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Pela gentileza e inclusão
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Pela gentileza e inclusão

A mais jovem primeira-ministra do mundo mostra suas bandeiras
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Primeira-Ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern atende jornalistas em coletiva realizada no edifício sede da Justiça em Christchurch. Um refugiado sírio e seu filho foram sepultados na última quarta-feira nos primeiros funerais das vítimas do ataque as mesquitas, após vários dias de homenagens às vítimas.  (Foto: MARTY MELVILLE/AFP)
Foto: MARTY MELVILLE/AFP Primeira-Ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern atende jornalistas em coletiva realizada no edifício sede da Justiça em Christchurch. Um refugiado sírio e seu filho foram sepultados na última quarta-feira nos primeiros funerais das vítimas do ataque as mesquitas, após vários dias de homenagens às vítimas.

A mais jovem primeira-ministra do mundo, Jacinda Ardern, já tem dez anos de carreira política e coleciona uma série de pioneirismos. Mas foi após uma tragédia que ganhou os holofotes. Frente às 50 vítimas mortas em ataque de um supremacista branco a uma mesquita na Nova Zelândia, a chefe de Estado do arquipélago pregou tolerância religiosa, cobrou medidas de empresas de redes sociais e prometeu mudar o acesso a armas de disparo rápido no país. Mas a parte do discurso que mais marcou e ganhou destaque em jornais de diversos países e línguas foi o enfrentamento ao atirador.

"Ele é um terrorista, um criminoso, um extremista, mas ele será, quando eu falar, alguém sem nome, e eu imploro a vocês: digam o nome daqueles que se foram em vez do nome daquele que os tirou de nós. Ele pode ter buscado a notoriedade, mas nós, na Nova Zelândia, não lhe daremos nada, nem mesmo o seu nome", disse em discurso aos colegas de parlamento. Ela defendeu que tanto a mídia como os políticos condenassem o assassino ao anonimato. Parece ter funcionado. Entre os recentes ataques de extremistas brancos, este foi o que teve menos evidência midiática. A premier também apelou para que as mídias sociais não sejam plataformas para atos terroristas. E demandou que as empresas trabalhem para filtrar e possam banir conteúdos de ódio e extremismo.

Conhecida pela simpatia e carisma, Jacinda é criticada justamente por essas características. Oposicionistas dizem que esses traços passam ideia de fraqueza. "É preciso força para ser um líder empático", rebateu em entrevista à BBC em novembro do ano passado. Gentileza, tolerância e diálogo têm centrado as principais mensagens da premier.

Na contramão da tendência mundial do conservadorismo, uma jovem voz feminina lidera ações progressistas. Ela foi a primeira mulher eleita presidente da organização internacional de jovens socialistas. O cargo permitiu que viajasse por diversos países, incluindo os do mundo árabe. Ainda que seu país esteja entre os que emitem poluentes, ela se defensora do desenvolvimento limpo e sustentável, que previna o avanço das mudanças climáticas. Após as declarações contra o racismo na última semana, ela tem recebido ameaças de morte, já investigadas pelas autoridades neozelandesas.

Principais vítimas do ataque em Christchurch, cidade na ilha Sul da Nova Zelândia, muçulmanos elogiaram a conduta da primeira-ministra, que simbolicamente usou um véu (hijab na cultura islâmica) na cabeça para consolar as famílias das vítimas e sobreviventes. O ato foi considerado um sinal de respeito. Jacinda cresceu entre as cidades de Morrinsville e Murupara, criada como Mórmon, também uma minoria religiosa do país. Afastou-se da igreja em 2005.

Na descrição da página oficial do governo, Jacinda é considerada a chefe de Estado que teve ascensão mais rápida na política neozelandesa. "Quando eleita sequer era líder do partido no parlamento", diz a descrição. No meio da campanha, ela assumiu a liderança após desistência de colega de partido, Andrew Little, por enxergar uma derrota iminente. Ela alcançou vitória que já era considerada impossível. Seu Partido Trabalhista tinha apenas 20% de popularidade.

Em uma guinada, Jacinda construiu coalizão com os conservadores anti-imigração do NZFP (New Zealand First Party) e o partido Verde. Com 63 assentos, derrotou o experiente político Bill English. Apenas três meses depois de assumir o cargo de primeira-ministra descobriu-se grávida. Foi a primeira líder mundial a tirar licença maternidade. Com a filha ainda bebê, participou de conferências globais no exterior.

"Eu não quero passar a impressão de que sou algum tipo de mulher-maravilha ou que se deve esperar que as mulheres façam tudo só porque eu faço. Eu não faço tudo", afirmou, na ocasião. Jacinda é casada com o apresentador de televisão Clarke Gayford.

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