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A angustiante espera do BNB

11:25 | 14/04/2019

O maior incômodo dos meios influentes do Ceará quanto à forma como o Banco do Nordeste (BNB) tem sido tratado no governo Bolsonaro, desde a época da transição, ainda, é com a indiferença. Inexiste manifestação pública registrável de alguém mais próximo ao presidente ou ao seu poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, que indique, pelo menos, que eles conheçam da instituição. Talvez, na concepção distante de quem presta menos atenção com o que acontece nestas bandas do Brasil varonil, somente mais uma sigla dentro de uma lista que permanece à espera de definição sobre o futuro, mas, para nós, a diferença fundamental entre dispor ou não de uma política de crédito que tem sido vital à atividade econômica de uma região cheia de peculiaridades. Com suas riquezas as e fraquezas.

Faz todo sentido, diante de tanto silêncio, que às vezes soa como descaso, que a estratégia acertada pelas forças políticas articuladas em defesa do BNB envolva uma ação que buscará compromisso concreto de gente do novo governo com o futuro e a própria sobrevivência da instituição. Assim é que o ministro da Casa Civil, Ônix Lorenzoni, será instado por parlamentares que representam Assembleias Legislativas de toda a região a colocar seu autógrafo em documento que lhe será apresentado na terça-feira, em audiência previamente acertada, para assumir compromisso que seja possível provar mais adiante, se necessário, com a manutenção do banco. A história do preto no branco, na linha da desconfiança mesmo.

Está tudo funcionando no BNB, nenhuma agência deixou de abrir e atender ao público todos os dias desde quando o novo governo começou, mantém-se o mesmo ritmo frenético de sempre na sede administrativa baseada no Passaré, aqui em Fortaleza, mas o incômodo é generalizado e compreensível. Não se consegue fazer um planejamento estratégico, demonstra-se impossível pensar qualquer ação de médio ou longo prazo enquanto não aparecer uma coordenada clara com cheiro de Brasília acerca da nova mentalidade implantada. Afinal, é de um governo novo e sem referências anteriores de que se fala.

Ouvir do ministro Paulo Guedes que o BNB será mantido, como alguns dizem ter acontecido algumas vezes, acalma a alma sem espantar os medos. Até porque, nos mesmos relatos feitos por parlamentares cearenses que chegaram próximo ao todo poderoso da economia e tiveram a chance de inquiri-lo acerca do tema, incluem-se justificativas muito pouco tranquilizadoras. "Os 151 deputados nordestinos viriam pra cima do governo", teria argumentado Guedes outro dia ao ser perguntado sobre a possibilidade de extinção do banco e negá-la. Ou seja, convicção zero de que manter é importante pelo papel fundamental que cumpre de animação da economia nordestina e, por isso, nacional.

Lamente-se que assim seja porque uma chance extraordinária já está sendo perdida de montar no banco, finalmente, uma equipe diretiva livre de conchavos políticos que direcionam a distribuição de cargos entre partidos e estados. Lembremos como era recentemente, com FHC, Lula, Dilma ou Temer, para ficar apenas nas histórias mais recentes que se pode contar: era uma diretoria destinada ao PMDB da Paraíba, outra que cabia ao PT do Piauí preencher, ou a do PSDB daqui e dali, ou a do DEM, a outra que competia ao grupo Sarney indicar, por ai segue, num loteamento vergonhoso e que deu o tom do processo durante anos. O que ajuda a explicar muitos dos escândalos, erros e desvios nos quais o BNB, ao contrário de como normalmente acontece, precisa aparecer, sempre, como vítima.

Bolsonaro, como maior feito dos seus primeiros dias de governo, está conseguindo manter distância desses acordos políticos e partidários na formação de suas equipes, errando (mais) e acertando nas escolhas. Uma festa para a qual o BNB, infelizmente, até agora não foi chamado.

FALA MUITO. E POUCO

Toque internacional neste espaço tão orgulhosamente tupiniquim: Andrés Manoel Lopes Obrador, presidente do México, começa o expediente de todos os dias úteis com longa entrevista coletiva de pauta aberta. Enquanto isso, cá no Brasil, Jair Bolsonaro completa 104 dias sem ter aberto o Palácio do Planalto uma só vez para conversar com jornalistas, excluídos aqueles momentos de bate-queixo na chegada ou saída de algum evento.

NO CENTRO (E AO LADO) DO PODER

É bem interessante a movimentação do jovem deputado federal Domingos Neto (PSD), trocando cotoveladas políticas para garantir seu espaço no novo ambiente de influências que se constrói em Brasília com a chegada de muita gente nova ao poder. Já no terceiro mandato, portanto, com ares de veterano no Congresso, o representante cearense mantém agenda sempre próxima do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Um bom faro.

UM ASSUNTO MUNICIPAL

Reforma da Previdência também é assunto de vereador. Como demonstrará Iraguassu Filho, do PDT, com audiência que conseguiu organizar para amanhã na Câmara de Fortaleza, da qual participará, dentre outros, o deputado federal Mauro Benevides Filho, nome que o partido de ambos escalou como principal porta-voz do assunto. Até porque, os pedetistas dizem ter uma proposta alternativa e tentam apresentá-la ao debate.

UMA COISA É UMA COISA

Bem ruim a reação do governador Camilo Santana (PT) ao relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura que apontou problemas graves atualmente nos presídios cearenses. No que está sugerido ali não se encontra a ideia, rebatida pelo petista, de que o Estado deveria oferecer "tratamento VIP" aos presos, mas, apenas, que deveria resguardar melhor o direito que eles têm à dignidade. Coisa que no íntimo, certamente, Camilo apoia.

Da tribuna à redes

"Nenhum deputado é melhor que outro... Não tenho medo dos seus arroubos. O senhor vem aqui, dá presença e vai embora"

Osmar Baquit (PDT), sexto mandato como deputado estadual, dirigindo-se ao colega André Fernandes, do PSL, que está na primeira experiência parlamentar

e que teve 109 mil votos em 2018

"Sou o deputado mais novo do Brasil, mas esses macacos velhos da política não me impõe medo nem respeito"

André Fernandes, 22 anos, indo ao twitter para continuar o debate iniciado em plenário com Osmar Baquit. A desenvoltura nas redes sociais, aliás, é muito responsável pelo seu sucesso eleitoral.

 

Guálter George