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Campanha para reconstruir reserva ambiental em Icapuí aposta na solidariedade
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Campanha para reconstruir reserva ambiental em Icapuí aposta na solidariedade

Fundação Brasil Cidadão lança campanha para reerguer Estação Ambiental da praia de Requenguela, em Icapuí. Facções criminosas destruíram o equipamento durante atentados
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Zenilde Pereira, pedagoga da Estação Ambiental de Requenguela, em Icapuí, percorre o que restou da sede do equipamento   
 (Foto: JÚLIO CAESAR
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Foto: JÚLIO CAESAR Zenilde Pereira, pedagoga da Estação Ambiental de Requenguela, em Icapuí, percorre o que restou da sede do equipamento

A sede da Estação Ambiental Mangue Pequeno, na praia de Requenguela, em Icapuí, no litoral cearense, precisa ser reconstruída das cinzas. Alvo da onda de ataques das facções no Ceará, o centro coletivo de educação diferenciada foi incendiado no mês passado. O fogaréu derreteu uma memória arquivada de mais de 10 anos de trabalho, desapareceu com 16 computadores, silenciou 15 flautas e 20 violões, ardeu documentos, três câmeras fotográficas, material científico, móveis, livros...

Agora, passado o luto da perda, a Fundação Brasil Cidadão está à procura de parcerias para refazer o espaço destruído. Pessoas, empresas ou grupos interessados em aprender também com o fogo e rebrotar.

Zenilde Pereira, 30, pedagoga da Estação Ambiental, conta que o prédio era roteiro para turistas, cientistas e ponto de encontro para atividades de educação ambiental para crianças e adolescentes. Filhos das 50 famílias da praia da Requenguela que vão transformando em sustentável a relação com o mangue daquele pedaço do Atlântico.

A própria pedagoga, formada pela Faculdade Vale do Jaguaribe (FVJ) e especializada em Letramento e Alfabetização pela Universidade Maurício de Nassau, é exemplo da efetividade do trabalho na Estação Ambiental. Antes de orientar 16 meninos e meninas no projeto De Olho na Água, da Fundação Brasil Cidadão e Petrobras, foi aprendiz das lições sobre a convivência com o mar da comunidade onde rebentou.

Quando ainda era aluna, Zenilde Pereira perguntou a um ex-coordenador da Estação qual curso deveria escolher para ser instrutora da Fundação. "Pedagogia, me respondeu o Ari (José Arimateia). Aceitei o conselho. Acabei refazendo o caminho de volta para compartilhar o que recebi aqui", lembra.

Ao lado da sede da Estação, um ninhal de garças, por sorte, não foi atingido pelo fogo. As labaredas derreteram a caixa d'água e paralisaram um catavento. Porém, comemora Zenilde, não destruíram o meliponário das abelhas jandaíras nem os dois viveiros de mudas para reflorestamento do mangue e das ruas da colônia de pescadores, comerciantes e carpinteiros de embarcações.

Uma das atividades de campo das crianças e adolescentes no ecossistema manguezal, sempre acompanhados por educadores ambientais, é colher sementes de mangue preto, vermelho, branco para replantar áreas degradadas pelo homem.

No viveiro da flora marinha há um berçário tomado por saquinhos pretos de terra fecundada. As plantas são monitoradas por 4 meses e, depois, levadas pelos estudantes para o replantio na maré seca. Por ano, a meta é produzir 10 mil pés de mangue. "Em uma década de educação ambiental, recuperamos 9 hectares de acordo com relatórios enviados à Petrobras. A empresa financia o projeto De Olho na Água", explica a pedagoga.

O incêndio atrapalhou o trabalho da Fundação Brasil Cidadão, mas não interrompeu as ações. Bosco Carbogim, presidente da instituição e ambientalista desde os anos 80, conseguiu do governo do Ceará a promessa de apoio para a reconstrução da sede da Estação. São R$ 400 mil para reerguer o equipamento.

Enquanto isso não vira realidade, as aulas com crianças e adolescente e a conversa com turistas e pesquisadores passaram para a ser ministradas em tendas cedidas pelo Estado.

Carbogim Também enviou para a Petrobras um relatório sobre a ação criminosa e um pedido de recurso para auxiliar na reconstrução de uma nova sede. A estatal, explica o presidente da Fundação, é patrocinadora de várias iniciativas em Icapuí.

Graças à Petrobras foi possível construir, em 2009, a Estação Ambiental e a Passarela do manguezal. Uma ponte de madeira de 240 metros que atravessa parte do mangue até o mar de Requenguela.

Paralelo aos pedidos, a Fundação lançou uma campanha de financiamento coletivo. Quem quiser fazer doações pode acessar o benfeitoria.com/estacaoambiental.

FORTALEZA,CE,BRASIL,13.02.2019: Ong De olho na água teve sua sede incendiada nos ataques criminosos das facções em janeiro deste ano. Ong trabalha há mais de 18 anos com o cuidado com o mangue e as águas em icapuí, no interior do Ceará.  (fotos: Fabio Lima/ O POVO)
FORTALEZA,CE,BRASIL,13.02.2019: Ong De olho na água teve sua sede incendiada nos ataques criminosos das facções em janeiro deste ano. Ong trabalha há mais de 18 anos com o cuidado com o mangue e as águas em icapuí, no interior do Ceará. (fotos: Fabio Lima/ O POVO)

DOAÇÕES

A sede da Estação Ambiental Mangue Pequeno, na praia de Requenguela, em Icapuí, no litoral cearense, precisa ser reconstruída das cinzas. Alvo da onda de ataques das facções no Ceará, o centro coletivo de educação diferenciada foi incendiado no mês passado. O fogaréu derreteu uma memória arquivada de mais de 10 anos de trabalho, desapareceu com 16 computadores, silenciou 15 flautas e 20 violões, ardeu documentos, três câmeras fotográficas, material científico, móveis, livros...

Agora, passado o luto da perda, a Fundação Brasil Cidadão está à procura de parcerias para refazer o espaço destruído. Pessoas, empresas ou grupos interessados em aprender também com o fogo e rebrotar.

Zenilde Pereira, 30, pedagoga da Estação Ambiental, conta que o prédio era roteiro para turistas, cientistas e ponto de encontro para atividades de educação ambiental para crianças e adolescentes. Filhos das 50 famílias da praia da Requenguela que vão transformando em sustentável a relação com o mangue daquele pedaço do Atlântico.

A própria pedagoga, formada pela Faculdade Vale do Jaguaribe (FVJ) e especializada em Letramento e Alfabetização pela Universidade Maurício de Nassau, é exemplo da efetividade do trabalho na Estação Ambiental. Antes de orientar 16 meninos e meninas no projeto De Olho na Água, da Fundação Brasil Cidadão e Petrobras, foi aprendiz das lições sobre a convivência com o mar da comunidade onde rebentou.

Quando ainda era aluna, Zenilde Pereira perguntou a um ex-coordenador da Estação qual curso deveria escolher para ser instrutora da Fundação. "Pedagogia, me respondeu o Ari (José Arimateia). Aceitei o conselho. Acabei refazendo o caminho de volta para compartilhar o que recebi aqui", lembra.

Ao lado da sede da Estação, um ninhal de garças, por sorte, não foi atingido pelo fogo. As labaredas derreteram a caixa d'água e paralisaram um catavento. Porém, comemora Zenilde, não destruíram o meliponário das abelhas jandaíras nem os dois viveiros de mudas para reflorestamento do mangue e das ruas da colônia de pescadores, comerciantes e carpinteiros de embarcações.

Uma das atividades de campo das crianças e adolescentes no ecossistema manguezal, sempre acompanhados por educadores ambientais, é colher sementes de mangue preto, vermelho, branco para replantar áreas degradadas pelo homem.

No viveiro da flora marinha há um berçário tomado por saquinhos pretos de terra fecundada. As plantas são monitoradas por 4 meses e, depois, levadas pelos estudantes para o replantio na maré seca. Por ano, a meta é produzir 10 mil pés de mangue. "Em uma década de educação ambiental, recuperamos 9 hectares de acordo com relatórios enviados à Petrobras. A empresa financia o projeto De Olho na Água", explica a pedagoga.

O incêndio atrapalhou o trabalho da Fundação Brasil Cidadão, mas não interrompeu as ações. Bosco Carbogim, presidente da instituição e ambientalista desde os anos 80, conseguiu do governo do Ceará a promessa de apoio para a reconstrução da sede da Estação. São R$ 400 mil para reerguer o equipamento.

Enquanto isso não vira realidade, as aulas com crianças e adolescente e a conversa com turistas e pesquisadores passaram para a ser ministradas em tendas cedidas pelo Estado.

Carbogim Também enviou para a Petrobras um relatório sobre a ação criminosa e um pedido de recurso para auxiliar na reconstrução de uma nova sede. A estatal, explica o presidente da Fundação, é patrocinadora de várias iniciativas em Icapuí.

Graças à Petrobras foi possível construir, em 2009, a Estação Ambiental e a Passarela do manguezal. Uma ponte de madeira de 240 metros que atravessa parte do mangue até o mar de Requenguela.

Paralelo aos pedidos, a Fundação lançou uma campanha de financiamento coletivo. Quem quiser fazer doações pode acessar o benfeitoria.com/estacaoambiental.

Fundação também recebe equipamentos

No meio das cinzas do que restou da Estação Ambiental de Requenguela, uma câmera fotográfica. Eram três máquinas. O equipamento era utilizado para os registros das atividades no mangue e nas aulas que aconteciam na sede do centro de referência. A campanha para a reconstrução do lugar também aceita doação de câmeras.

O USO DO DINHEIRO DOADO

O site da Fundação Brasil Cidadão presta conta, diariamente, sobre o quanto já arrecadou na campanha para a reconstrução da Estação Ambiental de Icapuí.

Até a última sexta-feira, 15, foram doados R$ 16.898,00. A meta é arrecadas R$ 24 mil para a compra de mobiliário básico e reposição de material de trabalho para atividades ambientais e educacionais.

Segundo informação da Fundação, 44,4% do arrecadado serão utilizados em mobília.

38,6% na compra de computadores. 12,8% em equipamentos. 2,2% em material ambiental e 2% em material de escritório.

"Queimaram nossa história"

Antes do incêndio, Wesley David, 21, dividia o tempo entre aulas de flauta, cuidados com os viveiros de mudas e a coleta de sementes no manguezal. Bolsista da Fundação Brasil Cidadão, conta que, enquanto não entra numa universidade para cursar Biologia, vai colocando em prática o que aprendeu durante os anos em que foi educando dos projetos da Estação Ambiental.

No dia do incêndio, 7 de janeiro, foi impossível tentar conter o fogo. "Muita gente correu para lá, mas a Estação era feita também de troncos de carnaúba e palha e as chamas se espalharam rápido".

Para o rapaz, os criminosos destruíram além do prédio construído de material sustentável. "Tinha nossa história e parte da infância e da adolescência de muita gente daqui". E qual teria sido a motivação dos criminosos para incendiar a sede da Estação? Wesley aposta que o nome do Governo Federal e da Petrobras, em uma placa, teria indicado erradamente que o equipamento pertencia ao poder público. "Mas era da comunidade".

Estação beneficia 8 comunidades na difusão de tecnologias socais

O trabalho de educação ambiental da Estação Mangue Pequeno, mantida pela Fundação Brasil Cidadão, beneficia oito comunidades em Icapuí. Além de Requenguela, onde está sediado o equipamento, as localidades de Barrinha de Mutamba, Ponta Grossa, Córrego do Sal, Assentamento Vila Nova II, Arisa, Olho d´água e Melancias de Cima já foram beneficiadas com algum projeto.

Ana Paula Lima, socióloga e coordenadora local dos ações da Fundação, explica que a Estação é um centro difusor de tecnologias sociais e de práticas sustentáveis nos povoados que vivem em função do mar.

Preservar o manguezal, afirma Paula Lima, é manter vivo o "coração" da comunidade. A ideia, compartilhada principalmente entre crianças e adolescente, é formar novos seres humanos que "respeitem incondicionalmente o mangue e seus ciclos da vida", diz.

No contraturno escolar, os estudantes da rede ensino de Icapuí compartilham na Estação Ambiental o que na escola formal não é rotina. O espaço é, por exemplo, lugar de convergência das ações do Projeto "De Olho na Água". Lições sobre o manejo correto dos recursos hídricos disponíveis entre o mar e o continente.

Paula Lima acredita que trabalhar com os filhos de pescadores, comerciantes e carpinteiros de embarcações é também um atalho para chegar aos adultos. Há algum tempo, ninguém liberava uma tartaruga presa numa rede de pesca. "Hoje não só libertam como informam a ocorrência aos educadores na Estação", diz.

De acordo com o site da Fundação, a "escola de educação ambiental" é também posto avançado de apoio à atividade científica de monitoramento e pesquisa.

Em 2007, por exemplo, juntamente com a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas (Aquasis), a Fundação Brasil Cidadão lançou o guia de Aves Costeiras do Icapuí. Dois anos depois, publicou o livro Mamíferos de Icapuí com destaque para a ocorrência do peixe-boi marinho. E em 2012, editou o Guia de Plantas visitadas por abelhas da Caatinga. (Demitri Túlio)

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