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Ocupação da Casa Frei Tito por desapropriação definitiva completa um mês
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Ocupação da Casa Frei Tito por desapropriação definitiva completa um mês

| MEMÓRIA | Secretaria de Cultura de Fortaleza garante que o tombamento é "prioridade" e diz que processo está em fase de estudos históricos e arquitetônicos do imóvel
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Teto caindo, paredes sem forro, nenhuma instalação de água e fiações expostas: são com esses condições que integrantes movimentos sociais e religiosos passam seus dias há um mês dormindo na Casa Frei Tito de Alencar, local onde o religioso de mesmo nome nasceu e se criou. Mártir na luta contra o regime militar, a memória dele é resgatada e perpetuada pelos ocupantes que vivem no local desde o último dia 10 de agosto. Realizando programações culturais diariamente, eles cobram desapropriação do atual dono e pedem o tombamento definitivo do prédio, que está com a estrutura comprometida.

 

Localizada no número 362 da rua Rodrigues Júnior, no Centro de Fortaleza, a casa do frade foi tombada provisoriamente pelo Decreto Municipal 12843 de 22 de junho de 2011. Esta condição protege a casa, impede que o imóvel seja vendido ou modificado. Mas de acordo com Luan Vasconcelos, 22, um dos dos ocupantes, a realidade é outra. "A casa está completamente comprometida, antigamente tinha todos os cômodos, sala, cozinha. Hoje em dia não tem mais nada. Aqui tá tudo quebrado. Quem vê a casa de fora acha que tá tudo bem", aponta.

 

Em nota enviada à reportagem, a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) informou que o tombamento do imóvel está em fase de estudos históricos e arquitetônicos e diz que o processo "vem sendo tratado de forma prioritária pela gestão".

 

A situação do logradouro só foi percebida na anual missa de morte de Frei Tito, que aconteceu no dia do processo de ocupação."Todo ano fazemos a celebração de vida e de morte do Frei Tito. Estávamos fazendo a missa de morte, que é no dia 10 de agosto e vendo a situação da casa a gente resolveu ser mais incisivo e iniciamos o processo de ocupação", declara Luan.

 

Resistindo há 30 dias em meio à todas as dificuldades, inclusive ameaças, os ocupantes aguardam respostas e fazem apelo para que a Prefeitura de Fortaleza também desaproprie a casa e crie um memorial para homenagear o Frade, que chegou a ser preso e torturado no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) novembro de 1969 por ajudar no combate à repressão durante o período da Ditadura Militar.

 

A Secultfor afirma que recebeu os familiares de Frei Tito, os movimentos sociais presentes na ocupação, o proprietário do imóvel e representantes da defensoria pública para construir uma proposta que será apresentada em reunião com o prefeito Roberto Cláudio. A data para esse encontro ainda não foi definida. A pasta ainda garante que mantém "diálogo constante com os ocupantes do espaço" e diz "que reconhece e exalta a importância de Frei Tito de Alencar, símbolo da luta pelos direitos humanos no nosso País, contra a ditadura militar e a favor da democracia".

 

Enquanto aguarda os trâmites legais e uma garantia da Prefeitura, a ocupação segue com programação especial na Casa Frei Tito de Alencar e recebe apoio de diversas organizações e movimentos como o Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) e a Pastoral da Juventude. "Nesta semana, do dia 10 ao dia 14 (dia do nascimento de Frei Tito), estaremos com programações culturais. Na sexta-feira, 14, vai ter apresentação de uma peça que conta a história de Frei Tito", explica Luan Vasconcelos. A página no Facebook "Ocupa Casa Frei Tito" divulga toda a agenda.

 

Quem foi Frei Tito?

Nascido em Fortaleza em 1945, Tito de Alencar Lima estudou no Liceu do Ceará e foi desde cedo engajado com a religião e o movimento estudantil. Tornou-se frei em 1966, na Ordem Dominicana de Belo Horizonte, e seguiu para São Paulo no mesmo ano para estudar Filosofia na USP.

 

Em 1968, foi preso ao participar do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes. Fichado, o frei tornou-se alvo da repressão militar. A prisão seguida de tortura aconteceu em 1969, quando Tito foi acusado, junto a outros religiosos, de ajudar Carlos Marighella, um dos líderes da Aliança Libertadora Nacional.

 

Mantido no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Frei Tito foi submetido a palmatória e choques elétricos. Em 1970, foi levado para a sede da Operação Bandeirantes onde sofreu torturas que o levaram à tentativa de suicídio. O cearense foi socorrido a tempo.

 

Escondido na Itália, Tito não conseguiu apoio dos religiosos e encontrou lar na França, país onde deu seu último suspiro no dia 10 de agosto de 1974, quando foi encontrado enforcado.

 

Museu

O Museu do Ceará (rua São Paulo, 51, Centro) reserva uma sala ao Memorial Frei Tito. Lá, estão expostos objetos pessoais como óculos, máquina de escrever, livros e fotografias, além de uma carta destinada a sua irmã, Nildes.

 

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