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Para especialistas, voltar a ir ao cinema ou a frequentar restaurantes e academias pode levar até um ano

Doze profissionais da Saúde ouvidos pelo jornal O GLOBO comentaram quando se sentiriam à vontade para retomar atividades que até então eram cotidianas
11:57 | Jun. 22, 2020
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Ir ao cinema, frequentar restaurantes ou malhar na academia são hábitos que podem demorar até um ano para voltarem a ser uma realidade segura. Ao menos para epidemiologistas, médicos intensivistas, infectologistas, pneumologistas e outros profissionais da saúde que enfrentam diretamente a pandemia da Covid-19. Doze especialistas ouvidos pelo jornal O GLOBO comentaram quando se sentiriam à vontade para retomar atividades que até então eram cotidianas.

Exercícios e esportes ao ar livre inspiram mais segurança. Nove dos especialistas se disporiam a praticá-los hoje ou dentro de um a três meses. Outros hábitos, como sentar-se à mesa de um bar ou restaurante ou andar de ônibus e metrô, tomariam mais tempo. Nenhum dos entrevistados disse que se arriscaria a curto prazo.

A enquete foi inspirada em uma semelhante realizada pelo jornal New York Times. O objetivo não é servir de guia, mas mostrar as considerações de quem estuda e combate o coronavírus em diferentes frentes. As opiniões consideram o contexto atual, sem levar em conta possíveis mudanças na evolução de casos e mortes no País.

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"Tudo depende. Para ir a um restaurante, vai depender do número de mesas, do espaço entre elas. Cinema, teatro, só a longo prazo. Não há condições de abri-los agora, mesmo com todos de máscara. Atividades ao ar livre podem ser mais a curto prazo. Surfar, por exemplo. Mas sem grupinho na areia", diz a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A distância de amigos e parentes, principalmente idosos, foi citada como o mais difícil pelos entrevistados durante esse período: dar um abraço só seria viável a longo prazo para sete deles.

O médico intensivista Ederlon Rezende, trabalha na linha de frente contra a Covid-19 e coordena o projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib). "Não vejo familiares há meses. Quem vivencia o dia a dia dentro da UTI acaba se tornando mais cuidadoso. Inclusive na volta à “normalidade”. É uma doença imprevisível, vi destruir famílias" conta.

Outros são mais otimistas. Para o médico sanitarista Daniel Soranz, da Fiocruz, algumas das primeiras cidades atingidas pela doença, como Rio de Janeiro e São Paulo, já estão em fase de estabilização ou queda de novos casos.

O epidemiologista destaca que as medidas de distanciamento social não podem fazer com que o brasileiro perca algumas de suas características no futuro. "Os costumes de abraçar e beijar, por exemplo, fazem parte da nossa sociedade, em que o contato é importante" considera Soranz.

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Atividades ao ar livre, onde é possível manter alguma forma de distanciamento social e evitar o compartilhamento de objetos, são vistas pelos especialistas como mais seguras do que outras atividades, em ambientes fechados. Mas todos são reticentes em relação a academias, cinemas ou teatros.

O álcool em gel se tornou o companheiro inseparável. Perguntados sobre quando se sentiriam à vontade de deixar de carregá-lo, quase a metade dos entrevistados respondeu que “nunca”. Três dos entrevistados disseram já estarem prontos para pegar encomendas de delivery sem precaução. Houve quem dissesse que jamais irá participar de uma festa infantil ou ir a um culto religioso.

Para a médica pneumologista Margareth Dalcolmo, uma das colunistas da “Hora da Ciência” do Globo, ainda não é o momento de reabrir escolas nem fazer festas infantis. "Crianças brincam juntas, levam o vírus para casa. E abrir shoppings é complexo, mesmo que haja uma logística de controle", diz.

Segundo a especialista, há, por exemplo, "a questão dos sanitários públicos, que são um antro de contaminação, não só pelas superfícies, mas porque a doença se transmite por gotículas e aerossóis". Ela defende que qualquer reabertura deveria vir acompanhada de uma testagem em massa.

Segurança com vacina

Todos os especialistas ouvidos concordam que segurança mesmo só virá com a existência de uma vacina eficaz. Vários projetos estão em desenvolvimento no mundo hoje, incluindo uma parceria do Instituto Butantan com um laboratório chinês. 

Contudo, o desenvolvimento de um imunizante deve levar pelo menos vários meses, tempo que os especialistas planejam esperar para voltarem a concertos ou jogos em estádios. Até lá, diz a infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, algumas mudanças de hábito já deveriam ser incorporadas ao “novo normal” para depois da pandemia.

"Bebedouro não deveria mais existir. E o modelo bufê adotado por alguns restaurantes, em que todo mundo pega na colher para se servir, deveria ser repensado. Já os vidros que separam atendentes do público vieram para ficar. Assim como a higienização das mãos", afirma.

Cuidados nos encontros amorosos

Os cuidados valem também para encontros com desconhecidos: 45,5% dos entrevistados afirmam que só encontrariam com alguém que não conhecem com intimidade daqui a mais de um ano.

"Encontros com pessoas estranhas são de altíssimo risco. Na epidemia da Aids havia quem pedia exame de HIV ao outro para se sentir mais seguro. Agora os novos casais vão perguntar: "Você é IgG positivo ou negativo?" diz Rezende, da Amib, em referência aos anticorpos que são detectados em exames sorológicos para o novo coronavírus.


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