Logo O POVO+
Gegê e Paca: a trama de uma execução
CIDADES

Gegê e Paca: a trama de uma execução

| FACÇÃO |O POVO narra, a partir da denúncia enviada à Justiça, a dinâmica dos fatos no plano para matar no Ceará os chefes nacionais do PCC. "Vocês estão loucos?", gritaram antes de morrer
Edição Impressa
Tipo Notícia

A prisão em flagrante do piloto Felipe Ramos Morais, 31, em 14 de maio último, permitiu a descoberta de uma teia de acertos criminosos que levou às execuções de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Sousa, o Paca, ambos da cúpula do PCC.

 

Capturado em flagrante na cidade de Caldas Novas (GO), enquanto tentava negociar as condições de sua apresentação à Polícia, Felipe revelou aos investigadores a dinâmica dos fatos que antecederam o crime, ocorrido em 15 de fevereiro deste ano, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). As execuções, realizadas com o emprego de um helicóptero, tiveram repercussões violentas pelo País.

[SAIBAMAIS] 

Na denúncia apresentada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), aceita com ressalvas pela Justiça, Felipe Ramos foi o primeiro dos acusados a chegar a Fortaleza. Veio em voo comercial, dia 9 de fevereiro. Estava com a namorada. O casal se hospedou no Cumbuco, em Caucaia. Era Carnaval.

 

A aeronave que deveria levar até São Paulo, no dia 15, Wagner Ferreira da Silva, 32, o Wagninho ou Cabelo Duro, e outros dois "convidados", pousou num hangar no Eusébio, no dia 13. Veio guiada por outro piloto - que trouxe esposa, dois amigos e outros dois passageiros. Eram os denunciados Maria Jussara da Conceição Ferreira Santos, 45, e Jefte Ferreira Santos, 21.

 

Mãe e filho, em Fortaleza, recepcionariam e dariam suporte financeiro aos que chegavam. Na noite do dia 13, Jussara e Jefte receberam, em hotel na Beira Mar, os denunciados: André Luís da Costa Lopes, o Andrezinho da Baixada; Erick Machado Santos, o Neguinho Rick da Baixada; e Ronaldo Pereira da Costa, além do próprio Wagner.

 

Na tarde do dia 14, Wagner e Felipe realizaram voo panorâmico pela Praia do Futuro, orientados pelos cearenses Tiago Lourenço de Sá de Lima, 31, e Carlenilto Pereira Maltas, 39. Avistaram, próximo a uma barraca de praia, ponto de pouso abandonado. Decidiram que Wagner embarcaria dali para São Paulo, um dia depois, junto com os  dois convidados.

 

Na manhã do dia 15, com o piloto, decolaram do hangar Wagner, André, Erick, Ronaldo, Carlenilto e Tiago. Novamente orientado pelos cearenses, o grupo seguiu para Aquiraz e pousou numa clareira, entre dunas e matagais, na Lagoa Encantada (área indígena). Os passageiros desceram e se reuniram fora da aeronave. Felipe teria ficado a bordo.

 

Wagner teria retornado, enquanto o resto do grupo ficou na mata. A dupla partiu, reabasteceu o veículo no Eusébio e foi à Praia do Futuro, onde estavam Gegê e Paca. Nesta hora, Wagner teria mentido aos dois que pousariam num sítio para pegar gasolina.

 

Às 10h30min, a aeronave baixou na clareira. Wagner desceu e caminhou até o matagal. Segundo Felipe, desconfiados, Gegê e Paca questionaram onde o combustível seria acomodado, pois já havia três galões e malas no helicóptero. Neste momento, o grupo armado saiu da mata e abordou a dupla.

 

Wagner teria apontando a arma em direção a Paca, impedindo a fuga da dupla pela porta lateral. Felipe disse ter erguido as mãos, achando que também seria morto. Gegê e Paca foram puxados para fora da aeronave.

 

"Vocês estão loucos? vocês estão loucos?", teriam questionado. Desarmados, foram alvejados e mortos. Os disparos, segundo o piloto, partiram das armas de Carlenilto e Tiago, enquanto o restante do grupo guardava o local. Conforme a denúncia do MP, não houve tortura. Os corpos foram levados até a mata e queimados parcialmente com combustível.

 

Dali, Tiago e Carlenilto foram deixados, de helicóptero, numa localidade próxima. De carro, Renato Oliveira Mota, 28, resgatou a dupla. O restante do grupo partiu na aeronave. Antes, diante da dúvida de Wagner sobre a morte de Gegê e Paca, Erick teria voltado aos corpos e efetuado mais disparos. Ainda em fevereiro, O POVO mostrou que Gegê foi morto com um único tiro no rosto, enquanto Paca foi baleado quatro vezes. 

 

SAIBA MAIS 

 

Após as execuções, o grupo seguiu para Santo Antônio da Onça (RN),onde as bagagens das vítimas foram queimadas e as armas usadas na ação, descartadas. A intenção seria jogar o material no mar, mas a aeronave não abre as portas em voo. No local, foram encontradas uma pistola 9mm, um carregador com 16 munições, um carregador 5.7mm, com 20 munições, e 30 munições calibre 9mm.

 

Antes do descarte, o grupo retirou das malas cerca de R$ 50 mil, um cordão, um relógio de ouro e outras joias. Seguiram até Pernambuco, onde se dispersaram. O helicóptero foi levado para Goiás por um terceiro piloto. Wagner havia ordenado que a aeronave fosse destruída, mas Felipe a escondeu em uma de suas propriedades em Goiás. Informou, posteriormente, a localização à Polícia.

 

O piloto contou ter conhecido André e Erick em setembro de 2017, quando teria sido torturado pela dupla, a mando de Wagner, no Guarujá (SP). Felipe havia cobrado valores atrasados por serviços com a aeronave. Foi embora para Goiás, mas, ameaçado de morte, continuou atuando para o grupo e teria aceitado o voo em Fortaleza.

 

Felipe disse ter conhecido Gegê e Paca em novembro de 2017, quando trouxe a dupla ao Ceará, juntamente com Wagner, em outro helicóptero. O grupo havia desembarcado da Bolívia.

O que você achou desse conteúdo?