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Vale investir nos sulas?

| América do sul | Custo-benefício faz aumentar presença de jogadores de países vizinhos no Brasil. No Estado, porém, ainda não há caso de sucesso
06:00 | Jan. 23, 2019
Autor Lucas Mota
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Lucas Mota Repórter na editoria de Esportes
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Tipo Notícia

Vez ou outra, o futebol sul-americano dá as caras em solo cearense. Em 2019, o Fortaleza aposta suas fichas no zagueiro colombiano Juan Quintero, 23 anos, e no volante uruguaio Santiago Romero, 28 anos. A dupla tentará ser o primeiro caso de sucesso de atletas estrangeiros em campos alencarinos.

Mais recentemente, em 2018, o argentino Germán Pacheco, no Leão, e os colombianos Reina e Cardona, no Vovô, entraram para a estatística de fracassos. Apesar do retrospecto negativo, os dois clubes seguem de olho no mercado sul-americano. O POVO buscou especialistas neste mercado para saber se realmente vale a pena investir nos "sulas".

No Brasil, o mercado sul-americano é uma realidade e abastece cada vez mais o futebol brasileiro. Os principais clubes do País possuem pelo menos dois atletas de países vizinhos. Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri Consultoria, empresa referência em pesquisas sobre o futebol, explica que o custo-benefício dos futebolistas da América do Sul é um dos principais atrativos.

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"Os jogadores sul-americanos têm um bom nível sociocultural, leem bem o jogo e possuem disciplina tática boa, além do nível técnico", diz o especialista.

Entretanto, é preciso bastante cuidado no processo de adaptação desses jogadores. Entre os fatores de dificuldade, estão as diferenças culturais e o idioma - os outros países da América do Sul têm o espanhol como língua oficial. Para o consultor, os clubes devem investir cada vez mais em estruturas para adaptar o atleta estrangeiro.

Fernando cita os exemplos dos dois times gaúchos, Grêmio e Internacional, e o Athletico-PR entre os clubes que têm tido sucesso em adaptar estes atletas. "(Eles) Sempre têm bons jogadores estrangeiros, argentinos e uruguaios principalmente. Eles fazem uma adaptação bem feita, têm menos barreiras culturais em relação à origem desses jogadores, as cidades são mais próximas", avalia.

Os clubes europeus, segundo Fernando, vivenciaram na década passada prejuízos em investimentos em jogadores da América Latina e da África, pois falhavam no processo de adaptação. Mas o cenário mudou a partir do momento em que equipes começaram a investir para adaptar o atleta. "Não adianta trazer de fora, simplesmente colocar para jogar e imaginar que vai se entrosar. Às vezes, acontece. Geralmente são jovens. E jogar no Brasil não é fácil."

Agente de futebol de Coritiba, Pedro Wambier teve uma única experiência com jogador estrangeiro. Ele trouxe o argentino Germán Pacheco para o Fortaleza. O empresário reforça o discurso da dificuldade na adaptação.

"O que mais complicou no caso do Germán foi o estilo de jogo dos times brasileiros. No futebol sul-americano, se joga mais no 4-4-2 com meias abertos, não pontas. Quase todos os times brasileiros jogam no 4-3-3, com um meia e dois pontas. O Germán era esse meia aberto do 4-4-2. No Fortaleza, colocavam ele de ponta no 4-3-3, algo que ele não tinha físico para suportar".

Pioneiro em trabalhar com o futebol sul-americano no Brasil, Camilo Abranches investiu na construção de centro de treinamento para adaptar jogadores em Belo Horizonte (MG). Segundo o empresário, há um trabalho semelhante na Venezuela, onde, por meio de um CT, são revelados vários atletas do País. Para ele, os futebolistas venezuelanos se encaixam no melhor custo-benefício do mercado.

"A Venezuela será a grande surpresa do futebol a curto prazo. Se eu tivesse que buscar jogador jovem, buscaria na Venezuela. Eu disse há quatro anos para ficarem de olho na Venezuela. Me chamaram de doido. A seleção sub-20 da Venezuela foi vice-campeã mundial. Estão todos no exterior. Soteldo, que veio para o Santos, já monitoro ele há quase quatro anos", afirmou Camilo.

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