Aos 10 anos de idade, Lívia Thaynara Lopes de Sousa teve a vida abreviada ao ser atingida por uma bala perdida. Era noite do último feriado de Corpus Christi, quando na rua Porto Alegre, no bairro Henrique Jorge, disparos endereçados a um homem de 23 anos e um adolescente de 17 anos atingiram a cabeça da criança que estava em casa. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu. Os assassinos fugiram em uma moto. Os alvos do ataque saíram feridos.
O caso junta-se aos de outras três crianças que morreram este ano no Ceará. Antes de Lívia, em um intervalo de um dia, Ana Vitória da Silva Rodrigues, de apenas 4 anos, brincava com o irmão na calçada de casa no bairro Santo Antônio, em Sobral, na Região Norte do Estado, quando teve o peito atingido também por bala perdida. Suspeitos do crime, dois adolescentes foram apreendidos.
Em abril, José Isaque Santiago da Silva, de 6 anos, estava na casa do avô, no bairro Bom Jardim, vestido para ir a escola. Em uma operação policial que teria como alvo a tia do menino, houve um tiroteio que vitimou Isaque. No primeiro caso do ano, em 21 de janeiro, Deyvison Breno Silva dos Santos, 12, foi morto também por disparo de arma de fogo, na Área Integrada de Segurança 5 (AIS 5).
As quatro mortes chocam pela idade das vítimas, ainda assim perfazem um número que diminuiu 42% em relação aos primeiros cinco meses de 2017, em que sete crianças foram mortas. No ano passado, ao todo, 20 crianças de 0 a 12 anos foram assassinadas no Ceará. O dado, reunido a partir de relatório de Crimes Violentos Letais Intencionais, da Secretaria da Segurança Pública do Ceará, aponta para um aumento de 150% no comparativo entre 2016 e 2017. Em 2016, oito crianças foram mortas.
Para Caio Anderson Feitosa Carlos, coordenador do Centro de Defesa da Vida Hebert de Souza (CDVHS), as mortes acontecem dentro de um contexto de vulnerabilidade social e falta de acesso a políticas públicas de qualidade nas comunidades em que moram as vítimas. “O enfrentamento a esses crimes passa por uma política de combate ao uso de armas. Estamos vivendo em uma sociedade conflagrada e armada. Temos, neste contexto, o fácil acesso de adolescentes ao armamento, ao passo que eles são também as principais vítimas de homicídios”, reflete.
Ele aponta que é preciso também qualidade de investigação e pleno funcionamento judicial para que não se reforce a ideia de impunidade. Citando o caso do menino Isaque, outra questão a ser levada em consideração é, para o coordenador, o controle da ação da força policial.
CEARÁ
HOMICÍDIOS DE CRIANÇAS
JANEIRO/2018
Deyvison Breno Silva dos Santos, 12, no dia 21 de janeiro, morto atingido por disparo de arma de fogo, em Fortaleza.
ABRIL/2018
José Isaque Santiago da Silva, 6, no dia 25 de abril, morto atingido por bala perdida em troca de tiros da Polícia com familiar da criança, no Bom Jardim, em Fortaleza.
MAIO/2018
Ana Vitória da Silva Rodrigues, 4, no dia 30 de maio, morta atingida por bala perdida na calçada de casa, em Sobral.
Lívia Thaynara Lopes de Sousa, 10, no dia 31 de maio, morta atingida por bala perdida dentro da própria casa no bairro Henrique Jorge, em Fortaleza.
2017
Ao todo, foram 20 crianças mortas em 2017.
Até o mês de maio de 2017, foram sete crianças assassinadas.O total dos cinco primeiros meses de 2018 é 42% menor.