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Entenda o que é a "curva" dos gráficos do Coronavírus de que falam especialistas

A desaceleração do surgimento de novos casos achata a curva e alivia pressão sobre rede hospitalar e de infraestrutura; veja como isso ocorre na prática
11:19 | Abr. 01, 2020
Autor Carlos Mazza
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Carlos Mazza Repórter de Jornalismo de Dados
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Tipo Notícia

A se julgar por estimativas do Ministério da Saúde, centenas de milhares de brasileiros devem ser infectados com o novo coronavírus nos próximos meses. As infecções, no entanto, não precisam – nem devem – ocorrer todas de uma vez, uma vez que é necessário poupar a capacidade de atendimento do sistema de saúde, sobretudo pelos casos mais graves.

É daí que surgem medidas como os decretos de isolamento social, que, ao reduzir a circulação de pessoas nas cidades, promovem uma queda brusca nas possibilidades de contágio e mudam a curva de gráficos da evolução da doença no País. Mas o que, afinal de contas, é essa “curva” de que os especialistas tanto falam nas últimas semanas?

A "curva" se refere a um dos elementos formado no gráfico que projeta o número de pessoas que irão ser infectadas pela covid-19 em um local, dentro de um período de tempo. No eixo horizontal (da esquerda para a direita) estão o número de dias desde o primeiro caso confirmado naquela área. No eixo vertical, o número total de casos.

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Veja como o gráfico da curva parece:

Reduzir o surgimento de novos casos achata a curva do eixo vertical e alivia pressão sobre a rede hospitalar
Reduzir o surgimento de novos casos achata a curva do eixo vertical e alivia pressão sobre a rede hospitalar (Foto: Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA/Tradução O POVO)

Importante frisar: Não se trata de uma estimativa exata e definitiva, mas sim uma projeção usada de referência para analisar a disseminação do vírus através de etapas.

Desacelerar crescimento para poupar hospitais

Nos primeiros dias após a primeira infecção, ocorre um surto epidêmico que provoca um crescimento exponencial de infecções. Depois, esse número se estabiliza em um ponto máximo – o pico de casos. Ao final, acaba ocorrendo um crescimento mais lento de casos, até que a maior parte da população já possua anticorpos e a doença se estabilize.

Nesse processo de crescimento e redução do número de casos, o gráfico forma uma “curva”, que pode ter diferentes formatos, dependendo da velocidade de infecção. Se o eixo vertical cresce rápido demais (provocando uma curva não achatada), mais cedo os sistemas de saúde virão a colapso, sem condições de atender os doentes infectados com a doença.

Por isso, governo e especialistas tomam medidas para reduzir a velocidade de crescimento do eixo vertical – “achatando”, assim, a curva do gráfico –, fazendo com que a contaminação da população ocorra de maneira mais gradual. O que acaba aliviando a pressão sobre hospitais e infraestrutura do País.

Como a covid-19 se transmite pelo contágio direto com objetos contaminados ou pessoas infectadas, medidas de isolamento são essenciais. Em cidades como Milão, na Itália, ações contra o isolamento acabaram sendo feitas inicialmente pelo governo, o que fez o surgimento de novos casos explodir. Em poucos dias, havia escassez total de leitos e de insumos em hospitais. Sem tratamento, milhares de pessoas que poderiam ter sido curadas morreram.

O cientista americano Charles Bergquist, da publicação Science Friday, fez uma analogia simples de entender: "O banheiro do seu trabalho tem um número limitado de assentos. Se todas as pessoas decidirem ir ao banheiro ao mesmo tempo, vão haver problemas. Mas se essas mesmas pessoas decidirem ir ao banheiro, mas espalhem essas idas ao longo de algumas horas, estará tudo ok", disse no Twitter. “E agora vá lavar as mãos”, conclui.

O Ceará está reduzindo a curva?

Nos primeiros dias após o surgimento dos primeiros casos da covid-19 no Estado, o Ceará possuía uma das curvas mais altas do Brasil. Apenas oito dias após o primeiro caso confirmado, o Estado chegou ao número de 164 infectados com a doença. Para se ter ideia, São Paulo só foi chegar ao mesmo patamar 21 dias após o primeiro paciente com a doença.

Desde 20 de março, no entanto, entrou em vigor no Estado decreto do governador Camilo Santana (PT) impondo uma série de restrições a aglomerações de pessoas no Estado. Foi decretado, por exemplo, o fechamento de lojas, bares, lanchonetes e restaurantes, além de templos religiosos e outros locais onde é comum a reunião de muitas pessoas.

De lá para cá, o Estado vem conseguindo obter uma redução gradual na velocidade do surgimento de novos casos. Em 20 de março, por exemplo, o número de casos confirmados foi 283,33% maior do que o de 19 de março. Já em 22 de março, o número era apenas 148,81% maior do que no dia anterior, reduzindo para 131,2% e 112,8%, nos dias posteriores.

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