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Acidente de infância fez Émerson Iser Bem se render ao atletismo

Como o próprio fundista destacou, muito provavelmente Valtoir não entendia o porquê ele corria, assim como os outros habitantes da cidade de Santo Antônio do Sudoeste (PR) na década de 1980. Em um local onde somente o sargento da polícia praticava o esporte para manter a forma física, e que os primos mandavam Émerson Iser [?]
20:15 | Out. 08, 2017
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Como o próprio fundista destacou, muito provavelmente Valtoir não entendia o porquê ele corria, assim como os outros habitantes da cidade de Santo Antônio do Sudoeste (PR) na década de 1980. Em um local onde somente o sargento da polícia praticava o esporte para manter a forma física, e que os primos mandavam Émerson Iser Bem pegar uma inchada e ir carpir, a conquista da prova é vista como recompensa: recompensa pela desconfiança familiar, recompensa pelas lesões que o afastaram das Olimpíadas.

Mas, não distante da cultura que permeava sua cidade, Iser Bem não começou a praticar o atletismo por gosto, ?do nada?, desde muito cedo. Pelo contrário: o então leiteiro da pequena produção caseira da família, apaixonado por esportes com bola e goleiro de futebol viu-se obrigado a procurar outro meio para exercitar-se após um grave acidente na infância.

?Eu gostava muito de esporte com bola. Sempre gostei de futebol, handebol, basquete. Nós morávamos na área rural de uma cidade pequena, e desde os sete anos de idade eu entregava leite. Em cidades pequenas, tem a figura do leiteiro, que as pequenas propriedades produzem leite e vendem na cidade. Esta era a minha tarefa. Eu fazia isto de bicicleta sempre, então tinha muita força muscular, um certo condicionamento. E naquela região do Paraná, a terra é muito grudenta, é roxa. Então quando chovia eu não conseguia fazer entrega de bicicleta, ia com cavalo. E os arreios que usavam não eram convencionais, de couro, eram de corda. Aí um dia, eu fui me desvencilhar do cavalo e meu irmão subiu em uma mesa, onde tinham umas tralhas, pegou uma mangueira e cutucou o ouvido do cavalo bem quando eu estava amarrando. Aí estourou o meu dedo, a corda cortou um pedaço. Eu tinha 11, 12 anos?, relatou.

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À época, sem o devido acompanhamento médico, o polegar da mão esquerda de Iser Bem, já pela metade, encheu-se de infecção, afastando-o das atividades que pudesse ter contato com bola por um bom tempo. Em paralelo, reportagens televisivas de Joaquim Cruz, o único brasileiro campeão olímpico nas pistas de atletismo, na prova dos 800m, em Los Angeles 1984, serviram de inspiração.

Foi aí, então, que o jovem resolveu correr e dar uma oportunidade ao esporte. No intervalo entre as edições da única corrida promovida pela prefeitura de sua cidade, que cruzava a fronteira com a Argentina e acontecia uma vez por ano, o fundista treinava como podia nas pastagens da área rural pertencente ao finado avô: descalço, sem relógio para registrar o tempo e sem nenhuma orientação técnica, ele deixava marcado na roça as primeiras pegadas de uma respeitável história de dedicação.

*Especial para a Gazeta Esportiva

**Não perca: nesta segunda-feira, às 10h (de Brasília), Émerson revela como foi lidar com a fama após vencer Paul Tergat

Gazeta Esportiva

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