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As experiências de quem começa e de quem se despede das salas de aula
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As experiências de quem começa e de quem se despede das salas de aula

Data homenageia profissionais que desempenham função importante na formação escolar e cidadã
Edição Impressa
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Estar em sala de aula é uma oportunidade de refazer-se a cada fim e recomeço do ciclo "ensino-aprendizagem". Hoje, comemora-se o Dia do Professor, figura fundamental para a formação cidadã em diferentes fases da vida. Ao O POVO, novos e antigos protagonistas falam da experiência que é ensinar e aprender, não necessariamente nesta ordem.

 

Com 72 anos de idade e 52 de docência, é na sala de aula que Neide Veras planeja continuar até os 75, quando a lei lhe obrigar, compulsoriamente, a aposentar os pincéis. "Começaria tudo outra vez se preciso fosse", empresta-se de Gonzaguinha a professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

 

"Nestes anos que ainda tenho aqui, estou com uma grande preocupação: socializar tudo que aprendi na minha existência, na empiria, na observação da vida, nas teorias e na universidade. O mundo é dos jovens. São eles que vão tomar conta da educação, do mundo. Que vão prosperar a vida. E esse legado é importante deixar", compromete-se.

 

Neide integra o quadro de docentes da UFC desde 1976, instituição onde graduou-se em 1970. Antes disso, já havia lecionado em colégios tradicionais da Capital. Nessa jornada, viu a ditadura acontecer, colegas desaparecerem e a democracia ser restabelecida. Em todo esse tempo, não perdeu o bom humor e a fé no diálogo e na juventude.

 

"Como eu sou jovem há muito tempo", brinca, "eu venho aqui pra gente trocar conhecimentos, informações, sabedorias. O que eu já aprendi vou socializar com vocês, e o que vocês também já aprenderam vão socializar comigo. A responsabilidade de vocês com a minha aprendizagem é enorme. A primeira delas é me ensinar a ser jovem".

 

Sobre a idade, Neide diz não precisar de força e se apega à paixão de sentir a vida, fazendo o que ama. "O meu ato de ensinar significa o ato de aprender. Tenho isso na minha cabeça. Enquanto eu tiver vontade de aprender significa dizer que eu ainda não estou tão velha. Posso estar fisicamente, mas, cognitivamente, ainda estou crescendo", ensina.

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Na herança que um professor deixa, além do conhecimento, encontra-se a inspiração. Verônica Alves, 32 anos, concluirá o curso de Pedagogia da UFC no fim deste ano, e, desde o início da graduação, percebeu a importância da identidade na docência. Verônica é indígena da comunidade Santo Antônio do Pitaguary, em Maracanaú, onde atua há oito meses como professora em uma das três escolas indígenas da comunidade.

 

"Toda a minha trajetória aqui na universidade foi sempre em relação a questões de cultura e identidade indígena. Eu via a necessidade de ter pessoas formadas. Quanto mais profissionais tiver nessa área para desenvolver um bom trabalho será importante para dar continuidade à questão da educação indígena na escola, que ainda é um processo recente".

 

Apesar da pouca experiência, Verônica antecipa o desejo de ajudar a fortalecer a identidade dessa educação, "baseada na luta e resistência", e encontrar novos métodos de dar continuidade à preservação da cultura e história indígenas.

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Sobre o papel do professor, Verônica defende a liberdade no processo de formação dos indivíduos, ao passo que discorda da ideia de proibir a abordagem sobre determinados assuntos, como questões de gênero.

 

"Tudo isso está ali presente dentro das relações na sala de aula. A gente não vai só dar conteúdos, mas também formar o ser humano para a sociedade. 

 

Que ser humano é esse que vamos formar e ele vai sair da escola cheio de preconceitos e desrespeito? A gente está construindo valores essenciais pra personalidade do indivíduo. Dizer que essas questões não devem ser discutidas é ignorar a parte humana que há na educação", reflete.

 

São 13 mil professores na Rede Estadual de Ensino do Ceará. 11 mil, na Rede Municipal de Ensino de Fortaleza. 2.258 professores da Universidade Federal do Ceará.

 

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