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O pensamento de Demócrito Dummar, 10 anos após sua morte
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O pensamento de Demócrito Dummar, 10 anos após sua morte

| DEMÓCRITO DUMMAR | Dez anos após a morte do jornalista e ex-presidente do O POVO, os pensamentos e os fazeres que regem o tempo no ofício de exercer o jornalismo e o bem comum
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A morte do jornalista e advogado Demócrito Rocha Dummar, aos 63 anos, depois de ir ao O POVO pela manhã e de cumprimentar todos como de costume (com um sorriso ou uma filosofia), de voltar para o almoço, de puxar conversa com um dos seguranças particulares e de atravessar a casa com seu passo largo até o lavabo (cuidando para trancar a porta), golpeou o dia 25 de abril de 2008 como uma faca só lâmina.

[SAIBAMAIS]
Caminhando daquela vez como se fosse a última, com o passo sempre do tamanho do sonho, Demócrito Dummar não deu pistas de que se despedia; talvez, para ficar nas horas; talvez, para seguir amando. Não deixou palavra que explicasse sobre aquela morte escolhida; mas, afinal, cada morte nunca deixará de ser uma pergunta, por mais que todos saibam dela. E, sem que fosse possível haver logo alguma resposta, o depois foi o tempo. Hoje faz dez anos.
 

E foi um tempo de depuração, para alcançar o que não passa: a saudade sem dor, o perdão sem condições e tantos recomeços quantos são os ideais. E ainda alcançar o encontro, sempre, apesar dos descaminhos. Nesse sentido, Demócrito Dummar deixou uma carta de navegação ao jornalismo nosso de cada dia: “Como um todo, o jornal chora, instiga, aplaude e ri. Nunca fomos um jornal frio”, refletiu, durante o novo projeto gráfico-editorial que O POVO iniciava em 2007.
 

São dez anos de distância, mas nunca serão anos de ausência. O POVO não se despede dos sonhos que seu ex-presidente (de 1985 a 2008) sonhou, nem das realidades que ele imaginou ou dos planos em que traçava um Ceará pleno de esperança e de riqueza. Ainda buscamos a escrita da alma das gentes e dos lugares. “Somos eternos aprendizes”, ressoa Demócrito Dummar (“A cor do invisível”. O POVO, 26/4/2008), no ofício de exercer o jornalismo e o bem comum. Garimpamos a verdade “em toda a sua inteireza” – as aspas são de uma “Carta ao Leitor”, que o jornalista publicou no dia 27 de abril de 1992.
 

“Recentemente ele dizia que o jornal tinha que pensar como as mulheres: com delicadeza, cuidando dos detalhes”. O trecho do editorial “Edição da alma”, escrito pelo pensar e pelo sentir da jornalista Regina Ribeiro para o caderno especial “É pelo sonho...” (publicado no dia seguinte à morte de Demócrito Dummar, quando O POVO decidiu que continuar é preciso), faz uma ponte entre aquele abril de 2008 e o presente.
 

Pensar e sentir, a propósito, norteiam os começos que nos inauguram e nos ampliam com o tempo. O jornal se transforma porque é um organismo vivo, como entendeu Demócrito Dummar aos 75 anos do O POVO (7/1/2002). “A cada três anos, sendo O POVO um jornal que trabalha pari passu com a tradição e a inovação, fazemos inflexões para nos atualizar com a linguagem do tempo em que vivemos”, ele sinalizou na mudança gráfico-editorial de 2007. “Ontem, o jornal impresso tinha como referência o seu próprio espelho. 

 

Hoje, impresso e digital são realidades que se influenciam mutuamente. A tônica desta fase continua a ser a simplicidade. Porém, quanto mais simples, mais complexa tem que ser sua elaboração. O simples dentro desse enfoque é o sofisticado. O simples é o artístico, o poético e o lúdico”, uniu.
 

Nos 90 anos do O POVO, completados no último dia 7 de janeiro, Demócrito Dummar ainda significa a união de muitos fazeres e inteligências, da realidade e a História, do jornalismo e a concidadania (uma de suas palavras diletas). “Fazemos um jornalismo propositivo e essa é uma das razões da importância do O POVO para o pensamento estratégico do Estado”, ele reafirmou, em discurso no plenário da Câmara Federal, em março de 2008, quando o jornal foi homenageado por seus 80 anos.
 

“Articulador de ideias e ações”, como retratou o jornalista Érico Firmo para o caderno especial da morte de Demócrito Dummar (“Instrumento de articulação”. O POVO, 26/4/2008), o ex-presidente abriu espaços, no jornal, e pensamentos, na sociedade, para questões além do tempo em que viveu. De campanhas por corações artificiais para o Hospital de Messejana à batalha por uma siderúrgica para o Estado, Demócrito Dummar mantinha um “entusiasmo vibrante” e uma “arguta capacidade de mobilizar energias para as melhores causas do Ceará – e, por que não dizer – em favor de tudo que recendesse humanidade”, reencontra o editor-sênior do O POVO Valdemar Menezes (“Radicalmente Humano”. O POVO, 26/4/2008).
 

E talvez seja no novo encontro de cada manhã, quando o jornal é repensado ao tempo em que está nas ruas e nas casas, que Demócrito Dummar permaneça. Uma vez que o sonhador (quem se arvora em escrever o mundo) se tornou parte do navegar que o poeta português Sebastião da Gama (1924-1952) indicou: “Basta que a alma demos,/ com a mesma alegria,/ ao que desconhecemos/ e ao que é do dia a dia”.
 

Assim contamos os 25 de abril que existiram e que existirão a partir daquele 2008. Vivemos os dias seguintes. Nessa medição de forças entre o tempo e a permanência, durante a última década, O POVO alcançou os recomeços porque não se perdeu dos ideais e do sentir. E, por saber das permanências, já não mais perguntamos; ao contrário, damos nossa resposta ao tempo. 

 

“Meu pai foi real e vivo até a hora de morrer. Esse jornal não é um produto, é uma alma. Vamos continuar com força, coragem e determinação para fazer um jornal sério, mais competente, mais poético”, espelha a jornalista Luciana Dummar, presidente do Grupo de Comunicação O POVO (“Um mar de abraços na despedida”. O POVO, 27/4/2008).

ATO ECUMÊNICO

Celebração dos 90 anos do O POVO e 10 anos de saudade em comemoração aos 90 anos do O POVO em memória dos dez anos de falecimento de Demócrito Rocha Dummar. Hoje, às 18 horas, no Espaço O POVO de Cultura e Arte. Evento restrito aos funcionários do Grupo de Comunicação O POVO.

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