PUBLICIDADE

QUANDO HÁ NOMES, HÁ POLÍTICA

02:Mar | 24/03/2019
Coluna Gualter
Coluna Gualter

Ouvi de alguns que o governador Camilo Santana marcou um "gol político" com seu discurso na inauguração de unidade do Minha Casa Minha Vida em Fortaleza, na quarta-feira, com fartos agradecimentos ao presidente Jair Bolsonaro pelo apoio que tem garantido ao Ceará desde quando passou a morar no Palácio do Alvorada e dar experiente no Palácio do Planalto. Reconheça-se que o evento político (o discurso, no caso) não teve qualquer reprimenda pública de correligionário dele no PT, nem mesmo daqueles que abrigam-se em alas identificadas como radicais. Um sinal claro de que foi compreendido e absorvido, o que não é fácil tratando-se do partido em questão.

Um ponto a discutir, já que de crise interna petista não se pode falar, é se foi um discurso inteligente e necessário. Primeiro, pela questão da oportunidade, destacando-se que foi durante a entrega de 1.248 unidades de um programa de habitação popular criado em governos do PT e de um projeto específico de execução, decidido que era preciso nominar o agradecimento, muito mais atribuível à gestão Michel Temer, solenemente ignorada naquele gesto nobre do governante cearense. O ministro Gustavo Canuto, a quem foi incumbida a tarefa de levar o sensibilizado "muito obrigado" de Camilo, não era, de verdade, responsável por nenhum dos tijolos colocados naquela obra. Repito, já que se decidiu nominar as coisas.

Outro aspecto a debater é quanto ao conteúdo concreto do tal discurso de gratidão com o presidente Bolsonaro. Costumo ver com bons olhos o entendimento entre adversários na política quando o bem comum está em jogo, como aconteceu, por exemplo, nos dramáticos primeiros dias de 2019 e da segunda gestão Camilo, ocasião em que o governo federal ofereceu pronto atendimento às solicitações por ajuda no combate às ações desafiadores do crime organizado.

Camilo acertou ao pedir apoio, Bolsonaro foi correto ao garanti-lo, mas, na verdade, um e outro estava cumprindo o seu papel. O fato de um ser do PT e outro do PSL deve ser compreendido como apenas um detalhe dentro de um quadro em que nos consideramos uma democracia, na qual a convivência entre contrários é regra básica. Inclusive, como é o caso, exercendo instâncias diferentes de poder, embora ambos com foco no interesse comum, não se dando a quem administra um estado ou o País o direito de agir com foco apenas nos seus aliados.

Ou seja, o governador do Ceará teria aproveitado melhor a ocasião se ressaltasse o aspecto em que a institucionalidade há prevalecido, a despeito do cenário confuso que nos rodeia. Ele tem feito sua parte, o presidente da República a dele, e nós, cidadãos cearenses e brasileiros, agradecemos que assim seja. Mais do que isso, e o discurso acabou indo além e personalizando em demasia os feitos, é política.

UMA COISA É UMA COISA

O País mobilizou-se em várias cidades, há uma semana, por uma pauta antipolítica em grande parte dos seus objetivos. Coisas do tipo "fechar o STF", "intervenção militar no Judiciário", "afastamento sumário dos ministros" e divagações que valham, misturando-se a uma defesa até compreensível da operação Lava Jato. Ruim, de verdade, é o endosso por parlamentares detentores de mandatos de agendas afrontosas à institucionalidade.

OUTRA COISA É OUTRA COISA

Em Fortaleza, lá estavam o senador Luis Eduardo Girão (Podemos), os deputados federais Capitão Wagner (Pros) e Heitor Freire (PSL) e o deputado estadual André Fernandes (PSL). Presenças justificadas de diversas formas, todas vagas, com argumentos tipo "quero investigação", "defendo transparência", "STF não representa a sociedade", sem esforço de demarcar distância com as pautas que ampliam a instabilidade política.

POR ENQUANTO, UM NOME

Homenageado na quinta-feira pela Fiec com a medalha do Mérito Industrial, o secretário da Casa Civil do governo Camilo, Élcio Batista, vai ampliando simpatias ao seu nome no setor produtivo como potencial candidato à prefeitura de Fortaleza em 2020. A caminho do fim do mandato e sem percalços aparentes para fazer de Ricardo Cavalcante seu sucessor, o presidente da Federação, Beto Studart, já manifestou simpatia à ideia de público.

BATEU, LEVOU, BATEU..

Chega a ser engraçada a estratégia do ex-governador, ex-ministro, ex-deputado (...) Ciro Gomes no seu esforço de brigar a qualquer custo com o PT. Em muitos momentos correspondido pela cúpula petista, diga-se de passagem. Primeiro ele bate com força, fora das regras, para, depois, rebatido no mesmo nível, alegar que apanha porque está identificado como alguém capaz de tirar o espaço do partido no campo da esquerda.

TIRA, MAS NÃO BOTA

A eleição de 2018 talvez tenha demonstrado que se a estratégia é boa para tirar votos do PT, não parece suficiente para transferi-los para Ciro. Vozes ouvidas no ambiente nacional petista dizem, até hoje, que o político cerense apresentava todas as condições de ter sido candidato à presidência ano passado já com apoio do PT. O seu distanciamento repentino da pauta de defesa de Lula, porém, inviabilizou o plano.

CARGOS E GOVERNO

A pouca importância real dos cargos oferecidos deve ter mesmo pesado para a decisão da maioria da bancada cearense, na parte que apoia o governo Bolsonaro, de abrir mão da indicação de nomes para ocupá-los. Porém, também há influência direta do clima de desarticulação absoluta que pesa no Congresso, agravado, na semana, pela guerra aberta com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

TAGS