Há décadas que o design tem se tornado protagonista de mudanças ocorridas em todo o ecossistema de mídias. Aliado da tecnologia, foi responsável por alterar a aparência de diversos produtos, entre eles do jornal impresso. As mudanças vieram tanto para facilitar os fluxos de leitura da informação, como também para acelerar o processo de produção do produto jornalístico.
Em seus 90 anos de existência, O POVO conseguiu acompanhar todas essas mudanças, desde suas primeiras edições ainda confeccionadas em tipografia manual até os projetos de reformulação que adequaram o jornal às necessidades do leitor do século 21.
O primeiro jornal, de janeiro de 1928, continha apenas 16 páginas. Foi impresso numa prensa Alauzet de segunda mão, de composição manual – método clássico na qual se tinha de compor as páginas pegando tipos móveis, letra por letra – comprada no Recife.
Ainda com todas as limitações técnicas, o jornal conseguiu trazer sua primeira capa essencialmente gráfica, constituída por uma grande ilustração do novo presidente do Ceará, Matos Peixoto, circundado pelo brasão do Estado, além de sol e jangadas, na edição especial do dia 12 de julho de 1929.
Outro marco importante para O POVO foi, certamente, a passagem do paraguaio Andrés Guevara (1904-1964) para produzir o que foi seu primeiro projeto gráfico-editorial na década de 1940. Além de um importante caricaturista na imprensa nacional, Guevara foi o grande reformador de diversos jornais brasileiros neste período. Uma estadia nos Estados Unidos o permitiu trazer técnicas avançadas de planejamento gráfico para jornais e revistas. Antes, o processo era artesanal, amador, produzido de uma forma bastante lenta. A partir de Guevara, foi possível ter uma tabela de cálculo entre as laudas produzidas pelo jornalista e o espaço que a matéria ocuparia na diagramação final. O processo passa a ter de fato um planejamento. Além de diversos recursos gráficos que vieram a organizar melhor a informação escrita.
Mais um marco para a evolução gráfica para O POVO foi o Projeto Século XXI, iniciado em 1997, que permitiu preparar o impresso para os desafios daquele momento, com as mudanças tecnológicas, maior interatividade com o usuário da internet e velocidade de leitura. O novo projeto gráfico-editorial permitiu ao jornal se adequar a padrões de qualidade no aspecto do design de notícias e trouxe prêmios internacionais de referência para um veículo que, até então, tinha alcance regional.
Ainda são muitos desafios a se percorrer e todos os veículos informativos estão mediante ao cenário fluido, em meio a dispositivos móveis, redes sociais, visualização de dados e Big Data. Mas está na essência do jornal, desde seus primeiros anos, essa dedicação em trazer a melhor forma de acessar a informação, seja qual plataforma estiver seu público.
RODRIGO CUNHA
professor e pesquisador da UFPE; líder do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Design da Informação Jornalística (Grid).rodrigo.escunha@ufpe.br