os dias 20 e 24 deste mês, a Praia do Preá recebeu a penúltima etapa da turnê mundial GKA Kite-Surf World Tour. Com prêmio de 25 mil euros, a etapa cearense reúne artistas de peso na modalidade, como o italiano Airton Cozzolino, o cabo verdiano Mitu Monteiro e o espanhol Matchu Lopes. O local é frequentado todo o ano por esportistas interessados em vento e ondas. No último dia 17, aproveitando o feriado de Proclamação da República, também foi realizada em Jeri uma meia maratona que contou com a participação de mil atletas concorrendo nas modalidades de 10KM e 21KM.

Réveillon luxuoso pode chegar a R$ 9 mil 

Quem pensa em aproveitar o maior/melhor réveillon do País precisa correr. São poucas as vagas disponíveis na rede hoteleira da vila de Jericoacoara para a virada do ano. Os ingressos individuais para a festa, que deve durar cinco noites, custam em torno de R$ 3.200 para homens e R$ 3.000 para mulheres. Os valores são referentes ao quarto lote de vendas. Pacotes que incluem passagens aéreas festas custam em média R$ 6.400. Quem quer garantir hospedagem festas (sem passagens aéreas) paga em média R$ 7 mil. A depender do hotel, o preço pode cruzar a faixa dos R$ 9 mil. Em um dos sites de agências que comercializam os pacotes, apenas quatro dos 40 hotéis e pousadas disponíveis possuem vagas. Muitos dos moradores da vila, animado com a grandiosidade do evento, estão se organizando para aluga quartos disponíveis via AirBNB.

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