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Aldeia Jenipapo-Kanindé comemora 18 anos de demarcação da terra
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Aldeia Jenipapo-Kanindé comemora 18 anos de demarcação da terra

| AQUIRAZ | Nos festejos, também a expiação da %u201Cenergia da violência%u201D. Em fevereiro, corpos de dois integrantes de facção criminosa foram encontrados na mata do território indígena
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A aldeia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, está em festa. Durante todo o dia de ontem, indígenas e não indígenas entrançaram encontros para comemorar os 18 anos pelo “marco vivo da terra” e os 73 anos de vida da cacica Pequena. Os festejos, com dança, ritual, comida e memória, também serviram para expiar qualquer manifestação de violência. Palavras da líder dos índios cearenses que vivem a 31,9 km de Fortaleza. Há quase dois meses (15/2), os corpos de dois integrantes do PCC paulista, Gêge do Mangue e Paca, foram encontrados na floresta da tribo, na área da Lagoa da Encantada.

[SAIBAMAIS]

Nos 1.734 hectares do território indígena, conta a cacica Pequena, quem falece é por “coisa natural e, depois de homenageado, é levado ao cemitério”. Até então, reforça, não se tinha notícia, nos domínios da aldeia, de assassinato.

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A morte violenta, ressaltou Pequena, não era o tema principal do encontro de nativos e forasteiros reunidos debaixo das “mangueiras do tio Odorico”, o último cacique dos jenipapo-kanindé. Manhã e tarde foram para agradecer e reverenciar a luta pela demarcação da terra. Um esforço contado a partir de 2000 até a conquista, em definitivo, em 2008/2009, do território para 500 indígenas — cerca de 120 famílias.

 

Nos anos 1980, estudantes da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) passaram quatro anos fazendo estudos sobre a existência de remanescentes de um povo indígena em Aquiraz. “Com as histórias contadas, os relatos de costumes e outras descobertas dos professores e alunos, ficou comprovado que éramos índios”, refaz Pequena.

 

O povo dali, do tempo da infância de Maria de Lurdes da Conceição Alves, hoje a cacica Pequena, era proibido pelos pais de revelar que seriam índios. “Tinham medo de fazerem alguma coisa com nós. Tratavam a gente como os cabeludos da Encantada pra dizer que era gente estranha, diferente. Meu pai e minha mãe cansavam de repetir que não se podia dizer que eram filhos de indígenas”, relembra.


Depois, o cardeal dom Aloísio Lorscheider, da Arquidiocese de Fortaleza, pôs a pastoral indigenista e o advogado Aécio Pontes para auxiliar quem se reconhecia índio para buscar, juridicamente, a demarcação da terra esquadrinhada entre dunas, uma lagoa e uma floresta perto do mar do município de Aquiraz .


“Minha mãe passou 11 anos lutando com a dona Zuleida, uma liderança da comunidade do Trairussu. Um dia, a Funai veio querer comprovar quem se reconhecia índio jenipapo-kanindé. Reafirmamos e assumimos o protagonismo da nossa história”, conta Juliana Jenipapo-Kanidé, 32, filha da cacica Pequena.

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