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Eduardo A. Vasconcellos é engenheiro civil, sociólogo, especialista em mobilidade urbana e assessor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Em 2016, publicou o livro "Risco no trânsito, omissão e calamidade: impactos do incentivo à motocicleta no Brasil", pela editora Annablume. Concedeu entrevista ao O POVO por e-mail.

 

O POVO - O senhor já disse, em outra entrevista, que não critica a motocicleta, mas a forma como ela se instalou no Brasil. Qual foi o erro? Ainda hoje, persistimos nele?

 

Eduardo Vasconcellos - O erro na política pública foi inserir a motocicleta no ambiente de trânsito do Brasil sem os devidos cuidados com a segurança das pessoas (ela não existia até a década de 1980, havia apenas para os esportistas). Como o motociclista fica muito vulnerável quando circula junto a veículos grandes (assim como o ciclista), seria necessário um programa específico para protegê-lo, que deveria incluir, também, os demais participantes do trânsito, para que conhecessem o novo veículo e entendessem a vulnerabilidade dos seus condutores. Isto não ocorreu. O uso da motocicleta foi incentivado de várias formas e a frota cresceu exponencialmente, espalhando-se pelo país em condições inseguras. O resultado negativo era previsível. Nas últimas décadas morreram 250 mil usuários de motocicleta, em um fenômeno alarmante jamais visto no nosso país.

 

OP - No Ceará, principalmente no Interior, a frota de motocicletas cresce anualmente e tende a continuar assim. Qual o risco desse crescimento desenfreado?

 

Eduardo - A frota cresce exponencialmente há muito tempo em todo o País, mas, especialmente, no Nordeste, por ser um veículo relativamente barato para comprar e para usar, quando comparado aos automóveis. O risco deste crescimento já se configurou na forma de uma enorme quantidade de mortos e feridos.

 

OP - O senhor considera o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) suficientemente rígido e específico para o uso da motocicleta? O que deve melhorar?

 

Eduardo - O CTB não foi suficiente por dois motivos: não definiu formas rígidas de concessão da carteira de habilitação e não definiu com clareza onde a motocicleta pode circular nas vias. A proposta de que ela não pudesse circular entre filas de veículos foi vetada.

 

OP - Como manter a motocicleta no trânsito brasileiro? Restringir o uso basta?

 

Eduardo - Agora não é mais possível recuperar os enormes prejuízos sociais e econômicos causados por esta política pública equivocada e irresponsável. Para conseguir algum recuo na gravidade dos problemas seria necessário mais rigor nas regras de concessão de carteira de habilitação, definir como a motocicleta deve circular entre outros veículos, reduzir a velocidade média nas vias onde ela circula e aumentar a penalidade para infrações ligadas à velocidade e à falta no uso de equipamentos de segurança.

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