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Um Carnaval de alfinetadas políticas na Sapucaí
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Um Carnaval de alfinetadas políticas na Sapucaí

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Quem misturou, na Marquês de Sapucaí, Carnaval e crítica social não saiu da boca do povo e ganhou as redes sociais pelo Brasil. Foi a receita mais eficiente, em tempo de retrocessos políticos, para além das costumeiras narrativas épicas ou homenagens encomendadas para o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Brilho, tecnologia, espetáculo, samba, corpos bonitos nus e fantasias exuberantes já se esperam todo fevereiro. O surpreendente foi ressignificar, em vários momentos, o espírito irreverente do carnavalesco Joãosinho Trinta (e outros) na avenida. Com direito até ao Cristo Redentor, novamente, coberto.
 

Paraíso do Tuiuti, Mangueira, Salgueiro e Beija-Flor levaram a atual e desastrosa crônica política para o sambódromo. Mazelas que se perpetuam e porradas em gestores públicos sobraram nos enredos e no teatro carnavalesco encenado no maior palco a céu aberto do mundo.
 

A Paraíso do Tuiuti virou a queridinha da web e engrossou uma campanha nos grupos de zaps para que fosse escolhida como a melhor história de Carnaval contada em rede nacional. A Escola pegou carona na imagem do impopular presidente Michel Temer (MDB). Um “vampiro neoliberalista” colocado no alto de um carro alegórico. A releitura de um navio negreiro e o grande feitor a chibatear os velhos e os novos escravos. Com apoio de “paneleiros”, “patinhos da Fiesp” e “manifantoches” vestidos de seleção brasileira. O público respondeu com um “Fora Temer”.
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O enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?” não se enraizou na efeméride dos 130 anos da Lei Áurea. Trouxe passado, com cenas fortes de negros silenciados, legiões de pretos velhos e repaginou o tema com uma ironia à permanência dos cativeiros contemporâneos do Brasil.
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Cada ala, uma crítica. As reformas trabalhista e previdenciária se juntaram à denúncia da precarização do trabalho no espaço dos “Guerreiros da CLT”. A Paraíso do Tuiuti, do carnavalesco Jack Vasconcelos, trouxe samba e incômodo para golpistas e petralhas. E foi a volta por cima da agremiação, depois de um 2017 com acidente e morte na avenida.
 

A Estação Primeira de Mangueira deu e recebeu porrada. Veio com um samba-recado para o prefeito Marcelo Crivella (PRB). “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”, além de protestar contra o corte de parte da verba milionária repassada pela Prefeitura do Rio, quis mostrar que o Carnaval pode ser feito com simplicidade.
 

Mas não se viu tanta simplicidade assim. A Mangueira não deixou de ser suntuosa na pista e fez de Crivella um “Judas” pendurado em um dos carros alegóricos. O prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal, respondeu que a Verde e Rosa praticou “intolerância religiosa” e que, mesmo com o corte em 20%, as escolas abocanharam R$ 19,5 milhões. O descontentamento é que, com exceção da União da Ilha, as agremiações apoiaram Crivella na última eleição. Daí o “traidor”.
 

Se houve queixume de traição e intolerância entre Mangueira e Crivella, sobrou aceitação das diferenças na Salgueiro. A Escola trouxe a trans Kamilla Carvalho, 30, como musa da Sapucaí. Ela foi rainha de Kush — uma antiga civilização africana. Foi parte de um grito contra a discriminação às mulheres, principalmente às negras. Um espetáculo cênico à parte e que coloca a Acadêmicos como favorita ao título ao lado de Mangueira, Portela e União da Ilha. Votação que acontece hoje à tarde.
 

A Beija-Flor, que trouxe a cantora Pabllo Vittar entre os destaques, encerrou os desfiles do Rio e arrastou torcedores. A escola foi criticada. Não pelo enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, que bateu forte na corrupção de políticos e empresários, mas por falhas no desfile. 

 

JUDEUS DE RECIFE
 

A Portela, campeã 2017 do Rio, levou o enredo sobre os judeus portugueses que saíram de Recife e fundaram Nova York. Majestosa, mas sem grandes inovações e com alguns erros. 

 

COMILANÇA BRASILEIRA
 

A Unidos da Ilha do Governador contou a história da gastronomia brasileira. Trouxe alegorias caprichadas e a bateria de Mestre Ciça nota dez. Saiu como candidata ao título.   

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