Sem sedativos, pacientes intubados ficam acordados e amarrados aos leitos no RJ

Enfermeira de uma unidade de saúde relata situação: "Eles ficam acordados, sem sedativos, intubados, amarrados e pedindo para não morrer". Caso acontece em hospital do Realengo, no Rio

No Rio de Janeiro, pacientes internados em estado grave da Covid-19 estão intubados, acordados e amarrados aos leitos devido à ausência de sedativos. O caso acontece no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, e foi relatado por uma enfermeira da unidade de saúde e divulgado pelo portal G1, nesta quarta-feira, 14. No hospital, há 78 pacientes internados com Covid. Outros 40 estão na emergência.

“Na sala vermelha, os pacientes estão intubados e amarrados, estão vivenciando tudo acordados e sem sedativo, pois não tem nenhum sedativo, acabou tudo. Só para o CTI e mesmo assim estão sendo diluídos e não dá para todos os pacientes. Eles ficam tudo acordados, sem sedativos, intubados, amarrados e pedindo para não morrer”, conta a profissional.

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Ainda de acordo com o G1, a falta dos sedativos é registrada em mais três hospitais do Rio de Janeiro: Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, Hospital São José, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e Hospital Estadual Anchieta, na Zona Portuária da capital carioca. Equipes médicas se desdobram procurando alternativas para tratar os pacientes diante do colapso de medicamentos.

Segundo médicos intensivistas, a contenção mecânica pode ser usada, mas o doente precisa ser medicado pelo menos com uma sedação leve. “A contenção mecânica usada sem sedativo é realmente uma forma de tortura porque o paciente está ali incomodado e está se vendo numa situação em que ele não pode nem mesmo chamar ajuda pela equipe multiprofissional”, explica o médico intensivista Áureo do Carmo Filho.

Medidas

Outra alternativa feita pelos profissionais é recorrer a remédios mais antigos e com mais efeitos colaterais. Essa situação é apontada no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, também Zona Oeste, onde 67 pacientes estão internados com Covid-19. “Os pacientes fazendo 15, 20 ml hora de dripping de Diazepam não funciona direito, só deixam eles um pouquinho sedados, mas não apaga da forma que precisa. A maioria tendo que fazer contenção mecânica, porque não tem Dormonid na casa”, explica Áureo.

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Conforme informações do portal G1, 21 mortes foram registradas entre sábado, 10, e domingo, 11, no Hospital São José, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Na unidade, 125 leitos são destinados a pacientes infectados com o novo coronavírus. Uma enfermeira afirmou que, em um plantão, parte das mortes foi provocada pela falta de sedativos.

“Não tinha medicações, não tinha sedativos para os pacientes do CTI e então, infelizmente, eles vieram a óbito. Nós vimos, assim, os profissionais desesperados, chorando, porque não tinha o que fazer pra ajudar, né? Tá com falta de seringa, tá com falta de agulha”, relatou.

Um dos médicos intensivistas da unidade explica que a falta dessas medicações pode causar a morte da pessoa. “Pode levar à morte, mas por uma série de fatores. Não é só a falta de sedativo que vai levar diretamente o paciente à morte. A falta de sedativo vai somar lá na balança do tratamento de coisas que estão atrapalhando e o sedativo não vai estar ajudando o paciente a economizar energia. Com certeza vai prejudicar em muito o tratamento dele, além de ser um desconforto e uma situação desumana”, diz.

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No Hospital Anchieta, o único do estado que atende só pacientes de Covid na capital, faltam sedativos e outros materiais. “No Anchieta, a gente já chegou a perder pacientes por falta de equipamento, por falta de equipo de bomba infusora e não tinha para poder botar, para manter pressão do paciente, e paciente chocou e paciente morreu, foram três pacientes nessa situação. Está complicado, está difícil”, relata um funcionário da unidade.

Segundo o secretário Municipal de Saúde, Daniel Soranz, os estoques dos medicamentos estão no limite. "Tem sido um processo muito difícil para comprar esses sedativos. O Ministério da Saúde centralizou essa compra e tem distribuído semanalmente, para não deixar ter falta. Todos os hospitais públicos e privados estão com estoque no limite, para não se realizar estoques muito altos em algumas unidades e faltar em outras. (...) Mas até o momento garantindo aí esse cuidado, essa medicação para os pacientes que precisam", informa.

Apenas três hospitais citados nesta matéria responderam sobre a falta dos medicamentos nas unidades. A direção do Hospital Pedro II disse que a contenção dos pacientes é feita de acordo com prescrição médica dentro de um protocolo técnico. A direção do Hospital Albert Schweitzer disse que a falta de medicamentos pode ocorrer por causa da dificuldade de compra, mas que as equipes fazem substituições.

Sobre a declaração da enfermeira do Hospital São José, em Caxias, a prefeitura não comentou a denúncia das mortes, mas reconheceu que o aumento de pacientes gera um uso maior dos insumos e disse que tem trabalhado junto com a direção da unidade para garantir o abastecimento.

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