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Futebol de ontem e hoje

02:00 | 28/03/2019

Vez em quando participo de uma dessas peladas comemorativas no campo de um ou outro amigo. Geralmente não jogo, mas fico vendo e, à medida que uns vão entrando e outros saindo, as conversas vão rolando e numa dessas sentei ao lado do Edmar.

De olho na nossa conversa, um repórter se aproximou e perguntou para ele: "Você jogaria nos dias de hoje?" O baixinho respondeu de prima: "Mas menino! Se naquele tempo que só tinha um volante eu jogava, imagina hoje que jogam com dois e às vezes três".

É verdade! E isso eu senti dentro do campo porque joguei muitas vezes ao seu lado na função de meia-armador e o baixinho conhecido como "Butaninho", cheio de gás, corria por todo mundo. Nosso meio do campo era um volante, um meia-armador e um meia-avançado próximo ao centroavante.

O 4-3-3 fez sucesso na década de 70 e muitas equipes ainda o têm como referência, mas o sistema mais utilizado nos dias de hoje é o 4-2-3-1. Uma linha de quatro defensores. Dois volantes. Três meias. Dois pelos lados e um pelo meio. Um centroavante.

E observe com atenção, prezado leitor, a solidão do centroavante. Se no 4-3-3 ele já era cantado em prosa por Nelson Rodrigues, que dizia ser sua solidão pior que a de um náufrago numa ilha, e por Luis Fernando Veríssimo, que o via sempre cercado de chuteiras adversárias.

Imagine o centroavante no 4-2-3-1, onde a própria configuração do sistema o deixa isolado no ataque. Cansei de ouvir dos técnicos que todos os jogadores executam funções de marcação sem a posse da bola. E quando a retomarem todos devem virar atacantes.

Só que a obrigação de fazer o gol é sempre do centroavante. E se não o fizer, vai caindo no descrédito da torcida e da mídia esportiva. Mesmo que sua equipe vença e dê uma de bom moço dizendo que está ali para somar, fica claro: a ausência de gols corrói sua alma.

Quem nunca deixou um centroavante na solidão foi Sérgio Alves. Figurinha carimbada e presença obrigatória na seleção alvinegra de todos os tempos, me disse: "Quando a bola chegava no fundo, eu invadia a área e estava sempre ao lado do centroavante".