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Muçulmanos se preparam para o Ramadã no Brasil
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Muçulmanos se preparam para o Ramadã no Brasil

Religião | Mês sagrado na cultura islâmica é tempo de reforçar orações e atos de caridade, além de prática tradicional de jejum
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A comunidade muçulmana ao redor do mundo se prepara para iniciar o Ramadã, mês sagrado do calendário islâmico. Marcado pelo tradicional jejum, é tempo também de fortalecimento da fé, caridade e fraternidade. Como o calendário islâmico é lunar, o período não é comemorado na mesma data todos os anos. Em 2018, a previsão é que inicie hoje, com o aparecimento da lua nova, e termine em 14 de junho.

 

“O Ramadã, bem como as datas religiosas islâmicas, depende do posicionamento da lua para ser definido”, esclarece Ali Hussein El Zoghbi, vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil - Fambras.

 

No Ceará, o momento é aguardado com expectativa. “Como os cristãos decoram a casa no Natal, eu costumo decorar a minha para o Ramadã com artesanato. Desenhei uma mesquita numa cartolina, fiz uma caixinha no formato da Caaba (mesquita sagrada) que vou presentear as pessoas com chocolates e uma súplica específica do Ramadã”, explica a fotógrafa cearense Karine Garcêz, 43.

 

Convertida ao Islã há cerca de 12 anos, Karine afirma que este é um momento de fortalecer a espiritualidade. “É como se fosse um retiro. Não é só se abster de água e comida durante o dia. É um processo de autodisciplina, de autoconhecimento, percepção do outro também”.

 

Segundo o Islã, foi no Ramadã que o Corão foi anunciado pelo anjo Gabriel ao profeta Muhammad (Maomé). É por isso que a leitura do livro sagrado e as orações noturnas são intensificadas. Já o jejum representa o quarto pilar da fé islâmica. Nesse período, os muçulmanos fazem apenas duas refeições diárias: uma antes do nascer do sol e outra após o crepúsculo.

 

A tradição diz que a quebra do jejum deve ser com tâmaras e um copo d’água. Contudo, devido ao preço elevado da fruta em Fortaleza, é possível recorrer a outras opções, como goiaba e banana. “Entre o que é possível, você tem que fazer o melhor”, afirma Karine.

 

Natural da Guiné-Bissau, o assistente de operações logísticas Bubacar Djalo, 30, vive em Fortaleza desde 2009. No mês sagrado, ele conta que tem a ajuda da esposa, que é brasileira e cristã.  “A gente se prepara antes do mês chegar. É um mês especial só pra mim, mas ela entende”.

 

Nesse período, que também é de intensificar a fraternidade, os muçulmanos costumam se reunir para quebrar o jejum e também realizar ações sociais, como a doação de comida. A dificuldade é a reduzida comunidade muçulmana cearense. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no censo de 2010, o mais recente, o Brasil possuía 35.137 praticantes da religião, sendo 141 no Ceará. A Fambras estima que o número no Brasil atualmente chegue a 800 mil praticantes.

 

Bubacar relembra que enfrentou dificuldades na adaptação ao Brasil. “Eu nasci muçulmano. Quando cheguei foi muito difícil, mas continuei, seguindo o máximo que pude. Mas é difícil se adaptar num país que é totalmente diferente do seu, que tem poucos muçulmanos e entende pouco sobre o islã”, lamenta.

 

Já Karine explica que o estudo da religião foi fundamental. “Não sabia muito lidar com o preconceito das pessoas. Fiquei meio retraída. Mas depois você vai estudando e tendo confiança no seu conhecimento”, refaz. “Mas tem situações muito difíceis. Hoje em dia, com esse reacionarismo, é um novo desafio”, ressalta.

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