Rimas femininas
Engenhosa é a língua portuguesa
Quer no Brasil, quer em Portugal
É na lusa língua de tantos falantes
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AssineQue embala o fado e alegra o carnaval
Nela o amor é que nos faz gigantes
E por ser assim tão enigmática
Há um segredo que não revela a gramática
Deus fez mulheres quase todas as palavras!
De todas as ciências humanas e das abstratas
A fama, a sarjeta, a pobreza, a riqueza
As artes, a linguística, a culinária, a política e a natureza
Femininas são a feiura e a beleza!
A tristeza e a alegria; a maternidade,
a vida e a morte
A paz e a guerra; a tranquilidade,
a má e a boa sorte
A oração, a reza, a redenção, a remissão,
a hóstia, a missa e a salvação
A paixão e a intriga, as virtudes -
todas femininas são!
Amenidades, amabilidade, paciência; até a calça que a masculinidade representa
A franqueza impetuosa e do silêncio à reticência; o cálido regaço que a todos apascenta!
A savana, a campina, a montanha em sua imensidão - femininas são!
A entrada e a saída; a largada e a chegada, a medalha; a língua, a boca, a perna, as narinas; a música, a partitura, a melodia, a batida e a composição; a água, a terra, a brisa, a chuva; a silhueta de suas partes nuas -
Todas femininas!
A noite que alumia a lua; a onda que balança
a proa; o estar à toa
A vastidão, a solidão, a aglomeração, a ilusão, a comemoração; a emoção que a palavra entoa e risca na feição; a linha que reta apruma da escrita à imperfeição - todas femininas!
A ruína e a glória, as alianças; as bebidas
e a euforia que a festa agita
O sair da cama - primeira saudação;
o desjejum - primeira refeição
A luz, a sombra e a escuridão; a míngua e a profusão; a profissão de toda alma; a doença e a cura; a linha, a vestimenta e a costura
A paz, a guerra, a revolução; a moeda, a bolsa, as finanças e a economia; a fazenda
e a renda; a labuta e a paga
Os cardeais - oeste, leste, sul e norte, não! Mas para se achar com precisão - a bússola!
A desconfiança, a misericórdia e a compaixão; a pintura, a tela, a aquarela; a indignação!
A liberdade, a prisão, a pena a cumprir, a cela, as algemas, a multa e a culpa; a justiça, a espada e a balança, a constituição,
a lei e a grei - todas mulheres são!
A sabedoria e a roda - primeira
invenção humana!
A rua, a estrada, as avenidas, a via láctea
e as estrelas - únicas a brilhar na imensidão
Os números, impávidos de seu valor, quedam atávicos, perdem o destemor
Ao se darem conta que nada são sem a soma, a subtração, a multiplicação e a divisão
E mesmo os verbos, tão machos, sem
a benfazeja ação nada seriam!
E toda coisa que a mente inventa,
certamente é feminina!
A cidade e todo tipo de localidade,
ainda que masculina
E para mais demonstrar esta realidade,
mesmo Deus, que com "o" se escreve, na profunda sabedoria de sua verdade, para também ser mulher, fez-se Trindade!