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Dubiedade é inaceitável: ministro precisa levantar sigilo de vídeo

A atuação técnica do decano do STF, sempre afastado dos jantares e casamentos palacianos em sua longa trajetória, se faz mais necessária do que nunca
21:42 | Mai. 12, 2020
Autor Carlos Mazza
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Carlos Mazza Repórter de Jornalismo de Dados
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Tipo Analise

Disputa de narrativas entre Jair Bolsonaro e seu ex-ministro Sergio Moro ganhou novo e marcante episódio nesta terça-feira, 12, quando foram exibidas em Brasília, em oitiva da Polícia Federal, as tão esperadas imagens da reunião ministerial do governo de 22 de abril.

A gravação, que até agora chega à população apenas através do depoimento de alguns poucos que puderam acompanhar a exibição, segue em segredo de Justiça. A avaliação da gravidade do conteúdo, por sua vez, depende de para quem está sendo feita a pergunta.

Para Moro, que acusa Bolsonaro de ter tentado interferir na direção da PF para obter informações privilegiadas sobre investigações, o vídeo "confirma o conteúdo" de seu depoimento. Para Bolsonaro, por outro lado, só faz confirmar sua total inocência. “Estava preocupado com a segurança física dos meus filhos”, diz o presidente.

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Entre a imprensa, veículos se dividem entre os que tratam o vídeo como a “bala de prata” a derrubar Bolsonaro e os que minimizam o conteúdo — lembrando, em alguns casos, até das gravações de Joesley Batista, que se anunciaram como bomba atômica e terminaram como traque.

Acontece que não há qualquer espaço para dubiedade ou “disse me disse” no embate em questão. Diferentemente do que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos, é preciso separar de vez o que é fato e o que é opinião na arena política, sobretudo se levando em conta a gravidade das acusações.

Entre os relatos vazados à imprensa, há aberrações de todo o tipo: ameaças de intervenção militar para evitar um impeachment, ameaças de prisão contra prefeitos e governadores, ataques grosseiros a ministros do Supremo. "Não era reunião ministerial, era reunião de insanos", disse, sob anonimato, ministro da Corte ao jornalista Guilherme Amado, da Época.

Não existe meio termo nem possibilidade para a turma do “deixa disso”. Ou Bolsonaro cometeu um crime gravíssimo, passível de remoção imediata do cargo (se tentou interferir em investigações contra os filhos, não tentará parar uma contra si mesmo?), ou Moro também comete grave crime de testemunho falso, fazendo o País perder tempo e energia em meio a uma pandemia. Há uma batalha de narrativas sendo travada, e o cidadão não pode acompanhar tudo das sombras.

Ao longo da última década, Celso de Mello criou reputação se mantendo distante dos jantares políticos e casamentos palacianos. A atuação técnica do decano do STF, sempre presente em sua longa trajetória, se faz mais necessária do que nunca. Para que não fiquemos presos entre o que diz Moro ou Bolsonaro, o sigilo das imagens deve ser levantado imediatamente.

É como diz a máxima do jurista Louis Brandeis, ex-presidente da Suprema Corte dos EUA: “A luz do sol é o melhor desinfetante”.

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