Logo O POVO+
Rua inacabada nas Dunas já era conhecida por crimes sexuais
CIDADES

Rua inacabada nas Dunas já era conhecida por crimes sexuais

| CASO 99POP | Trabalhadores e moradores relatam episódios frequentes de violência sexual na área
Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL
Na região do bairro Dunas onde o técnico em radiologia Patrick do Nascimento teria cometido uma série de estupros seis já foram confirmados, mas o número pode ser maior , os casos de violência são uma constante. Se passando por motorista do aplicativo 99Pop, Patrick levava as vítimas até uma rua inacabada, abusava delas e as abandonava. A iluminação deficiente e a falta de residências próximas facilitavam a execução dos crimes.

 

Uma das vítimas de Patrick, cujo relato da noite do crime foi publicado no O POVO no último dia 17 abrindo uma série de reportagens sobre o tema , contou que, depois que foi abandonada, correu por cerca de 500 metros até encontrar um segurança privado que fazia sua ronda na rua diante de um condomínio. O segurança a teria ajudado, levando-a até um lugar seguro e passando a localização exata para a família.

 

Procurado pelo O POVO, o segurança, que prefere não se identificar, contou que desde o início do ano pelo menos quatro mulheres já o procuraram em situação semelhante. "É normal acontecer. Elas pegam os carros desses aplicativos e são levadas até aquela rua. 

 

São estupradas. Os caras fazem mal mesmo. De janeiro pra cá, foram quatro vezes", conta ele, que começou a trabalhar no local em meados de julho de 2017.

 

"Elas vêm correndo do morro aqui, porque veem as luzes dos condomínios. Somos as primeiras pessoas que elas encontram. A gente sempre ajuda, né? Você sabe como fica a cabeça dela A gente chama a Polícia e ajuda ligando pra família. Na maioria das vezes acontece nos fins de semana, quando elas saem dos bares e solicitam um carro por esses aplicativos", explica. Segundo o segurança, a Polícia apareceu em duas dessas ocasiões, mas não pôde fazer nada para identificar os criminosos.

 

Em conversa com a reportagem antes da divulgação do caso de Patrick, o segurança confirmou o perfil das vítimas. "A maioria é bem jovem. Devem ter entre 18 e 23 anos. Chegam muito nervosas, abaladas, estraçalhadas. Sem estrutura. É uma situação complicada. 

 

Elas nem têm cabeça pra falar, só choram. A gente pergunta, pra elas colocarem pra fora".

 

O segurança relatou ao O POVO dois dos mais recentes casos, um deles acontecido com uma guarda municipal. "Ela pegou um desses carros e foi trazida aqui para os morros. Mas ela reagiu, começou a bater no motorista. Ele dizia que ia pegar a arma, mas não pegava. 

 

Então, ela conseguiu se jogar do carro. Ficou escondida no morro, na areia, até ele sair do local. Quando ele foi embora, ela começou a correr. Chegou aqui com a roupa toda rasgada, os pés cortados, os braços sangrando".

 

O último caso, que não envolve motorista de aplicativo, teria acontecido na segunda quinzena de julho. "Foi com uma prostituta que faz programa na Praia do Futuro. Ela entrou no carro, o motorista dirigiu até o morro e começou a dar murros nela. Fez o que quis com ela. Quando ia se preparar pra fazer outras coisas, ela deu um chute, derrubou ele no chão. Ele tava armado, mas ela saiu correndo. Veio até onde a gente estava. E nessa hora passou uma viatura da Polícia, que prestou toda assistência", resume.

 

Além dos casos de violência sexual, o segurança relata inúmeros casos de assaltos na região. "Tem muita coisa assim na área. 

 

Quando você tá subindo pra região, depois do posto da Santos Dumont em direção aos condomínios, o pessoal da favela corre pra assaltar os carros. Ficam atrás de um muro e se metem na frente. 

 

Usam muito simulacro, armas de brinquedo. Já encontramos vários jogados", conta ele, explicando ainda que vários dos condomínios contratam serviço de escolta armada para acompanhar a chegada e saída das diaristas dos apartamentos.

 

Quem também relatou casos semelhantes foi Francisco (nome fictício), que trabalha no local há 23 anos e é aposentado pela Polícia Rodoviária Federal. Contratado como segurança privado por um grande empresário com investimentos na região, passa boa parte do dia fazendo rondas pela área. "Tem roubo, assalto, estupro. Quando posso, prendo o criminoso. Já fiz 11 flagrantes. Se é um negócio que estou presente, eu mesmo resolvo", conta ele, que diz receber uma verba mensal do contratante para adquirir alimentos e distribui-los entre os moradores das favelas da região.

 

Responsável pela cobertura do bairro, o 22º Batalhão da Polícia Militar, localizado no Papicu, disponibiliza duas viaturas exclusivas, com três agentes em cada uma, para a região das Dunas. "Eles ficam o dia inteiro circulando pelo local, principalmente durante os horários de entrada e saída dos alunos da UniFanor", explicou uma fonte oficial da unidade.

 

Uma moradora do bairro, que também estuda na UniFanor, reconheceu que a Polícia tem feito esforços para melhorar a segurança da região e assume que os casos de violência diminuíram. Mesmo assim, afirma ela, ainda falta muito para que a região seja segura. "Melhorou, mas ninguém tem coragem de sair a pé. O risco de assalto ainda é muito grande. E aquela região das Dunas é totalmente abandonada. Ninguém sabe o que acontece por lá", resume.

 

O que você achou desse conteúdo?