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Sem medidas contra Covid-19, Fortaleza teria 1.500 mortes a mais, aponta estudo da Uece

Na capital cearense, foram previstos ainda mais de 400 mil casos da doença e 4.149 óbitos por Covid-19 até o 80º dia da curva de transmissão
12:49 | Jul. 09, 2020
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Um estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece) mostrou que sem as medidas de prevenção e combate ao coronavírus, Fortaleza teria 1.500 mortes a mais por Covid-19. Na capital cearense, foram previstos ainda mais de 400 mil casos da doença e 4.149 óbitos até o 80º dia da curva de transmissão, se não tivessem sido aplicadas as ações de isolamento social.

Com as providências adotadas pelo poder público, os números reais foram de 27.905 casos e cerca de 2.500 óbitos. O pico da doença foi projetado para ocorrer no dia 23 de abril, segundo o estudo. A análise também aponta os resultados das ações de isolamento social em capitais como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.

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Publicado no último dia 26 de junho, na Revista Latino-Americana de Enfermagem, a pesquisa “Estimação e predição dos casos de Covid-19 nas metrópoles brasileiras” foi o primeiro estudo “preditivo” no Brasil. O objetivo era estimar a taxa de transmissão, o pico epidemiológico e óbitos pelo novo coronavírus no país.

As análises confirmaram a rápida disseminação do vírus e sua alta mortalidade, mostrando que, sem as medidas de prevenção e combate à Covid-19 tomadas por prefeituras e governos, os números de infectados e mortos seriam ainda maiores.

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Como o estudo foi feito

Para o estudo, foram selecionadas as capitais até então com o maior número de casos da infecção – Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, do Sudeste; Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, do Sul; Manaus, da região Norte; Salvador e Fortaleza, do Nordeste; onde foi aplicado um modelo matemático e epidemiológico para os casos suscetíveis, infectados e recuperados.

Dessa forma, os pesquisadores estimaram o número de casos no 80º dia em cada uma dessas capitais por meio de equações diferenciais. Os resultados foram colocados em logaritmos e comparados com os números reais.

Predição dos resultados do novo coronavírus

De acordo com a enfermeira e infectologista Lúcia Duarte, Fortaleza estava colocada entre as principais cidades em número de casos logo nas primeiras semanas da pandemia no Brasil. Ela também coordena o Grupo de Trabalho (GT) para enfrentamento à pandemia do coronavírus na Uece.

"O estudo mostrou que a capital cearense tinha a maior taxa de transmissibilidade naquele período, portanto, as medidas de isolamento se faziam necessárias com mais rigor e mais precoces”, aponta.

A pesquisadora destacou ainda que, além de Fortaleza, Manaus foi outra metrópole com taxa de transmissibilidade mais elevada, possivelmente com a contribuição do turismo, fator em comum com Fortaleza. “Tanto Fortaleza como Manaus tiveram seus números relacionados à ocupação quase que total de leitos de UTI por Covid-19, naquele período”, ressalta Duarte.

Predição dos resultados da pesquisa da Uece em diferentes capitais brasileiras
Predição dos resultados da pesquisa da Uece em diferentes capitais brasileiras (Foto: Uece)

Primeiro estudo preditivo

A também pesquisadora no estudo, enfermeira e membro do GT da Uece, professora Thereza Magalhães, comenta sobre a importância da pesquisa divulgada que "os estudos brasileiros já publicados sobre os casos de Covid-19 em nosso País até o momento são relatos de experiência, revisões narrativas, mas nenhum ‘estudo preditivo’”.

Ainda de acordo com ela, os dados foram extraídos de relatórios epidemiológicos diários desde o primeiro dia em que casos da doença foram confirmados. Assim, o momento representado pelos dados do estudo da Uece "marca o momento inicial da pandemia em algumas das principais capitais brasileiras".

A investigação seria, portanto, "uma espécie de marco zero bastante fiel" do cenário apresentado pelo Brasil em um primeiro momento da pandemia, "o que é sempre mais fiel que os dados que vêm depois, que comumente sofrem interveniência de mais variáveis", conforme Magalhães.

A professora considera ainda que o artigo será um marco de relevância permanente para a ciência cearense, brasileira e até mundial. Nesse sentido, ela menciona sobre a expectativa que se tinha em relação ao comportamento do vírus no clima tropical, o que não foi uma variável do estudo. Porém, pelos dados encontrados, viu-se que o comportamento observado do vírus no Brasil não foi diferente do observado nos países frios.

Além dos integrantes do GT da Uece, participaram da pesquisa também os enfermeiros cearenses Raquel Florêncio, George Sousa, Thiago Garces e Virna Cestari.

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Alta de casos até setembro

Ao confirmar a eficácia do isolamento social e das demais medidas de prevenção e combate ao coronavírus, o estudo da Uece também alerta para a continuidade dessas ações. Até o final de setembro, a previsão é que a Capital continue registrando novos casos da Covid-19. A partir de então, números mais baixos deverão ser notados.

Mais de 100 dias após a confirmação dos primeiros casos nas capitais analisadas, e com a flexibilização do isolamento, os cuidados preventivos por parte da população se fazem ainda mais indispensáveis, como reforça a professora Thereza Magalhães.

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"Para não termos uma terceira onda, o principal é sair o mínimo possível, manter mínimo de um metro e meio de distância das outras pessoas, usar máscara que realmente proteja contra aerossóis, proteger os olhos e não esquecer de lavar sempre as mãos”, alerta.


Foto: Predição dos resultados da pesquisa da Uece em diferentes capitais brasileiras (Divulgação/Uece)

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