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Pessoas com deficiência podem integrar grupo de risco para Covid-19

Especialistas dizem que pessoas com síndrome de down e síndrome congênita do zika vírus precisam de atenção especial
00:00 | Abr. 03, 2020
Autor Carlos Viana
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Carlos Viana Assistente Núcleo Opinião
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Tipo Notícia

Mesmo sem um estudo que mostre o impacto da Covid-19 para pessoas com deficiência, entidades que atuam no segmento têm emitido alertas informando que muitos desses indivíduos podem estar no grupo de risco. É o caso, por exemplo, de pessoas com síndrome de down e síndrome congênita do zika vírus, uma vez que essas síndromes podem acarretar em problemas cardíacos e respiratórios.

Luciana Arraes, da Associação Filhos de Bênçãos, que atende cerca de 175 crianças com a síndrome congênita do zika vírus relata que a sensação é de pânico para os pais dessas crianças. “Há mais de dez dias não saio de casa para nada. Da minha família só uma pessoa sai, quando é estritamente necessário e, quando chega, realiza todo procedimento de higienização antes de entrar. Essa tem sido a realidade de todos nós, da associação,” explica.

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O medo de Luciana é justificado. Segundo o neurologista infantil André Pessoa, que atende crianças com síndrome de down e síndrome congênita do zika vírus no Hospital Infantil Albert Sabin, problemas respiratórios são responsáveis pelo maior número de óbito de crianças com a síndrome congênita do zika vírus. “Essas crianças apresentam disfagia, que é a dificuldade de deglutir o alimento, fazendo muitas vezes que a comida vá parar nas vias aéreas superiores, causando problemas respiratórios,” esclarece. Outro fator de risco para essas crianças é uma maior propensão a ataques epiléticos, podendo levá-las à morte súbita.

Pessoas com síndrome de down também precisam de cuidados especiais. “Pelo fato delas terem uma deficiência intelectual, a educação familiar torna-se mais difícil. Muitas delas não vão compreender a necessidade de cuidados básicos como lavar as mãos. Além disso, muitas pessoas com síndrome de down tem imunodeficiência, o que as torna mais suscetíveis a outras infecções, além de maior propensão para epilepsia, vias respiratórias mais estreitas e problemas cardíacos,” conclui.

O neurologista aconselha “higienização total” nas residências de pessoas com síndrome de down e síndrome congênita do zika vírus. Ele também indica a utilização de máscaras pelos membros da família, mesmo que não apresentem sintomas de contaminação pela Covid-19.

A médica Danielle Lima tem uma filha com síndrome de down e, por causa da Covid-19 teve sua rotina alterada. “Minha filha tem uma rotina bem agitada, com escola, natação e atendimento psicopedagógico. Mas tudo isso foi suspenso por causa do isolamento social. E isso tem afetado bastante nossa rotina, porque todo dia ela diz que vai pra escola ou pra natação. Já peguei-a no elevador e na escada algumas vezes”, explica.

Além da filha de oito anos com síndrome de down, Danielle mora com sua mãe que é idosa e outra filha de quatro anos. “Minha filha de quatro anos compreende melhor a situação. Mas a de oito (que tem síndrome de down), muitas vezes chora sentindo saudade das terapeutas. Quando isso acontece faço chamadas de vídeo para elas conversarem,” disse.

Outras deficiências, mesmo sendo consideradas leves, também requerem cuidados adicionais. No caso da deficiência visual, a Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB) tem feito campanhas em suas redes sociais, pedindo para que os cegos aumentem a higienização de objetos de uso continuo como bengalas e óculos, além de pegarem no ombro e não no braço ou cotovelo quando for aceitar ajuda na rua.

No entanto, Beto Pereira, presidente da entidade, critica a falta de acessibilidade nas campanhas realizadas pelo governo. “Muitas informações são baseadas em imagens e gráficos e, por falta da audiodescrição (recurso que descreve as imagens), o cego não consegue compreender parte do conteúdo,” afirma.

Ele também alerta para a necessidade de um plano econômico para socorrer as entidades que trabalham com pessoas com deficiência. “Infelizmente essas entidades, com a crise econômica decorrente da pandemia, terão que demitir muitos de seus profissionais, diminuindo assim o atendimento feito às pessoas com deficiência,” aponta.

Uma plataforma que pode ser usada por cegos para obter informações acessíveis sobre a Covid-19 é o site www.guiapratodosverem, criado por dois curitibanos. Lá o usuário vai encontrar diversas informações com
recursos de acessibilidade que são atualizadas constantemente.

No caso dos surdos, a principal dificuldade é na comunicação. Uma vez que a Língua Brasileira de Sinai (Libras) é a principal forma de comunicação com esse público, as informações precisam ser traduzidas. Nesse sentido, intérpretes de Libras de todo País têm se unido, de forma voluntária, para traduzir para Libras matérias e entrevistas divulgadas na imprensa. “O problema é que o surdo não tem acesso à informação em tempo real. Nossa preocupação é que acabe chegando antes alguma fakenews, o que pode atrapalhar ainda mais a situação,” explica Mariana Farias Lima, presidente da Associação dos Profissionais
Intérpretes de Libras do Ceará (Apilce).

Para tentar proteger pessoas com deficiência de possíveis contaminações pelo covid-19, o Ministério Público do Ceará (MP-CE) recomenda medidas de saúde a serem tomadas pelas unidades de acolhimento de pessoas com deficiência. Dentre as recomendações está a suspensão de visitas de familiares e a realização de chamadas telefônicas ou de videoconferência para que os laços afetivos sejam mantidos.

Além disso, o Decreto Estadual N 33.532, de 30 de março de 2020, assinado pelo governador Camilo Santana, determina que órgãos e entidades públicas estaduais “adotarão todas as providências necessárias para que os servidores públicos estaduais que tenham sob cuidados filho com deficiência que se enquadre no grupo de risco do novo coronavírus a exemplo do portador de síndrome de down possam se ausentar do ambiente de trabalho durante o período emergencial de enfrentamento a pandemia".

Procurada, a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa) informou, por meio da assessoria, que segue todas as orientações do Ministério da Saúde no atendimento de pessoas com deficiência.

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