Conceição Ferreira Pinto: Dor de cotovelo
Pegaste-me de cheio;
Fiquei sem chão,
Parti-me ao meio.
E em meio a falsas verdades,
Sorrisos, popularidade.
Esvaiu-se a sanidade.
Que tola! Pois, na verdade,
A minha sobriedade
Perdeu-se na tua ébria
E pobre dignidade.
Como é que eu fico agora?
Chegaste a cem por hora,
Piraste meu coração,
Jogaste-me numa prisão
E, como um ladrão, foste embora.
Porém, nada mais importa;
Somente sarar a ferida:
Essa dor do cotovelo
Que tu fizeste em pedaços.
Preciso aprumar meus passos,
Refazer minha leveza,
Reaprender a viver
Sem a constante incerteza
De ver-te sempre presente
Rondando a minha mente,
Fazendo minh' alma presa.
Eis a mulher que suplica:
'Afasta de mim esse cálice
Da ira, da dor, do rancor,
Do medo que guardo em segredo:
De não saber mais do amor, Pai',
De quando fechada a fissura
Sequer erguer os meus braços
E correr para os abraços
De quem comigo chorou.
Conceição Ferreira Pinto