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Enem está ficando prova cada vez mais específica, dizem especialistas
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Enem está ficando prova cada vez mais específica, dizem especialistas

| EDUCAÇÃO | Da primeira prova, aplicada ainda na década de 1990, até a última edição, a prova do Enem tem se tornado cada vez mais conteudista, dizem especialistas
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Em 2018, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) completa 20 anos de aplicação e, principalmente na última década, quando se tornou pré-requisito para ingresso nas universidades, alunos e professores acompanharam mudanças nas provas a cada edição. Com tom menos transdisciplinar e cada vez mais conteudista, estudantes e educadores concordam que o exame tem se tornado mais específico.


Enquanto para alguns a mudança chega como forma de estimular aulas mais qualificadas; para outros, o novo estilo de prova é segregador e desestimula o ingresso de estudantes da rede pública de ensino nas universidades.

 

Marília da Costa, 18, é estudante do Colégio Juvenal de Carvalho e afirma que, especificamente neste ano, a prova ficou ainda mais complexa. “Eu faço o exame desde o 1º ano do ensino médio e nesta edição a prova ficou menos interpretativa e mais específica”.


Professor e coordenador do projeto Alcance, Maurício Santos considera que a prova tem se tornado cada vez mais voltada para o que era o antigo vestibular, com provas direcionadas a áreas de ensino, com questões de conhecimento específico e menor potencial interpretativo. Ele atribui as mudanças ao alinhamento do pensamento político da atual gestão do Governo Federal.


“A própria mudança da banca de correção ocorreu para transitar melhor para um conteúdo mais tradicional. Isso, na minha opinião, beneficia muito mais estudantes de escola privada do que da escola pública, onde nós precisamos trabalhar temas transversais, que também são muito importantes”, afirma.


Apesar de também considerar este ponto, Fábio Frota, professor e coordenador do Academia Enem, afirma que esta pode ser uma forma de trabalhar esses temas ainda mais do ensino público. “Claro que devia ser uma demanda de dentro da escola para o Exame, mas essa pode ser uma forma de estimular esse ensino mais específico na rede pública”.

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Para Marcelo Pena, coordenador de ensino do Colégio Farias Brito, o processo conteudista do Enem vem ocorrendo principalmente desde 2009, quando a prova passou a ser pré-requisito de ingresso na maioria das universidades públicas e deixou de ter 63 questões para ganhar as atuais 180. “Hoje, esse aluno precisa realmente ter o conhecimento mais profundo dos conteúdos”.


Inicialmente, o exame não foi pensado para ser seletivo, e sim uma forma de o aluno ter conhecimento do próprio perfil após a conclusão do ensino médio, explica Ana Maria Bezerra, doutora em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). “Antes de exigir que os alunos tivessem conhecimento de conteúdos fixos, de repetição, os alunos eram chamados a atender algumas problematizações, interessava que ele respondesse ao seu modo, e não com caráter conteudista”. Para ela, a prova se distancia ano a ano desse princípio.


“Qualquer tipo de seleção é excludente, e Enem está ficando excludente como outras avaliações seletivas”, conclui.

 

 

EDUARDA TALICY

eduardatalicy@opovo.com.br

 

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