PUBLICIDADE

"Equívoco"

00:00 | 14/04/2019

Por mais que não tenha sido uma ocorrência local, em Fortaleza, justificar-se-ia estar na capa de um jornal regional se a informação estivesse completa. Não adiantou foi ter publicado uma imagem marcante, de forma incompleta, e ser convertida em alvo de críticas de viés ideológico.

A situação se agrava quando, na mesma edição, em vez de publicar a cobertura de duas manifestações com dois públicos ideologicamente distintos entre si, O POVO publica somente uma. No domingo, houve pelo País, em Fortaleza inclusive, atos a favor do ex-presidente Lula. O POVO publicou no jornal impresso de segunda - e já havia postado nas redes sociais no domingo. Também no domingo, aconteceram pelo País, em Fortaleza inclusive, manifestações contra o STF, de cunho mais liberal. O POVO não publicou.

Não faltaram queixas nem hipóteses sobre a ausência da cobertura. Para citar algumas: "No que vocês transformaram o melhor jornal do Estado? Lamentável! Nenhuma linha sobre as manifestações lava toga (sic). O que o fanatismo não faz?", queixou-se o leitor Marigelbio Lucena. Genaro Queiroz da Nóbrega lamentou: "Estranhei a opção por somente publicar as manifestações favoráveis à liberação do ex-presidente Lula, parecendo que nada aconteceu referente aos movimentos em apoio à Lava Jato e ao projeto contra a criminalidade e a favor da prisão em segunda instância". Ernesto Antunes, membro do Conselho de Leitores do O POVO, também se incomodou: "Por qual motivo o nosso Jornal O POVO citou apenas a manifestação a favor do Lula?"

Quanto à falta da cobertura da manifestação ocorrida na Praça Portugal, o editor de Política Guálter George atribui a um "equívoco na programação de pauta", causada pelo desconhecimento de que o protesto aconteceria. "É isto: não esteve na programação de cobertura daquele dia porque escapou das informações prévias disponíveis para definirmos antecipadamente, como fazemos toda sexta-feira, o que seria acompanhado por nossas equipes de profissionais nos plantões do sábado e do domingo", observou Guálter. Ele completa: "Estou pronto a me explicar quantas vezes forem necessárias acerca do que publicarmos no âmbito da Política. Porém a ideia de que nos movemos por razões ideológicas, sinceramente, soa grosseira".

Em meio a todo momento de tensão, como o que vivemos, é sempre necessário vigiarmos a fim de não municiarmos a audiência com polêmica. Situações como esta, justificadas como equívoco, repercutem negativamente sob níveis imensuráveis e, mesmo que injustamente, acabam por reforçar a pecha de que o jornal assume um viés ideológico, político ou partidário - sem que ele, de fato, tenha assumido. E isso não é saudável para o jornal sob nenhum ponto de vista.