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Para famílias das vítimas, auxílio saúde da Chape é atitude paliativa

Prestes a completar um ano, o trágico acidente aéreo que matou 71 pessoas, entre elas quase toda a delegação da Chapecoense que viajava rumo à Colômbia para a final da Copa Sul-Americana, ainda está longe de ser resolvido. Além de todo o imbróglio jurídico e de investigação, alguns temas polêmicos ainda circundam a relação do [?]
08:15 | Nov. 02, 2017
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Prestes a completar um ano, o trágico acidente aéreo que matou 71 pessoas, entre elas quase toda a delegação da Chapecoense que viajava rumo à Colômbia para a final da Copa Sul-Americana, ainda está longe de ser resolvido. Além de todo o imbróglio jurídico e de investigação, alguns temas polêmicos ainda circundam a relação do clube catarinense com as famílias das vítimas que estavam no fatídico voo da LaMia no dia 29 de novembro de 2016.

Na última segunda-feira, um novo capítulo dessa história foi escrito diante da parceria firmada entre a Chapecoense e a Associação Brasileira da Vítimas do Acidente com a Chapecoense (ABRAVIC). Segundo nota oficial, que ainda traz o presidente da Chape, Plinio David de Nes Filho, ao lado de Gabriel de Andrade, presidente da ABRAVIC, o clube vai disponibilizar R$ 28,8 mil por mês à associação citada para que seja empregado como uma espécie de auxílio saúde. Com isso, cada família vai receber pouco mais de R$ 400,00 mensais até outubro de 2018, data de vencimento do compromisso e do início de novas tratativas sobre o tema.

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Como a ABRAVIC tem pouco mais da metade do número de famílias associadas em comparação com a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AFAV-C) e é presidida por um advogado alheio ao acidente aéreo de forma pessoal, o contrato causou estranheza e gerou desconforto. Procurado pela Gazeta Esportiva, o clube comentou o caso.

?Nós entendemos que algo deveria ser feio. Eles (ABRAVIC) pediram auxílio mensal e recursos, nós sugerimos e aí foi uma observação feita pela diretoria de que isso seria feito na saúde, e eles aceitaram. Esse recurso está disponível para todas as 64 famílias. Todo o quadro da AFAV-C ou as famílias que não participam de nenhuma das duas associações têm o recurso acessível. Foi exigência da diretoria da Chapecoense?, explicou Fernando Mattos, diretor de comunicação da Chapecoense e responsável por intermediar as conversas junto aos familiares.

Ainda segundo Mattos, ?todos estavam cientes disso desde o começo? e a parceria só foi feita com a ABRAVIC e não com a AFAV-C ?porque a responsabilidade para prestação de contas é da ABRAVIC. A ABRAVIC recebe o dinheiro e presta contas?.

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A presença de uma pessoa que nunca teve relação com o clube ou com qualquer uma das vítimas até o dia do acidente como presidente e fundador da uma associação que busca maneiras de colaborar com as famílias por meio de patrocínios e/ou auxílios financeiros mensais também gera desconfiança.

?O Gabriel (de Andrade, presidente da ABRAVIC), desde o primeiro momento com o clube, nos passou uma boa impressão, já esteve em Chapecó em cinco oportunidades e tem o respaldo de várias famílias que são vítimas do episódio. Nós temos o mesmo relacionamento com AFAV-C, de bom nível. O Gabriel está aqui um pouco mais tempo, eu conheci o Gabriel através de familiares das vítimas do acidente, sempre teve um contato de alto nível?, afirmou Fernando Mattos, antes de revelar uma troca programada no comando da ABRAVIC.

?Ele está encerrando a sua gestão. Ele participou muito mais como um técnico, ele se encarregou de toda constituição por acreditar na causa humanitária. Já estão fazendo um processo de sucessão dentro da ABRAVIC, ele já tem um nome para assumir?.

Divergência e prioridades

Responsável por representar a maior parte das famílias das vítimas do acidente aéreo que transportava não só a delegação da Chapecoense, como também jornalistas e convidados, a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AFAV-C) se mostrou surpresa com o anúncio do acordo entre o clube e a ABRAVIC.

?Nós sabíamos que estava em análise, ouvimos do clube que todos as famílias teriam acesso a isso, mas estava em análise. Soubemos que foi aprovado pela imprensa?, disse Mara Paiva, viúva do ex-jogador, técnico e comentarista Mario Sérgio e vice-presidente da AFAV-C.

?Eu seria mentirosa se eu dissesse que isso não foi discutido. Foi, sim, na última reunião. Mas, ao invés de repassar o numerário para a associação, a ideia é que fosse fechado um convênio com uma empresa de saúde. A coisa parou aí. Nós solicitamos que fosse feito um convênio com uma parceria de saúde e a coisa parou aí. Era um projeto. Nós não sabíamos que esse numerário seria depositado para a ABRAVIC?, avisou.

Mara Paiva deixou claro à Gazeta Esportiva que a AFAV-C não vai se opor a qualquer iniciativa que seja benéfica às famílias e rechaçou uma rivalidade com a ABRAVIC, porém, não deixou de ponderar as prioridades distintas das duas associações e enfatizou que o acordo selado na última segunda-feira está longe de ser considerado uma vitória, apesar da recente aproximação com a Chapecoense depois de um início de relação bastante conturbado.

?Nós não temos nenhum interesse em fazer trabalho assistencialista para as famílias. Queremos resolver de forma ampla e definitiva. Nós achamos que esse trabalho da ABRAVIC é importante, só que não pode parar aí. Nós não vamos descansar enquanto não conseguirmos atender o interesse das famílias de forma ampla e definitiva, e não nos referimos a cesta básica, mensalidade R$ 600 para auxílio escolar, R$ 400 de assistência médica??, explicou Mara.

?Não estou menosprezando esse valor, mas o que você faz hoje com R$ 400 para uma assistência médica? Que tipo de assistência médica é essa que você consegue com R$ 400 por mês? Nós somos famílias em que seus provedores foram mortos, pessoas que geravam as receitas do lar?, continuou.

A AFAV-C garante que seguirá concentrando seus esforços para que os responsáveis pelo acidente sejam apontados e para que os seguros que envolviam os contratos referentes a locomoção aérea possam ser destinados aos familiares que perderam seus entes e ainda se viram em uma situação financeira delicada.

?Nossa associação não exige que tenhamos afiliados, tudo que conseguirmos para as famílias associadas, vamos conseguir para todo mundo. Não preciso que você assine comigo. Os meus direitos são os seus direitos?, ressaltou Mara Paiva.

?O clube pode liberar verba para quem ele quiser, tem o direito de fazer isso. O clube não está se negando. Mas, na verdade, isso não é uma vitória. É uma atitude paliativa. Nosso foco não é paliativo, é definitivo?.

Apesar de tomar o devido cuidado para não ser mal interpretada, Mara Paiva não deixou de ser contundente em suas palavras. A viúva de Mario Sérgio destacou a importância do trabalho da ABRAVIC, mas a todo momento chamou atenção para a prioridade de se buscar soluções para adversidades de magnitude superior dentro do caso.

?A ABRAVIC é um primeiro degrau, mas nós somos diferentes tanto em origem quanto em objetivos. A ABRAVIC não nasce de um seio de uma das famílias vítimas do acidente. Eu sou vítima, a Fabienne (Belle, viúva de Cezinha, ex-fisiologista da Chapecoense, e presidente da AFAV-C) também. E o trabalho deles (ABRAVIC) é assistencialista, o nossos não. O deles é resolver uma assistência imediata. É um negócio de uma amplitude muito pequena?, reiterou.

?Não nos atrapalha. Isso até nos ajuda, dá um pouco de refresco para aquelas famílias de uma necessidade muito grande, não podemos ser egoístas. Pensando nas famílias, a gente não pode dizer que a ajuda da ABRAVIC não serve. Serve, mas não é só isso?, concluiu a vice-presidente da AFAV-C.

Confira a nota oficial da Chapecoense sobre o acordo com a ABRAVIC:

A Associação Chapecoense de Futebol, afim de se envolver de forma mais ativa, no auxilio aos familiares das vítimas do acidente aéreo, firmou nesta segunda-feira (30) uma importante parceria com a ABRAVIC (Associação Brasileira da Vítimas do Acidente com a Chapecoense).

A parceria entre o clube e a Associação está inserida dentro da campanha ?13º Jogador? instituída pela ABRAVIC. A campanha tem o objetivo de contribuir com a prestação de auxilio ao familiares da vítimas do acidente aéreo na Colômbia.

O contrato assinado nesta manhã, consiste no auxilio mensal de R$ 28.800,00 (vinte e oito mil e oitocentos reais) à associação, para a execução e promoção de programas de assistência social aos familiares das vítimas (com ênfase para serviços de saúde), sempre zelando pela boa qualidade e transparência das ações e também dos serviços prestados.

O acordo foi firmado até o final do mês de outubro/2018 podendo, em comum acordo ser prorrogado.

Gabriel de Andrade, presidente da ABRAVIC salientou a importância da parceria. ?Hoje foi um dia de grande satisfação para a ABRAVIC, pois após um longo período de aproximação, negociação franca e transparente, além da conquista de confiança, de parte a parte, a Chapecoense abraçou nossa causa e aderiu ao Projeto 13° Jogador, contribuíndo mensalmente com um valor importante para a manutenção e expansão dos nossos projetos sociais, possibilitando a prestação de assistência social de forma mais efetiva e consistente às famílias das vítimas que mais necessitam de ajuda. Agradeço especialmente ao Sr. Maninho e ao Fernando Mattos, pela sensibilidade e disposição contínua em ajudar e por acreditar no nosso trabalho?.

Para o Presidente da Chapecoense, Plinio David de Nes Filho, a assinatura do contrato é mais um grande avanço na aproximação do clube aos familiares a às associações. ?Essa parceria é muito importante, principalmente pelo seu caráter social e também por sua amplitude. A ABRAVIC, já vinha nos atualizando de seus projetos, antes mesmo de sua constituição e agora conseguimos concretizar esse importante passo. A constituição das associações também nos ajuda para que todas as ações possam ser coordenadas de uma melhor maneira e para que todo o repasse seja realizado de forma mais clara e fácil?.

Gazeta Esportiva

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