Mais de 80% dos profissionais da saúde relatam ter a saúde mental abalada pela pandemia

Pesquisa da FGV revelou ainda que trabalhadores estão com falta de treinamento, de testes para detecção da Covid-19 e de EPIs

Há mais de um ano, a pandemia da Covid-19 impactou a vida das pessoas, com maior intensidade para os profissionais da saúde. Entre os efeitos da crise sanitária neste público, estão, principalmente, o abalo na saúde mental. É o que revelam pesquisas realizadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE) em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde.

De acordo com o levantamento do Núcleo de Estudos da Burocracia da FGV, divulgado no portal Valor Econômico, nesta sexta-feira, 7, 80,2% dos trabalhadores da saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) disseram ter a saúde mental abalada na pandemia. A pesquisa reuniu 1.829 profissionais de todos os 27 estados brasileiros, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes de saúde comunitários, psicólogos e farmacêuticos. Profissionais que seguem na linha de frente no combate à Covid no País.

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Gabriela Lotta, uma das pesquisadoras da FGV e autora do estudo, destaca que os profissionais estão há doze meses trabalhando sem parar, com falta de treinamento, de testes para detecção da Covid-19 e de condições de materiais adequados. Com a situação, 87,6% desses profissionais têm medo de se infectar ou contaminar familiares. “Vejo colegas toda hora se infectando, é um pesadelo. Isso afeta o psicológico da gente, temos família e queremos nos proteger”, disse um dos profissionais presente na pesquisa.

Além disso, só 44,5% dos entrevistados receberam equipamentos de proteção individual (EPIs) de forma contínua ao longo da pandemia. 96,6% dos trabalhadores afirmaram conhecer colegas de trabalho com suspeita ou diagnóstico de Covid e 31,2% informaram que já contraíram o novo coronavírus.
Durante a pandemia, a sobrecarga avança fora do trabalho. Em casa, as tarefas domésticas cresceram 68,3%. Segundo um dos participantes da pesquisa, a demanda de tarefas ligadas à limpeza, preparo de refeições e lavagem de roupas aumentaram com todos em casa nesse período.

Outro impacto nesse cenário é o tempo gasto com o cuidado com as crianças, como no auxílio às aulas on-line dos filhos. “As mulheres, que formam cerca de 70% da mão de obra da saúde pública, foram particularmente afetadas pelo aumento das tarefas domésticas”, informa Gabriela Lotta. No estudo, 84% desse público destacou que a pandemia afetou a sua saúde mental, em comparação com 67% dos homens. Entre os efeitos estão: tristeza (53% mulheres e 42% homens); estresse (72% mulheres e 52% homens) e cansaço (62% mulheres e 43% homens).

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Balanço dos dados:


- 80,2% relatam ter a saúde mental abalada pela pandemia;
- 49,2% receberam EPIs uma só ou poucas vezes e 6,2% nunca receberam;
- 67,8% afirmam sofrer com estresse ou ansiedade;
- 96,6% conhecem colegas de trabalho com suspeita ou diagnóstico de Covid
- 87,6% têm medo de se infectar ou contaminar familiares;
- 31,2% afirmaram já ter sido contaminados pelo novo coronavírus;
- 57,7% mencionam cansaço e 50,6% tristeza
- 68,3% relatam aumento do tempo gasto em tarefas domésticas;
- 72,6% afirmam não ter recebido treinamento para enfrentar a pandemia

(Fonte: Núcleo de Estudos da Burocracia da FGV)

Levantamento Fiocruz


Outro fator que atinge a exaustão mental é a baixa remuneração. Na pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 45% dos profissionais de saúde precisam ter mais de um emprego. Das 25 mil pessoas reunidas na pesquisa, 95% afirmaram ter a vida alterada pela pandemia; 43,2% não se sentem protegidos e 64% precisam improvisar equipamentos de proteção em algum momento.

Entre os diverso distúrbios psicológicos em virtude da pandemia, os mais citados no levantamento da Fiocruz são: perturbação do sono (15,8%); irritabilidade/choro (13,6%); incapacidade de relaxar/estresse (11,7%); dificuldade de concentração (9,2%); perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza (9,1%); sensação negativa do futuro/suicida (8,3%) e alteração no apetite/alteração do peso (8,15).

Conforme a coordenadora da pesquisa, Maria Helena Machado, o levantamento retrata a realidade daqueles profissionais que atuaram na linha de frente, “marcados pela dor, sofrimento e tristeza, com fortes sinais de esgotamento físico e mental”.

No Ceará, dados preliminares de uma pesquisa internacional, ainda em andamento, revelam que, entre os 551 profissionais da saúde que responderam questionários, 50% tinham necessidade de apoio psicológico. Outros 5% enfrentavam risco de suicídio, casos esses encaminhados para tratamento psicológicos, de acordo com o supervisor do Centro de Investigação Científica da Escola de Saúde Pública. A pesquisa tem o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde.

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