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Os exemplos dos projetos cearenses para a juventude
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Os exemplos dos projetos cearenses para a juventude

|PERSPECTIVAS|Três iniciativas executadas no Ceará estão entre 30 finalistas do Prêmio Itaú-Unicef
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Três projetos cearenses ajudam a promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Atuando onde família e escola não conseguem chegar de forma incisiva, arte e esporte levam autonomia, perspectiva e confiança. 

 

As iniciativas foram escolhidas entre três mil e compõem o quadro de 30 finalistas da 13ª edição do Prêmio Itaú-Unicef.

 

Fortaleza, Campos Sales, Itapiúna. Cordel, dramatização, aulas de informática ou de boxe. Política, mercado de trabalho, leitura. O que tudo isso tem em comum: os jovens e a necessidade de potencializar sua autonomia. Seja para falar sobre gênero, emprego, suicídio ou poesia.

 

"Quando se leva aos jovens temas que ainda são tabu ou delicados de serem tratados, estamos gerando saúde. Porque se possibilita que ele fale de sua realidade, que conheça um panorama mais amplo", afirma o psicólogo clínico e educacional Emanuel Martins.

 

O prêmio tem duas categorias: a Parceria em Ação em que são reconhecidas parcerias entre organizações da sociedade civil (OSCs) e escolas públicas e OSC em Ação, dedicada a projetos realizados exclusivamente pelas organizações. Duas iniciativas cearenses foram selecionadas na primeira categoria e são realizadas no interior: "Cidadania Rimada no Cordel da Educação", desenvolvido entre o Conselho de Pais do município de Campos Sales e a Escola José Augusto Sobrinho, e "Voz da Juventude", executado pelo Centro de Apoio à Criança de Itapiúna em parceria com a escola Edimar Martins da Cunha.

 

O terceiro, "Essa Ciranda é de Todos Nós: Pela Defesa do Direito à Proteção de Crianças e Adolescentes", é protagonizado pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca) nos bairros Bom Jardim, Jangurussu e Pirambu, na Capital. "As duas formas de atuação (categorias) permitem que as crianças tenham mais tempo de aprendizagem, circulem por espaços diferentes e acessem conteúdos e informações novas", explica a gerente de Fomento do Itaú Social, Camila Feldberg.

 

Os seis vencedores serão conhecidos no dia 27 de novembro e as premiações variam entre R$ 120 mil e R$ 400 mil.

 

Presentes em todos os projetos finalistas do Ceará, a arte e o esporte, segundo Emanuel Martins, possibilitam o aprendizado sobre a realidade de forma lúdica. "E nos gera resistência. O atleta precisa ter uma rotina de treino e alimentação, uma dinâmica de responsabilidade. Quando ele leva essa rotina para o ambiente escolar é uma forma de estar relacionando vivências".

 

Hoje, apesar da melhoria nos índices educacionais e da maior oferta de ensino integral, os conteúdos programáticos ainda ocupam até 70% do tempo escolar. O que impede que as instituições de ensino trabalhem outros temas de forma mais aprofundada. Essa é a opinião do doutor em Educação Marco Aurélio Patrício. "Quando falamos em um projeto de educação pensamos em três olhares: o primário, como a sociedade e as ONGs podem ajudar; o secundário, que é a escola trabalhando em campanhas e nas aulas esses temas transversais; e terciário, que é agir em cima de um problema já existente".

 

Projetos como os finalistas do prêmio, de acordo com ele, promovem ideias criativas e motivadoras. "Colaboram para não formar pobres para serem apenas trabalhadores dos outros, mostra que eles podem ser atores, músicos, podem ter um emprego mais tecnológico".

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A Voz da Juventude


Onde: Itapiúna
Organização da Sociedade Civil (OSC): Centro de Apoio à Criança
Escola parceira: Edimar Martins da Cunha

Em Itapiúna, de acordo com o articulador de juventude do Centro de Apoio à Criança, Washington Gomes dos Santos, a falta de emprego formal é uma problemática que assusta a juventude. E pode ser traduzida em criminalidade e uso de drogas. "Precisávamos em dar perspectiva e começamos a trabalhar a autoestima, investir em cursos pré-vestibular, terapia comunitária, arte, esporte".

 

As aulas de inclusão digital abriram as portas para José Davi Pereira Matias, 16. Aluno da escola Edimar Martins da Cunha, ele encontrou no projeto a possibilidade de dar aulas a outras pessoas. "Saber como fazer uma busca na internet é essencial. Um trabalho da escola, por exemplo, não usa mais cartazes, mas slides Quando a gente oferece esse conhecimento muda muita coisa na vida das pessoas".

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Essa Ciranda é de Todos Nós
Onde: Fortaleza
Organização da Sociedade Civil (OSC): Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca)

 

Cenas que chocam, fazem pensar, impressionam. O grupo de teatro Trup'irambu, do bairro Pirambu, faz parte do projeto que coloca os jovens na mesma ciranda, em busca de direitos e proteção. O mesmo acontece com a percussão nos bairros Bom Jardim e Jangurussu. São formas de fazer meninos e meninas se expressarem, aprenderem a ser firmes, a serem sujeitos de direitos. E o objetivo deu certo.

 

Igor Freire, 17, diz que o teatro é político, que foi criado para discutir o que as pessoas precisam saber e ver. "Quando elas se enxergam no palco, fica mais fácil viver os problemas sociais". Uma das cenas ensaiadas era a de um menino, chamado de ladrão, morto e encoberto com um saco preto. "É preciso fazer as pessoas verem pela ótica da juventude da periferia".

 

O artista pesquisador docente Efferson Mendes, que também é assessor do Cedeca, conta que as vivências são trazidas pelos jovens e que seu papel é articular isso com jogos teatrais. "Não dá pra fazer só a formação ou só o teatro. Trazemos alguns autores e articulamos com os temas, racismo, homofobia, machismo".

 

Para a coordenadora do Cedeca, Luciana Brilhante, na música o desafio é inserir os temas a serem discutidos através de ritmos e sons que derivam de lutas sociais e da cultura regional. "A gente pensa essa formação artística e política com a arte enquanto aliada, porque ela consegue envolver, sensibilizar e acessar outros campos que uma formação puramente teórica não consegue".

 

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Cidadania Rimada no Cordel da Educação
Onde: Campos Sales
Organização da Sociedade Civil (OSC): Conselho de Pais de Campos Sales
 

Escola parceira: Escola José Augusto Sobrinho

 

Aos 13 anos, Haleff Moura de Lima conheceu a palavra afrocultura. Foi através de um cordel. "É na cultura que a gente conhece as pessoas e as histórias do passado". De acordo com a coordenadora do conselho de pais, Maria Lúcia de Andrade Saraiva, a escolha pelo cordel é justificada pela fácil compreensão da literatura. "O projeto foi criado a partir dos baixos índices de aprendizagem. No cordel, abordamos temas como ética, gênero e meio ambiente. Incentivamos ainda a produção de poesia". Uma das atividades é chamada de mala da fantasia, que aborda reisados, danças folclóricas e orquestra de sanfona. "Assim como no passado, que cordéis eram uma forma de comunicação entre as cidades, o que eles produzem circulam em outras escolas e municípios", ressalta o educador do conselho e antropólogo Felipe Alves.

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