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Demolindo o preconceito

GEOVANE | Ele descobriu as artes marciais após ficar cego. Com o esporte, encontrou e desbravou novos horizontes e hoje integra a seleção cearense de judô
01:30 | Set. 27, 2019
Autor O POVO
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Tipo Notícia

"Você vai ficar cego". O diagnóstico sem rodeios foi dito pelo oftalmologista para Luiz Geovane, então com 17 anos.

"Achei graça. Me abalei um pouco. O doutor não me enganou. Perguntou se eu trabalhava. Eu era artesão e jardineiro, podava árvores", lembra, sobre a consulta que há 13 anos mudou sua vida.

Os trabalhos foram deixados. Mas surgiram novas paixões. Filho de primos de primeiro grau, Geovane nasceu com cegueira congênita, assim como uma das irmãs. A deficiência avançou de forma gradativa até o hoje massoterapeuta ficar sem a visão.

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O esporte o ajudou a se reinventar à nova realidade. Antes atleta de "futebol de fim de semana" na vizinhança, Geovane, agora cego, foi buscar no esporte o apoio necessário para se inserir na sociedade. A única certeza era a mudança. "Minha mãe me apoiou. Dona Socorro pegou minha mão e disse que iria começar uma nova vida. E ela estava certa."

Geovane procurou uma academia no bairro onde morava, o Conjunto Palmeiras, e começou a praticar muay thai. Com pouco tempo, estava trocando socos com adversário com 100% da visão. Desde então, ficou conhecido como "Demolidor" — em referência ao super-herói cego da Marvel.

"Me abraçaram no muay thai. Deu uma doida e participei do Cearense com o pessoal que enxerga. O professor me adaptou bem para a luta. Eu já sabia a sequência que meu adversário faria e sabia onde ele estava. A luta demorou só 40 segundos. Consegui ganhar dele com um nocaute técnico", conta.

Apesar do sucesso repentino na arte marcial tailandesa, foi vestido no quimono onde ele se sentiu em casa. O judô surgiu na vida de Geovane em 2015. De lá pra cá, colecionou medalhas e vitórias contra adversários cegos e não cegos.

A modalidade se tornou paixão. Depois dos braços da esposa e dos dois filhos, o tatame é o local onde Geovane fica mais à vontade.

"O esporte me ajudou e me incentiva muito. Têm pessoas que desacreditam mesmo sem deficiência. Não tem preço. Tem uma importância muito grande para cada atleta, principalmente, o paralímpico", se declara.

Do judô, Geovane passou a ser multiatleta. Treina — e é destaque — ainda do jiu-jitsu e atletismo.

A falta de patrocínio ainda é um entrave. O judoca precisa investe em rifas e bingos para custear as viagens para as competições em outros estados.

Outro obstáculo é o preconceito. "Em 2015, na Copa Fortaleza, o cara (adversário) falou que judô não era esporte pra cego. Em menos de 15 segundos, dei um ippon (golpe que encerra a luta) e venci. Ele me respeitou e mudou de opinião. 'Esporte é para todos', me disse após a derrota. Levantei a mão dele pra cima como se tivesse vencido por conta do preconceito quebrado."

Luiz Geovane é atleta da seleção cearense de judô e coleciona conquistas na modalidade, como o título do Norte-Nordeste e a Copa Ceará e o 5º lugar no Brasileiro, no Rio de Janeiro.

 

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