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Como passageiros e empresas atuam no transporte público de Fortaleza para evitar disseminação da Covid-19

Elevado risco de contaminação e aglomerações recorrentes tem afastado passageiros; infectologista dá dicas para prevenção nos coletivos
15:07 | Jul. 28, 2020
Autor Leonardo Maia
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Leonardo Maia Estagiário
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Tipo Notícia

Com as restrições impostas pela pandemia, o deslocamento em Fortaleza, assim como em outras grandes metrópoles, tem sido uma das ações mais repensadas pelas pessoas no dia a dia. As condições sanitárias e a possibilidade de contágio pela doença têm ganhado um peso importante na definição de como ir de casa ao trabalho, por exemplo.

O uso do transporte público, inevitavelmente, facilita o contágio do novo coronavírus, mas pelo menos um terço dos deslocamentos da Cidade é feito por meio do modal, de acordo com dados preliminares da Pesquisa Origem-Destino, coletados em 2019 pela Prefeitura. Durante a crise, essa segue sendo a única opção para parte significativa dos fortalezenses, que já começaram a retomar sua jornada de trabalho.

Diante dos desafios impostos pelo coronavírus, usuários e empresas tentam se adaptar e mudar seu comportamento para garantir maior segurança sanitária. Mateus Sousa, 23, relata que as idas ao trabalho têm sido cercadas de cuidados rigorosos. Usar máscara, evitar levar a mão ao rosto e tentar manter um mínimo distanciamento social são algumas das ações praticadas para escapar de uma contaminação.

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Ele explica, no entanto, que a situação dos veículos não favorece a prevenção. A lotação do transporte público segue recorrente durante o período de flexibilização econômica. No caminho entre os bairros Pici e Dionísio Torres, Sousa observa o comportamento inadequado em relação à etiqueta sanitária de vários passageiros — ainda que o uso de máscara seja obrigatório para entrar nos veículos, não é raro ver o equipamento de proteção sem cobrir nariz e boca, como é recomendado.

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O infectologista Anastácio Queiroz, ex-secretário da Saúde do Ceará, explicou que o grande desafio dessa doença é a transmissão por pessoas que ainda não apresentaram sintomas ou têm sinais de infecção bem discretos — como um “friozinho” ou uma dor de garganta. Ele corrobora com a visão de outros especialistas e defende que, nos ônibus, o uso adequado da máscara e o esforço para deixar as mãos longe do rosto são fundamentais para afastar a chance de uma contaminação.

O médico ressalta que os ônibus devem ser usados apenas em casos de necessidade e as pessoas devem dar preferência para modais individuais, quando possível. Ele argumentou que não é possível manter um distanciamento social no veículo, devido à logística financeira das empresas e a necessidade de locomoção dos passageiros. A situação, no entanto, deveria ser repensada, segundo o especialista, para achar um equilíbrio entre a saúde financeira das empresas e a segurança dos passageiros.

Limpeza nos ônibus foi intensificada

Terminais de ônibus também passam por limpeza diária.
Terminais de ônibus também passam por limpeza diária. (Foto: Fabio Lima)

A possibilidade de o vírus permanecer no ar e em superfícies tem feito com que entes públicos e privados intensifiquem a limpeza em locais de acesso ao público e nos ambientes de trabalho. João Luís Maciel, gerente de Operações do Sindiônibus, sindicato que representa as concessionárias das linhas de ônibus, ressalta que os cuidados para higienização dos veículos estão concentrados principalmente nos locais onde as pessoas colocam as mãos — bancos, corrimãos e balaústres.

Maciel diz que diariamente são realizadas mais de mil limpezas, o que faz com que alguns veículos sejam higienizados mais de uma vez. Equipes de limpeza estão localizadas em todos os terminais da Capital e atuam periodicamente quando os veículos chegam aos locais. Os colaboradores das empresas também participaram de treinamento para preservar sua saúde e orientar os passageiros que utilizam o modal.

Em relação ao número de ônibus que são disponibilizados diariamente, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) disse, em nota, que monitora a demanda durante todo o dia em todas as linhas. “Com isso, a Etufor vem acompanhando essa evolução através de um monitoramento diário da demanda do sistema como um todo e das linhas especificamente, implementando a frota conforme a demanda cresce junto às fases de reabertura”, ressaltou.

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A pasta municipal, responsável pela concessão das linhas de ônibus, disse que, nesta terça-feira, a operação conta com 75% do quadro (se comparado com o período típico pré-pandemia), com acréscimo eventual de ônibus extras para as linhas de maior demanda. O órgão recomenda que usuários evitem pegar os ônibus mais cheios, aguardando sempre o próximo veículo.

Uma medida que está ajudando a reduzir aglomerações em horários de pico, de acordo com a Etufor, é o escalonamento de horários das atividades na flexibilização econômica. O comércio, por exemplo, está abrindo uma hora mais tarde, às 9 horas. “Observa-se a distribuição da demanda por diversos horários no transporte coletivo, diminuindo a concentração de usuários em apenas uma faixa horária considerada como pico”, acrescentou a nota.

Saúde financeira das empresas de ônibus corre risco com pandemia, alerta especialista

O economista Alfredo Pessoa, professor do departamento de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará (UFC), falou do risco que empresas de ônibus podem correr nesse momento. Ele lembra que o transporte público já enfrentava uma crise anterior à pandemia, com a emergência de aplicativos de carona, como o Uber, e um maior investimento na mobilidade por meio da bicicleta, especialmente na Capital.

O especialista argumenta que, neste momento, as concessionárias precisam seguir investindo em medidas de segurança sanitária, respaldadas por uma equipe de infectologistas. Ele explicou que essa medida pode fazer com que os usuários possam ter um pouco mais de confiança em usar o modal durante essa fase de retomada.

Outra alternativa, sugerida por Pessoa, é que o poder público amplie o subsídio econômico para as passagens de ônibus. “A discussão deve passar por um estudo participativo, para que a população tenha consciência disso. É algo que deve ser muito pensado e discutido, com participação pública e não uma como uma decisão de gabinete”, enfatiza.

O POVO questionou a Etufor se o poder municipal estuda a ampliação do subsídio econômico durante esse momento de flexibilização, mas não obteve resposta. A reportagem ainda solicitou ao Sindiônibus uma entrevista para falar sobre a saúde financeira das empresas de ônibus, mas a entidade informou que nenhuma fonte estaria disponível para falar sobre o assunto.

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