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25 anos após ouro, Giovane vê Brasil de 92 superior ao de 2004

Para quem nasceu em um país que o futebol é quase uma religião, transformar o vôlei no segundo esporte mais popular do Brasil não é qualquer coisa. O esporte é mágico porque é imprevisível. E quem poderia prever que um grupo de jovens com pouca experiência nas quadras, guiado por um técnico vindo da seleção [?]
09:50 | Ago. 09, 2017
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Para quem nasceu em um país que o futebol é quase uma religião, transformar o vôlei no segundo esporte mais popular do Brasil não é qualquer coisa. O esporte é mágico porque é imprevisível. E quem poderia prever que um grupo de jovens com pouca experiência nas quadras, guiado por um técnico vindo da seleção infanto-juvenil, seria capaz de entrar para a história ao faturar a primeira medalha de ouro olímpica do Brasil em esportes coletivos? Já se passaram 25 anos, mas o verão de 1992, em Barcelona, dificilmente será esquecido.

Giovane, um dos principais personagens daquela conquista, chegou a sentir o gostinho de faturar uma medalha de ouro olímpica novamente em 2004, em Atenas, na Grécia. Mais experiente e tido como um dos líderes do grupo na ocasião, o ponta teve o privilégio de viver por duas vezes o sonho de milhares de atletas, entretanto, seu carinho pelo título nos Jogos em Barcelona é especial.

?A Seleção de 1992 era melhor, sem dúvida, mas coletivamente a de 2004 ganhava?, disse Giovane, atual técnico da Seleção Brasileira sub-23 e do Sesc-RJ.

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Tande, Marcelo Negrão, Giovane Gávio, Maurício e Carlão. Essa era a aposta de Zé Roberto nas Olimpíadas. Um time com pouco prestígio, composto, em sua maioria, por atletas jovens, sem grandes currículos, porém, que revolucionou a forma de se jogar voleibol e conheceu a glória no Palau Sant Jordi.

?O Zé Roberto tinha um papel importante para a gente, porque ele era um técnico também jovem. Saiu da Seleção juvenil e tinha aquela forma muito próxima de se relacionar com a gente, isso nos ajudava bastante. A gente tinha trabalhado um ano com o Bebeto e um ano com o Josenildo, dois técnicos mais velhos, com perfis diferentes. O Zé era jovem e falava muito com a gente?, disse Giovane Gávio, que teve o privilégio de, aos 22 anos, integrar aquele time histórico. ?A decisão de jogar com quatro atacantes foi determinante, foi algo que surpreendeu o mundo?.

E foi mesmo. Não deu para as favoritas Cuba, Holanda e nem mesmo para a Equipe Unificada, batizada desta forma por conta da queda do bloco soviético em 1991. Na fase de grupos o Brasil ainda venceu equipes mais fracas, como a Coreia do Sul e Argélia, antes de se classificar para as quartas de final em primeiro lugar do Grupo B. Com apenas dois sets perdidos em cinco jogos, a Seleção começava a sentir que dava para sonhar mais alto do que com um mero quarto lugar, ideia inicial da comissão técnica.

?Pelo fato de ser um grupo jovem, o planejamento era para sermos campeões em 1996. Chegamos a Barcelona tranquilos, sem muita euforia de vencer, sem pressão. Jogamos soltos o tempo inteiro, sem essa questão de favoritismo, equipe entre as melhores? não tinha nada disso. Éramos muito jovens, mas ao mesmo tempo muito bem preparados?, relembra Giovane.

?Na época, as grandes favoritas eram a Itália, Cuba, Rússia, que tinha um timaço, Holanda e EUA. Dessas cinco, três estavam na nossa chave. A nossa classificação foi marcada por quebrar barreiras. Ganhamos da Holanda na fase de grupos, então dava para ganhar de todo mundo. Saímos em primeiro lugar do grupo, então a construção daquela medalha começou na fase de grupos. Essa forma de jogar foi determinante, porque a gente estava sempre em vantagem com relação ao adversário. Qualquer um deles?, completou.

Fase final

Após a campanha irretocável na primeira fase, o Brasil teve de lidar com os holofotes. Inevitavelmente as expectativas aumentaram, e os comandados de Zé Roberto Guimarães tiveram de seguir se superando para romper mais barreiras. O contundente 3 a 0 sobre o Japão nas quartas de final forçou o incômodo reencontro contra os EUA, rival responsável por frustrar em 1984 os planos da Seleção Brasileira, que teve de se contentar com a medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles. Nos Jogos seguintes, em Seul, em 1988, os norte-americanos novamente acabaram com a trajetória verde e amarela rumo ao ouro.

Depois de um primeiro set na semifinal contra os EUA tenso e vencido pelos rivais (15 a 8), o Brasil ia se aproximando de mais uma eliminação. Mas aquele time tinha um brilho especial e, de maneira avassaladora, conseguiu virar o jogo ? 3 a 1, parciais de 8/15, 15/8, 15/9 e 15/12 ? para dar fim ao fantasma das duas últimas Olimpíadas e conseguir a vaga na grande final. Na decisão pelo ouro, bastou à Seleção manter o nível de jogo mostrado ao longo de toda a campanha para, assim como ocorreu na fase de grupos, superar a alta equipe da Holanda por 3 a 0 e pendurar o ouro no peito.

Em Atenas 2004, o ponta, muito mais experiente, já com 33 anos, voltou a subir no lugar mais alto do pódio olímpico. Tido como um dos líderes daquele grupo comandado por Bernardinho, ele traçou um paralelo entre as duas equipes pelas quais fez parte e crê que a conquista de 1992 foi elementar para colocar o Brasil no patamar mais alto do vôlei mundial.

?A gente percebe a diferença já na preparação. O time de 2004 era um dos favoritos para a olimpíada, tinha a pressão. Já treinávamos no CT aqui de Saquarema, que foi também uma conquista importantíssima do voleibol brasileiro. Os jogadores já tinham experiências internacionais grandes, era uma outra realidade. A Seleção de 2004 era muito mais consciente, com os atletas ganhando bem, assumindo papéis de responsáveis, de ídolos do nosso país. Então a grande diferença foi essa. Em Barcelona nós não éramos muito populares. Em 2004 já era uma Seleção consagrada, uma Seleção mundial. Em 92 havia muita incerteza?, concluiu.

Gazeta Esportiva

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